Thursday, 28 January 2016

Palácio de Dona Rosa

Ora eis-nos no Largo de D. Rosa [hoje Rua dos Remédios], que deriva o nome desse prédio, também de solar antigo, sob o qual se abre o Arco e sobem as Escadinhas daquela designação. Quem foi essa D. Rosa — custa-me confessar-to — não o sei, e já o soube; [...]»¹


Norberto de Araújo poderá ter-se esquecido quem foi a Dona Rosa que deu nome ao sítio. Cabe-nos, pois, na medida do possível, tentar lançar alguma luz sobre este tema.  
Este prédio setecentista, solar antigo — conhecido por Palácio Dona Rosa — assente sobre uma estrutura pré-pombalina, terá pertencido a Dona Rosa Mello de Castro da Costa Mendonça e Sousa, Morgada do Alcube e de Colares, detentora do ofício hereditário de Porteiro-mor do Reino, senhora de enorme fortuna e «bem conhecida da alta sociedade lisbonense»,² que, além desta Casa em Alfama, era igualmente proprietária do Palácio do Cunhal das Bolas, ao Bairro Alto e o das Portas do Sol (Palácio Azurara) onde estão as Oficinas da Fundação Ricardo Espírito Santo.³

Palácio da Dona Rosa, arco e capela [1899-05-28]
Rua dos Remédios, 139-139A; à esquerda a antiga capela depois taverna; Escadinhas do Arco da Dona Rosa.
De acordo com Norberto de Araújo, «Morta D. Rosa (…) seus herdeiros venderam em 1882 o prédio a Francisco Cândido Máximo de Abreu que dos baixos (incluindo a Capela) fez um armazém de linho».
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente


Um olhar mais atento à fachada exterior do nº 139 da Rua dos Remédios deixa antever que, no séc. XVIII, ostentava notória beleza arquitectónica. Um interessantíssimo exemplar de casa apalaçada urbana sobretudo pela articulação dos dois corpos da fachada (habitação e capela) através do Arco de  Dona Rosa e Escadinhas daquela designação. A cruz e os pináculos que coroavam a fachada foram retirados. Cerca 1880, o púlpito e o tecto de madeira com pinturas em tela foram transferidas para uma igreja em Alhandra, ficando apenas com os painéis de azulejos barrocos das antigas capela (depois taverna) e sacristia. 
E aqui está uma curiosidade da Rua dos Remédios, da Alfama. Esta taverna — recorda o ilustre Norberto de Araújo — está toda revestida de magníficos silhares altos de azulejos, melhor direi: painéis, que ocupam todas as paredes. São historiados, com assunto relativo à Virgem, representando-se num dos painéis — segundo me parece — a Anunciação. O da parede da esquerda é mais curioso numa das suas histórias: num leito está uma parturiente e ao lado algumas donas lavam o menino numa bacia, enquanto outra aquece ou enxuga as roupas numa lareira.
Digno de registo é a circunstância de os azulejos se conservarem em óptimo estado numa taverna! Num aposento interior da casa, antiga sacristia, há também paredes forradas de azulejos «de navio», e, numa reentrância semi-circular, outro painel de óptimo desenho.¹==

Palácio de Dona Rosa, arco  [1945]
Rua dos Remédios, 139-139A; Escadinhas (antiga Calçada) do Arco da Dona Rosa.

Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Do portal principal, flanqueado por dois grandes vãos de janelas gradeadas, acede-se ao pátio que foi nobre, e que, por sua vez, abre sobre um logradouro: o Largo de D. Rosa [hoje integrado na Rua dos Remédios]. Em 1924, o prédio (já desfigurado) foi vendido a outros proprietários, tendo sido transformado num conjunto de habitações. Actualmente decorre uma empreitada de recuperação, restauro e reabilitação do conjunto de edifícios destinados a habitação.

Rua dos Remédios, 139-139A [c. 1900]
Escadas de acesso ao pátio e terreiro do Palácio de Dona Rosa

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X p. 100, 1939.
² CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga, 1901.
³ CASSIANO NEVES, Pedro Mascarenhas, Casas e Palácios de Lisboa: Pedras d'Armas, 2014.

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