Este topónimo remete para a existência do Convento do Carmo no local. A propósito deste Largo refere o olisipógrafo Norberto de Araújo o seguinte:
O Largo, na sua configuração, é bem diverso do que era há cento e oitenta anos [c. 1750], antes da urbanização pombalina, e então mais estreito, mais baixo, em nível, cerca de um metro (o que bem se comprova pelo rebaixamento que faz a Igreja-ruína do Carmo), e também mais nobre, mais senhor de si, mais «Bairro do Marquês» (de Vila Real), «Bairro de Vila Nova» (de Santa Catarina), Bairro do Carmo, alfim — designação que teve no decorrer dos séculos.
Principia por observar este gracioso Chafariz, que não existia ao tempo do Terramoto. O Chafariz do Carmo data de 1796, ou de pouco antes, integrado na obra das Águas Livres, pois recebe água das Amoreiras; se antes existia outro — e é verosímil que assim tivesse sucedido — não to posso assegurar cu, embora Júlio de Castilho o admita e escrito esteja em várias obras. [...]
Largo e Convento do Carmo |1910| Chafariz do Carmo; à esq. vê-se a Igreja da Ordem Terceira do Carmo, a frontaria do quartel da GNR e fachada arruinada da Igreja- Convento do Carmo; destaque para os urinóis públicos, tipo guarita, que por esta época eram obras de arte. Artur Benarus, in Lisboa de Antigamente |
Quanto às origens do Convento do Carmo, adianta o mesmo autor:
Contempla-une exteriormente o Carmo de Nuno Álvares. É a evocação material espiritualizada dos séculos da piedade e do heroísmo; é a única ruína em Lisboa que tem vida, e que nos oferece ainda a visão rasgada de um passado distante, de um mundo diverso do mundo de hoje.
Uma ruína — que não quere morrer.
Quando da batalha de Aljubarrota, Nuno Álvares Pereira fez à Virgem um voto: o de lhe erguer um grandioso templo. Foi isto a 14 de Agosto de 1385. Passados quatro anos Nuno Álvares começou a cumprir aquilo a que se votara [...].
Convento do Carmo |c. 1920| Largo do Carmo Interior das ruínas da igreja vendo-se a fachada sul e, à esq., um arxo, ambos do séc. XIV. Artur Benarus, in Lisboa de Antigamente |
A traça arquitectónica da Igreja — ogival como vês — foi de rasgada concepção, assegurados os arquitectos, à terceira tentativa, da firmeza dos fundamentos. Aqui estão desenhadas as três naves, com seus cinco arcos ogivais, dois dos quais apenas, estes logo a seguir ao pórtico, são primitivos. O templo media 73 metros de comprimento, possuía no corpo das naves, de começo, oito capelas, mas outras havia além do cruzeiro e na abside; era formoso, mas era também opulento. As capelas vestiam-se de jaspe polido, os púlpito , igualmente de jaspe, guarneciam-se de embutidos de prata, e pedras finas; os retábulos eram de boa arte, e havia profusão de pintura, escultura em madeira e em pedra; os vitrais iluminantes, nos óculos, janelas e frestas, ostentavam-se como os mais belos de Lisboa. Depois da morte do fundador, em 1431, o Carmo ogival cada vez mais resplandecia na nobreza augusta que o tempo imprime aos monumentos, e enchia-se de mais riquezas, que a Índia e o Brasil, no século seguinte, começaram a fornecer.Durante muitas dezenas de anos o povo fez do Carmo um motivo de peregrinação em louvor da memória de Fr. Nuno, e — no seu modo ainda medieval — cantava e dançava à roda do túmulo do fundador.
Convento do Carmo |c. 1930| Largo do Carmo Perspectiva nascente vendo-se à esq. o arcobotante e a ponte de acesso ao Elevador de Santa Justa. Artur Benarus, in Lisboa de Antigamente |
Mas veio o dia 1.º de Novembro de 1755. O Carmo ― Convento e Igreja — ruíram estrondosamente. Ficaram apenas de pé a fachada cortada ao alto e dois vãos de arcos que se seguem ao portal de entrada, as capelas absidais e a parte inferior da Capela-Mor.Trataram os frades carmelitas de restaurar a sua Casa — mosteiro e templo. O Convento foi soerguido das ruinas, já sem a beleza antiga; a Igreja, ainda sobre a traça ogival, entrou a ser reconstruída, aliás sob defeituosa orientação, elevando-se então quatro arcos, rasgando-se novos janelões nas extremas das paredes, e enxertando-se pormenores na remendagem arquitectónica primitiva.Mas os tempos eram outros; escasseavam dedicações, o dinheiro não avultava, esmorecera a fé.Em 1834 a Igreja continuava... em obras. Ruínas lamentosas sobre a ruína respeitável de 1755.==
O Convento e as ruínas da Igreja do Carmo vistas do Rossio (Praça de D. Pedro IV |post. 1850| Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VI, pp. 75-84, 1938.
Extremamente interessante
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