O Palácio dos Azevedos Coutinhos, ocupa uma área contida entre a Rua de Santo Estêvão, o Largo do mesmo nome (escadinhas de curiosa perspectiva), e o Largo do Chanceler, e assenta em parte sobre o Arco do Chanceler.
Não sei em Lisboa de cousa assim — diz-nos o ilustre Norberto de Araújo — como
esta Alfama se multiplica de aspectos raros, em mistérios de germe
urbanista, de imprevistos e de quadros locais que nunca se assemelham,
mas de que nossos olhos se vão fatigando, acabamos, em saturação, por
não fixar um apontamento. Fica-se entontecido. Não será assim, Dilecto?
O
enquadramento é gracioso, seja qual for o conceito que nós possamos ter
de beleza nestes quadrinhos bairristas, onde — e é o caso neste sítio —
o pitoresco, o religioso, o fidalgo se dão mãos, para que Alfama se
represente nos três Estados.
O Palácio de Santo Estêvão, dos Azevedos Coutinhos é uma fundação seiscentista, de tipo nobre, modesto; envolto num pitoresco de cenário , único em Lisboa, e, a despeito da sua mediania arquitectónica, pode ser considerado um espécime curioso da cidade, como tal, merecedor de relevo nesta nota histórica.
Ainda no século XVII uma grande parte dos terrenos que rodeiam a
primitiva igreja de Santo Estêvão era do domínio directo do priorado ou
da irmandade da paróquia. No local onde se levantou o solar existiam na
primeira metade do seiscentos umas atafonas e depois umas casas — o
núcleo primitivo do solar — «por trás da capela-mor sobre o Arco», casas
que pertenciam a um Domingos Preto, descendente, talvez filho, de
«Simão Gonçalves Preto, chanceler-mor que foi destes reinos», segundo
atestava em 1695 o cura de Santo Estêvão, Padre Cristóvão Prestes da
Silveira, num documento traslado que lhe foi requerido, e no qual há
referência a casas no local em 1647, o que não significa que não as
houvesse antes, pois um documento existente no arquivo da Câmara
Municipal demonstra que, em 1688, aquelas casas passaram a um Tomé de
Mesquita. De admitir é que tivesse sido o chanceler Simão Gonçalves
Preto o fundador da casa, e duvida parece já não subsistir de que fosse
dele que derivou a denominação do «Arco do Chanceler».
O
palácio, propriamente dito, recebeu dano pelo Terramoto, pois se vê que
uma parte do edifício é de reconstrução posterior ao núcleo primitivo,
este representado pela frontaria, pelo ângulo do terraço e por parte da
face sobre a estreita Rua de Santo Estêvão. Data, pois, de 1847 o
senhorio dos Azevedos Coutinhos no solar e casas de Santo Estêvão.
Entre
1847 e 1867, período
durante o qual a propriedade foi administrada por João António de
Azevedo Coutinho, este fez «Obras reais» na casa, acrescentando-lhe em
parte dois andares modestos, conservando o semblante seiscentista da
fachada amesquinhada na estreita serventia denominada ali Largo do Santo
Estêvão, mas desfigurando as salas, pela cobertura com estuque dos
tectos apainelados, e pela supressão de bons panos de azulejo que
revestiam as paredes em silhares.
Em 1911 lavrou incêndio na ala
Sul do palácio, sobre a Rua de Santo Estêvão; as obras de restauro não
lograram repor o interior dessa ala no seu aspecto primitivo.
Palácio dos Azevedo Coutinho [1939]
Arco do Chanceler, vista tomada do Largo de
Santo Estêvão
Eduardo Portugal, in LdA
Palácio dos Azevedo Coutinho [195-]
Arco do Chanceler, vista tomada o Largo de
Arco do Chanceler, vista tomada o Largo de
Santo Estêvão
Almeida Fernandes, in LdAL
O Arco do Chanceler, sob o Palácio ao qual dá passadiço, é de volta abatida. À direita abre-se o portal do velho solar servido
por um átrio interior, do qual a escadaria de dois lanços se
desenvolve, amparado a um corrimão, em balaustrada de mármore branco,
transpirando de tudo um ar discreto, repousado, setecentista, só
igualado em espírito no palácio dos Condes dos Arcos.
______________________________________________________Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp. 90-91, 1939.
id, Inventário de Lisboa, 1955.
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