Quanto à origem deste topónimo existem duas versões: a popular e a erudita, às quais acresce uma curiosa e remota tradição popular: a procissão dos coentros. Nos inícios do século XX, Alberto Pimentel, no seu livro A Extremadura Portugueza, a respeito desta zona da cidade, escrevia:
Uma antiga tradição diz, quanto á etimologia de Xabregas, que em tempos muito anteriores a Afonso III havia n'este sitio um lavadouro publico, onde eram frequentes as rixas entre o mulherio. À falta de policia, umas lavadeiras procuravam acomodar as outras, gritando-lhes leixa bregas (deixa brigas), d'onde viria, ou não viria talvez, o nome ao lavadouro e depois à povoação: Enxobregas ou simplesmente Xabregas.E já que estamos em maré de tradições remotas, contarei outra.Às hortas de Xabregas vinha outrora uma original procissão, que no retorno a Lisboa volvia mais original ainda.Era a procissão dos coentros.Os pescadores de Alfama e todos os outros pescadores e embarcadiços da cidade costumavam, na véspera do dia de S. Pedro Gonçalves, trazer o andor d'este seu milagroso patrono até Xabregas, em cujos campos passavam o dia folgando devotamente.Todos os marítimos vestiam para esse efeito as suas melhores roupas e garridamente se ataviavam de louçanias.Mas para voltar à cidade colhiam em Xabregas quantos coentros verdes encontravam, e com eles enramavam a cabeça, a si mesmos e ao santo, e assim engrinaldados reconduziam o andor florido até repo-lo no templo.No século XVI o arcebispo D. Fernando de Menezes proibiu a procissão dos coentros por lhe parecer excessivamente gentílica; mas fez-se um milagre, ou o povo julgou que se fizera, e o prelado teve que levantar a proibição. »(PiIMENTEL, Alberto, A Extremadura Portugueza, vol. II, p. 210, 1908)
Rua de Xabregas [1926] Rua de Xabregas (antiga Rua Direita de Xabregas), Convento de S. Francisco de Xabregas Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Quanto a Xabregas, a fantasia popular
inventou-lhe uma origem em leixa bregas (deixa brigas), expressão que
seria frequentemente usada num lavadouro público, existente no lugar,
quando entre as mulheres surgiam brigas... Também aqui, ainda a
toponímia histórica não deu uma explicação segura. Nos documentos
medievais, aparecem variadas formas: Exevregas, Exabregas, Eyxebregas,
Enxobregas. Como Xabregas fica junto ao Tejo, há quem relacione o nome
com xavega (do ár. xabaka), rede de arrasto. Mas tendo em conta os
diversos vestígios romanos encontrados na zona (marco miliário, lápide,
sarcófago) pode supôr-se a existência de uma povoação chamada Axabrica.==
(CONSIGLIERI, Carlos, RIBEIRO, Filomena, VARGAS, José Manuel, ABEL, Marília, Pelas Freguesias de Lisboa, Lisboa Oriental)
Rua de Xabregas [post. 1902] Bilhete postal da década de 1900, não circulado Edição Costa - BP n°576 |
O Convento de S. Francisco de Xabregas fundado em 1456, sobre as ruínas do antigo Paço de Xabregas,
sob a invocação de Sta. Maria de Jesus, o qual foi entregue aos frades
franciscanos, pelo que ficou mais conhecido por Convento de S. Francisco
de Xabregas. Muito danificado pelo
terramoto de 1755, foi demolido e totalmente reconstruido, ainda, na 2ª
metade do séc. XVIII. A actual igreja, pombalina, apresenta planta
oitavada, torre sineira recuada e fachada principal integralmente
revestida de cantaria, delimitada lateralmente por pilastras lisas e
rematada no topo por frontão com a pedra de armas de D. José. As
dependências conventuais desenvolvem-se para ambos os lados da fachada
da igreja.
Na sequência da extinção das ordens religiosas a igreja foi
profanada e saqueada, assim como o resto do edifício, perdendo-se o seu
valioso recheio. Desde essa data a zona conventual conheceu sucessivas
ocupações, nomeadamente serviu como quartel do exército, fábrica de
tecidos, armazém de tabacos, foi transformada em unidade industrial, até
que acolheu o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP),
desde 1988, enquanto que na antiga igreja barroca se instalou o Teatro
Ibérico, desde 1980.
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