— Éh! Galliiiiiiiii...nhas! Quem nas quér i com ôvo?!
Era assim o pregão esganiçado e arrastado, os ii muito agudos e longos, o bastante para se ouvir, e ouvia-se mesmo, como se fosse um apito. E melhor quando as freguesas as esperavam. Claro que não havia então os ruídos que atormentam hoje os moradores de Lisboa.
Quase sempre eram varinas as vendedeiras, trajando como tal. Habituadas ao negócio, conheciam bem a clientela, pois, naquele tempo, só comia galinha quem estava doente ou em dia de festa!...
Galinheira na Rua Rodrigo da Fonseca [1906] Antiga do Abarracamento do Valle Pereiro; à direita, a Rua Barata Salgueiro e, ao fundo, a Rua Alexandre Herculano e o Parque; o prédio com mansarda, no nº 15 da Rodrigo da Fonseca, ainda existe e data de 1883. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
— Éh! Galliiiiiiiii...nhas! Quem nas quér i com ôvo?!
Traziam os animais em canastras armadas em gaiolas com rede de cordel esticada em forma de barraca, e garantiam às freguesas que todas as galinhas eram boas poedeiras!... Muitas pessoas, nesse tempo, criavam ou compravam criação para ter em casa, como reserva alimentar, sucedendo, à falta de espaço dentro da habitação, armarem pequenas gaiolas sobre os telhados, junto às águas-furtadas.
Galinheira na A galinheira trajava camisa de chita, cintada e estampada com flores miúdas; saia de seriguilha azul, com pregas, muito rodada e quase arrastando no chão, tapando as tamancas de cabedal; lenço claro envolvendo todo o rosto e atado sob o queixo; na cabeça, uma minúscula rodilha onde pousa o canastrão onde carregava as galinhas. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
DINIS, Calderon, Tipos e factos da Lisboa do meu tempo: 1970-1974, 1986.
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