No lugar onde hoje existe este cemitério, foi a antiga casa de saúde (lazareto) que se estabeleceu nas terras da Quinta dos Prazeres em 1599, no ano chamado da peste grande. Havia aqui uma fonte, sobre a qual apareceu uma imagem da Virgem (pelo que se chamou Fonte Santa, e á imagem Nossa Senhora dos Prazeres).
Fez-se-lhe uma ermida dentro do cemitério [em 1860 foi substituída por uma capela].
Os paroquianos de Santos prometeram uma procissão annual a Nossa Senhora se desaparecesse o flagelo da peste; e como foram ouvidos, têm até hoje cumprido o seu voto. [vd, Feira das Amoreiras]
Temos à vista o Cemitério dos Prazeres — observa Norberto de Araújo. Os cemitérios, em algumas cidades da Europa, são verdadeiros campos santos de arte, ou parques floridos; neles em verdade não se sente a morte, mas a vida, até pelos horizontes que deles se desfruta. O Cemitério dos Prazeres, já limitado, é, com efeito, um recinto fechado onde se topa alguma cousa de arte, que não é apenas a dos canteiros lavrantes, mas que não consente atribuir-se ao Cemitério a classificação de recinto de Museu.
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Cemitério dos Prazeres que foi «Cemiterio Occidental de Lisboa» |1939| Perpectiva tomada do Largo de Alcântara (Ruas. Maria Pia e Prior do Crato). Os primeiros enterramentos socorreram em 1590 junto à primitiva ermida dedicada a Nossa Senhora dos Prazeres, resultantes de uma epidemia de peste. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Este Cemitério, construído, como te disse, em 1833, embora só organizado formalmente em 1835, é contemporâneo do do Alto de S. João. Tem 82 ruas que preenchem 1.100 hectares.O portão da entrada foi traça do arquitecto Domingos Parente da Silva.
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Cemitério dos Prazeres que foi «Cemiterio Occidental de Lisboa» |séc. XIX| Entrada vista da Praça São João Bosco. O pórtico monumental, em estilo neo-clássico, com colunas que sustentam frontões triangulares de mármore e portões de ferro fundido é da autoria de Domingos Parente [da Silva]. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
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Cemitério dos Prazeres que foi «Cemiterio Occidental de Lisboa» |c. 1900| Entrada vista da Alameda Central — que se estende até à capela do lugar — para Praça São João Bosco. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Entre os monumentos funerários cumpre-me apontar-te o de Oliveira Martins arquitectura de José Teixeira Lopes, no qual se admira a formosa figura «A História», do escultor António Teixeira Lopes; merecem-nos também referência o jazigo dos Bombeiros Municipais, por Simões de Almeida, tio, o dos Duques de Palmela, por Cinatt, com escultura de Calmels, o do Conde das Antas, também de Cinatti, o do Marquês de Valflor, o de Carvalho Monteiro, o de Guilherme Cossoul, além de muitos outros mausoléus destacados, ou simples colunas funerárias, que quebram a monotonia das alamedas .
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Cemitério dos Prazeres que foi «Cemiterio Occidental de Lisboa» |195-| Mausoléu dos marqueses de Valle Flor, no cemitério dos Prazeres. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
A Quinta dos Prazeres foi mais tarde dividida — recorda o ilustre Norberto de Araújo — e na parte que pertencia ao Conde de Lumiares, descendente dos Condes da Ilha, e que incluía a ermida e uma casa nobre, é que se construiu o Cemitério.Eis-nos diante da «Taberna do João da Ermida». É o resto material da Ermida da Quinta dos Prazeres, que, quando se construiu o Cemitério, algum tempo serviu, ou se destinou para servir, a actos fúnebres. (A Capela do Cemitério data de 1869).
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Cemitério dos Prazeres que foi «Cemiterio Occidental de Lisboa» |1866| Perpectiva tomada da Praça do Príncipe Real. Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
PINHO LEA, (Augusto) Portugal Antigo e Moderno, vol. 4,p- 200, 1874.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa», vol. XI, p. 60, 1939.
Gostei do relato , muito interessante.
ReplyDeleteQue preciosidade!!
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