Wednesday, 21 September 2016

Paços do Concelho: a Casa da Câmara

Na noite de 19 para 20 de Novembro de 1863 rebentou um terrível incêndio, que durou oito dias dos maiores que Lisboa tem visto — e reduziu tudo a cinzas. Passavam cento e oito anos menos vinte dias sobre o Terramoto.


Entre 1770 e 1774 construiu-se nesta Praça, que a reedificação da Cidade tornou possível, um edifício para a Câmara Municipal, que se estendia até à Rua do Ouro e Terreiro do Paço. A Câmara ocupava apenas uma parte do «seu» Palácio — pois para a Câmara fora destinado —, havendo-se instalado no edifício a Junta do Crédito Público, o Banco de Lisboa (1822), convertido em Banco de Portugal em 1846, a administração do Contrato do Tabaco, a Companhia das Lezirias, a Companhia Fidelidade, etc. Também parte do edifício (de 1795 a 1807) serviu de habitação a D. Maria I, e à família real, após o incêndio do Paço (Velho) da Ajuda. Na noite de 19 para 20 de Novembro de 1863 rebentou um terrível incêndio, que durou oito dias — dos maiores que Lisboa tem visto-e reduziu tudo a cinzas. Passavam cento e oito anos menos vinte dias sobre o Terramoto.

Paços do Concelho [ant. 1863]
Praça do Município; no segundo plano o Arco da Rua Augusta em construção, faltando ainda o coroamento das colunas só concluído em 1875; no último plano a Sé de Lisboa.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Logo o Senado da Câmara pensou em reedificar a sua Casa, mas desta vez independente do Terreiro do Paço. O arquitecto Domingos Parente da Silva foi encarregado do risco, e as obras começaram em 29 de Outubro de 1866, só se concluindo em 1875. Alterado várias vezes no plano inicial, o edifício da Câmara de Lisboa é este que aqui se ostenta na Praça do Município.
O edifício dos Paços do Concelho de Lisboa — é nobre. A grandeza relativa equilibra-se com a pureza e harmonia das linhas severas e delicadas a um tempo.

Paços do Concelho [c. 1875]
Praça do Município

Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente
Paços do Concelho, construção [c. 1875]
Praça do Município.  Note-se a ausência da platibanda no torreão oriental da Praça do Comércio.

FFotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sete pórticos, varanda adiantada sobre as três janelas do corpo central, mais duas janelas de varanda de cada lado, e esse belo frontão triangular, do cinzel de Calmels, com as armas da Cidade e as figuras alegóricas da Liberdade e do Amor da Pátria, frontão que se apoia sobre quatro grupos de duplas colunas monolíticas de ordem compósita — eis a fachada do edifício, que uma platibanda de balaústres coroa ao alto e em redor. (O acrescentamento das mansardas data de 1934).1

Paços do Concelho [Inicio séc. XX]
Praça do Município; Rua do Comércio; Rua do Arsenal

Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente

No interior destaca-se a intervenção do arq.º José Luís Monteiro, sobretudo na escadaria central, bem como a rica decoração pictórica a cargo de vários artistas, dos quais se salientam José Pereira Júnior (Pereira Cão), Columbano e Malhoa, revelando deste modo todo o edifício um conjunto destacado de intervenientes, tanto a nível arquitectónico e construtivo, como decorativo, apresentando uma estética e inovação de grande qualidade. A 7 de Novembro de 1996 um novo incêndio destruiu os pisos superiores, ficando afectados os tectos e pinturas do primeiro andar.2

Paços do Concelho [194-]
Praça do Município; Rua do Comércio; Rua do Arsenal; Terreiro do Paço

António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 15, 1939.
2 cm-lisboa.pt/equipamentos.

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