Tuesday, 17 November 2015

Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha

Eis a curiosa história da Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha,  à Junqueira, contada pelo insigne olisipógrafo Norberto de Araújo nas suas Peregrinações em Lisboa:

Finalmente chegámos, Dilecto, ao Palácio de Lázaro Leitão Aranha — actual Palacete dos Viscondes de Marco, n.°ˢ 190 a 196 [198] da Rua, a mais preciosa jóia arquitectónica, em seu exterior e interiores, de toda a Junqueira.

Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha, fachada principal [1924]
Rua da Junqueira, 190-198
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

   No começo do século XVIII estes terrenos, como todos da Junqueira, eram dos Saldanhas, que neste local fizeram uma casa de rendimento que alugaram a um francês Pedro Baraduc, não descuidoso em a acrescentar.
Ao Principal da Igreja Patriarcal, lente da Universidade de Coimbra, pessoa de bons haveres — Lázaro Leitão Aranha -—, e que regressava da sua Embaixada a Roma (1718), o sítio, mais do que a Casa, não deixou de seduzir. Concertou-se com o proprietário directo, adquiriu o direito ao Baraduc (1729), indemnizou como entendeu a viúva do francês (1734) e começou o seu palácio, do risco de Carlos Mardel, concluído pouco depois, e acrescentado de boa capela em 1740, instituindo então com ela um Morgadio. (...)

Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha, fachada principal norte [1924]
Rua da Junqueira, 190-198
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

   Durante vários períodos habitaram a Casa Nobre de Lázaro Leitão algumas personalidades importantes, entre elas o Cardeal D. Cosme da Cunha — aquele que devia tudo ao Marquês de Pombal, e depois o renegou — , o Infante D. João da Bemposta, o Ministro da França, Luiz de Beaumond. (...)

Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha, parte da fachada principal [1924]
Rua da Junqueira, 190-198
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

    Agora — uma historieta romântica.
   Deste Palácio — que então assim se podia classificar — foi raptada pelo Dr. João Francisco de Oliveira, médico da Real Câmara, na noite de 27 de Maio de 1803, uma linda senhorinha, D. Eugénia José de Menezes, filha do 1.* Conde de Cavaleiros, neta do 5.° Marquês de Marialva, dama da Princesa Regente, e que meses depois deu à luz uma menina.
O raptor foi sentenciado à forca mas logrou fugir para a América, de onde só voltou vinte anos depois — para ser Ministro dos Negócios Estrangeiros. Mãe e filha entraram num Convento, havendo mais tarde D. Eugénia sido perdoada, c reabilitada a menina, que veio a casar com W. Smith, cônsul de Inglaterra, que passava por ser filho natural do Rei Guilherme IV.
O interesse escandaloso — a coincidência — desta história está em supor-se, quási sem receio de erro, que a aventura do médico da Real Câmara foi um serviço por ele prestado ao Príncipe D. João, de quem era intimo, príncipe que teria sido o verdadeiro sedutor de D. Eugénia José. 
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 58-60, 1939)

Casa Nobre de Lázaro Leitão Aranha, fachada sul: corpo da capela [1924]
Rua da Junqueira, 190-198
Fotógrafo não 
identificado, in Lisboa de Antigamente

5 comments:

  1. Neste Palácio passou a funcionar, noa anos 80, a Universidade Lusíada

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  2. Muito interessante. Obrigado por difundir este pequeno mas significativo texto.

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  3. Muito bom, desconhecia toda a origem da casa muito embora a tenha visto durante toda a minha infância em Lisboa.

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  4. Existe em Lisboa a Travessa do recolhimento de Lázaro Leitão.

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