Wednesday 2 March 2016

Rua de Belém

Da fábrica (confeitaria) dos Pastéis de Belém à Farmácia Franco (onde nasceu o Sport Lisboa, mais tarde Sport Lisboa e Benfica)


O olisipógrafo Norberto Araújo caracteriza da seguinte forma este arruamento da antiga Lisboa arrabaldina:
Nesta Rua de Belém [antiga Direita de Belém até 1889] verifica-se o que tantas vezes temos notado: prédios que se encostam, uns sólidos e burgueses, outros pequenos e antigos, em confraria arruada. Nenhum é, porém, deste século, e, por consequência, a linha «modernista» não apareceu ainda por aqui, embora já campeie, ofegante de progresso, pela Boa Hora, Ajuda, e bairro novo do Almargem. 

Rua de Belém [1910]
Fábrica (confeitaria) dos «Pastéis de Belém», 84-86-92 (1º edifício a esq.)
Legenda da foto no arquivo: «Comemorações do centenário de Alexandre Herculano (1810-1877), cortejo a chegar aos Jerónimos»
Joshua Benoliel, in AML

Ora vejamos este prédio grandioso [na 2ª foto], para a sua época, desafogado, que é aquele que se confina entre as Travessas dos Ferreiros e de Marta Pinto, n.° 26. Foi construído entre 1881 e 1884 por Pedro Augusto Franco, Conde do Restelo, que adquiriu uma velhas casas que no local existiam, e que haviam sido, até 1834, as «Mercearias›» de Belém. [...)]
Pois o 1.° Conde de Restelo, Pedro Augusto Franco, adquiriu essas Casas e — «demolindo-as quási inteiramente — «elevou» o seu prédio. Ainda hoje num pátio interior, com serventia pela Farmácia, Franco, sobre um arco antigo, existe uma lápide que reza: «Mercearias da Rainha D. Catarina, que Deus tem, instituída para 20 cavaleiros de África. Em Maio de 1619». A data é da reconstrução da casa, pois a fundadora morreu em 1578.

Rua de Belém [1910]
O piso térreo do 2º edifício à esq. era ocupado pela Farmácia Franco
Legenda da foto no arquivo: «Comemorações do centenário de Alexandre Herculano (1810-1877), cortejo a chegar aos Jerónimos»
Joshua Benoliel, in AML

   
Quanto à Farmácia Franco é dos mais antigos estabelecimentos de toda a Lisboa; foi fundada em 1821 por Inácio José Franco, pai de Pedro Augusto, o construtor do prédio (a farmácia já existia no lugar), avô do 2.° Conde, também Inácio José, bisavô de outro Pedro Augusto Franco, actual proprietário do prédio e farmácia.
Já agora, Dilecto, uma curiosidade: esta Fábrica (confeitaria) dos «Pastéis de Belém», n.° 84 e 86 92, é centenária; foi fundada por Domingos Rafael Alves, depois pertenceu ao filho Mário Benjamim Ramos Alves, que em 1920 a trespassou a uma sociedade. Os «pastéis» vieram à casa por compra do segredo da receita (outorgada em escritura), compra feita em 1879 a um tal José Vicente da Silva Pinto. A escritura não previa — «os plagiatos» da fórmula. [...] ¹ 

Rua de Belém [1916]
No piso térreo do 1º edifício à dir. vê-se a Farmácia Franco; ao fundo, o Mosteiro dos Jerónimos

Legenda da foto no arquivo: «Preparativos para o embarque das tropas que vão combater na Primeira Guerra Mundial»
Joshua Benoliel, in AML




 
Bibliografia
¹  ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 74-75, 1939.

7 comments:

  1. Mário Ferrira7 June 2016 at 14:43

    BOA TARDE, EU NÃO CONHECIA ESTE BLOG,E ESTOU MARAVILHADO COM ELE, ESTÁ DE PARABENS, EM RELAÇÃO A ESTAS FOTOS DA RUA DE BELEM, SE ME PERMITE, ONDE FOI BUSCÁ-LAS? ESPETACULAR.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Não era Farmácia e sim Laboratório de Produtos Farmaceuticos

      Delete
  2. Grato pelo apreço. Quanto às imagens, como refirro nas llegendas, são do AML (Arq. Mun. Lisboa)

    ReplyDelete
  3. Parabéns pelo artigo.
    Pode encontrar mais informação relativa à família Franco e à Gloriosa Farmácia aqui:

    http://serbenfiquista.com/forum/index.php?topic=53816.405

    Caso ainda não conheça.

    Cumprimentos
    VC

    ReplyDelete
  4. Obrigada
    Adoro VER Lisboa Antiga

    ReplyDelete
  5. Been there just 4 days back beautiful place

    ReplyDelete

Web Analytics