A Igreja bairrista de S. Miguel é das mais bonitas de Lisboa, rica de talhas, exemplar quási puro do estilo religioso decorativo de seiscentos, na sumptuária doirada que caracterizava a época.
A paroquial de S. Miguel — recorda-nos o ilustre Norberto de Araújo — existia já nos meados do século XVI (1551, pelo menos), mas devia ser muito mais antiga, pois uns cento e vinte anos depois estava de tal maneira ameaçando ruína que houve de ser reconstruída de alto abaixo, como se igreja nova fosse (1674).
Em alguns escritores aparece como existente já no século XIII, coeva de Santo Estêvão (1295), anterior pois à dc S. João da Praça. Nos seus primeiros ciclos de anos, S. Miguel de Alfama olhava o mar do alto da sua encosta, e não estaria envolta de tanto casario como no tempo da reedificação.
O Terramoto destruiu-a em parte, e o que escapou não oferecia segurança, pelo que se decidiu reedificá-la, sensivelmente como hoje se encontra.
S. Miguel, freguesia bairrista por excelência, apresenta a sua paroquial com relativa imponência, para a modéstia do sítio. Duas torres, uma das quais hoje [1939] apenas é sineira, um alçado central no qual se ostenta num nicho uma escultura de S. Miguel, que não deve ser a primitiva pois o frontispício da velha igreja caiu em 1755; três portas, uma das quais, a principal, se destaca pela altura e guarnição, e ainda três janelas rasgadas no segundo entablamento, compõem o conjunto da frontaria, voltada a Sul.
Igreja de São Miguel, abside [1899] Escadinhas de São Miguel O edifício que se prolonga da Igreja a norte foi desanexado em 1911. Machado & Souza, , in Lisboa de Antigamente |
Vejamos o templo interiormente.
É de uma única nave, com três capelas por banda, uma das quais, a extrema do lado direito, não existe armada, dela se conservando apenas o arco. Estas capelas são: pela direita a de S. Sebastião e logo a de N. Sr.ª das Dores, pois não existe a terceira; pela esquerda, as de Santo António, do Senhor Jesus das Almas, e a que foi do Santíssimo, hoje sem culto.
Nos topos, ao lado do arco da Capela-mor, temos dois altares, o de S. Coração de Jesus, do lado do Evangelho, e o de N. Sr.* da Conceição, da lado da Epístola.
O tecto é de masseira, com pinturas em quinze rectângulos, representando símbolos da Eucaristia.
Toda a Igreja é interiormente revestida de mármores; ricos os altares de talha, não há pedaço de parede que não esteja coberto de quadros, de grossas molduras douradas, mesmo nos intercolúnios, dando assim um conjunto semelhante, posto que menos rico, ao de Santa Catarina, no antigo Convento dos Paulistas.
Estas pinturas, quási todas de Bento Coelho da Silveira — assim anda escrito — têm indiscutível merecimento; representam passos da Bíblia.
Aos lados do arco da capela-mor, sobre os pequenos altares, vêem-se quadros representando os quadros representando os quatro doutores da Igreja, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, S. Jerónimo e S. Gregório, dois de cada lado. Também no coro existem dois quadros de assuntos bíblicos.
O tecto é de masseira, com pinturas em quinze rectângulos, representando símbolos da Eucaristia.
Toda a Igreja é interiormente revestida de mármores; ricos os altares de talha, não há pedaço de parede que não esteja coberto de quadros, de grossas molduras douradas, mesmo nos intercolúnios, dando assim um conjunto semelhante, posto que menos rico, ao de Santa Catarina, no antigo Convento dos Paulistas.
Estas pinturas, quási todas de Bento Coelho da Silveira — assim anda escrito — têm indiscutível merecimento; representam passos da Bíblia.
Aos lados do arco da capela-mor, sobre os pequenos altares, vêem-se quadros representando os quadros representando os quatro doutores da Igreja, Santo Agostinho, Santo Ambrósio, S. Jerónimo e S. Gregório, dois de cada lado. Também no coro existem dois quadros de assuntos bíblicos.
A capela-mor é exuberante de boa talha no altar, no qual, sobre o sacrário, se vê S. Miguel, e, aos lados, S. José e N. Sr.ª da Boa Viagem. O tecto é também de talha rica na qual se abrem cinco medalhões com pinturas [de José Ferreira de Araújo]. As paredes são almofadadas de mármore e o chão é também de pedra nobre. Nas paredes laterais desta capela ostentam-se enormes esculturas que representam os quatro evangelistas. Eis um conjunto que transcende da vulgaridade. [...]
O edifício que se prolonga da Igreja a norte [vd. 2ª imagem] foi desanexado em 1911, e nele estão instaladas a Cantina de S. Miguel e a Junta de Freguesia.
Igreja de São Miguel, fachada lateral [1899] Calçadinha (Beco) de São Miguel Machado & Souza, , in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp. 55--57, 1939.
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