Forçoso é a quem suba ao Castelo de S. Jorge — escreve Norberto de Araújo — quedar-se diante da Porta de Martini Moniz. Arco de rude aparência, com
seus reduzidos onze palmos, rasgado na grossura da muralha que se
continua do « castelejo» ou fortaleza — aí está o único padrão vivo
do esforço do homem na tomada de Lisboa. As torres, as quadrelas, os
adarves, as portas ogivais do velho «castrum» — falam mas não têm voz;
dizem tudo mas ciciam. A Porta de Martim Moniz é clara como água: «Isto foi assim, e o que eu digo é uma escritura».
Castelo de São Jorge e a Porta de Martim Moniz [s.d.] [séc. XIX/XX] A porta, ao centro, está assinalada por uma seta; à esquerda, a Igreja de Santa Cruz do Castelo. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
As letras de uma legenda esculpida em pedras venerandas têm expressão oral. Não se lê: escuta -se.
Quando a lenda força a história — faz história. Ora esta história diz
que um valente capitão das hostes de Afonso Henriques [1109-1185], acompanhado de outros cavaleiros, assaltou pelo lado
norte, cortado a pique, o castelo sarraceno, e a poder de ombros fez
entreabrir a porta, deixando-se ficar nela entalado para que os
portugueses entrassem. E os mouros o mataram. Eis o que está dizendo
esta legenda, do exterior da porta, do lado que cai sobre as Olarias , Lagares, e Costa do Castelo. No nicho, agora já sem moldura, lá está o busto de Martim Moniz, mutilado pelos vandalismos das
idades.
A inscrição data de 1646, o Arco é reconstituição de quinhentos,
mas a «Porta de Martim Moniz» remonta ao medievalismo português [séc. XIII]. Não há
dúvida: tudo se passou como a lenda e a inscrição rezam. Se se tratasse
de história pura — não existiria aqui poesia alguma. O sítio é
dos mais belos de todo o Castelo de S. Jorge. Foi aqui o chão da
Cidadela, onde assentaram os Paços dos Bispos, os Paços do Mestre de
Aviz, chão que, arrasado, veio a dar a «Praça Nova» do desaparecido
recinto militar, hoje eirado, povoado de sombras.
Martim Moniz! Nobre e esforçado capitão e cavaleiro, que em teu escondido nicho velas há centos de anos pela intangibilidade dos belos contos lendários — e muito tens visto desta Lisboa castelã e cristã depois de os mouros te trespassarem à lançada. Nós te saudamos! ¹
Castelo de São Jorge [1908] Ronda do lado interior da porta de Martim Moniz. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Martim Moniz! Nobre e esforçado capitão e cavaleiro, que em teu escondido nicho velas há centos de anos pela intangibilidade dos belos contos lendários — e muito tens visto desta Lisboa castelã e cristã depois de os mouros te trespassarem à lançada. Nós te saudamos! ¹
A placa de mármore, que se pode ver na imagem abaixo, mandada ali colocar em 1646 por D. João Roiz de Vasconcelos e Sousa, Conde de Castelo Melhor, décimo quarto neto, por varonia, daquele heróico cavaleiro de D. Afonso Henriques, a qual diz:
"El-Rei dõ Afonso Henriques mandou aqui colocar esta estatua e cabeça de pedra em memória da gloriosa morte que dõ Marti Muniz progenitor da família dos Vasconcelos recebeu nesta porta quando atravessando-se nela franqueou aos seus a entrada com que se ganhou aos mouros esta cidade no ano de 1147.
João Roiz de Vasconcelos e Sousa Conde de Castelmelhor seu décimo quarto neto por baronia fes aqui por esta inscrição no ano de 1646." ²
N.B. Os historiadores não podem comprovar a existência real desta personagem em virtude de não haver qualquer documento da época que a ela faça referência, (no entanto, Alfredo Pimenta, na sua obra de 1940, «A façanha de Martim Moniz», refere documentos de 1258 que citam esse feito). Citam-na, no entanto, como figura lendária da história de Portugal. Em sua homenagem, esse acesso ficou conhecido como Porta de Martim Moniz, também foi chamada «do Olival».
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Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, p. 143, 1943.
² idem, Inventário de Lisboa: Monumentos históricos, pp. 21- 22, 1944.
Nice place to stay Within the walls of St. George’s Lisbon Castle,
ReplyDeleteon a very quiet and safe neighbourhood,
KALATHOS HOUSE
http://kalathoshouselisbon.blogspot.pt/
Mas, se o Conde Castelo Melhor era seu 14º neto... estará comprovada a sua existência, certo?
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