Friday, 1 January 2016

Edifício Ramiro Leão

O Chiado teve e tem os seus escritores, artistas e figuras típicas, tal como tem os seus edifícios emblemáticos. O Ramiro Leão é um deles. Distingue-se da diversidade que caracteriza,  anacronicamente,  a unidade deste lugar e do conjunto de armazéns, como o Grandella, o Chiado ou o Eduardo Martins, todos eles com origem anterior ao Ramiro Leão. Durante décadas, esta foi uma das casas comerciais mais cosmopolitas de Lisboa.

Edifício Ramiro Leão |séc. XIX|
Rua Garrett, 83, esquina com o Largo do Chiado, 1-3
Fotógrafo não identificado [P.M.], in Lisboa de Antigamente

Na década de 1880, um jovem comerciante de Lisboa, Ramiro Leão, nascido em 1857 na aldeia de Degracias, no concelho de Gavião, avançou para a fundação de uma grande casa comercial num dos locais mais nobres da cidade. Vindo muito novo para Lisboa, Ramiro Leão cedo se dedicou à actividade comercial, desde que abriu com seu irmão António um primeiro estabelecimento na Rua Nova do Almada

Edifício Ramiro Leão |c. 1910|
Rua Garrett, 83, esquina com o Largo do Chiado, 1-3;  [Rua Paiva de Andrada]
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A passagem para o edifício do Chiado processou-se por duas fases: as primeiras instalações não iam para além de uma loja e 1.º andar, mas depressa a fraternal sociedade se assenhoreou de todo o prédio, após a saída do Hotel Borges, que ocupava dois pisos, e dos demais inquilinos das lojas aí existentes. A abertura e expansão desta casa, no Chiado, trouxe fama e riqueza aos seus proprietários, tendo Ramiro Leão chegado a director da Associação Comercial, mantendo-se como tal durante largo tempo.

Edifício Ramiro Leão |c. 1910|
Rua Paiva de Andrada; Rua Garrett, 83, esquina com o Largo do Chiado, 1-3
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Ramiro Leão, interior da loja |c. 1910|
Rua Paiva de Andrada; Rua Garrett, 83, esquina com o Largo do Chiado, 1-3
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Na parede que envolve a escada, foram executadas pinturas murais da autoria do pintor João Vaz (1859-1931), figurando o Palácio de Queluz, a Boca do Inferno, a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos e a Basílica da Estrela e um vitral ao estilo Arte-Nova figurando motivos vegetalistas e animais; contava também com um elevador ao mesmo estilo e com pinturas a óleo no tecto realizadas por alunos da Escola Afonso Domingues com base em cartões de João Vaz. Em 2001, estas pinturas foram retiradas e doadas ao Museu da Cidade em Lisboa

Edifício Ramiro Leão, incêndio  [1927]
Rua Garrett, 83, esquina com o Largo do Chiado, 1-3;  Rua Paiva de Andrada
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Em 1927, após o incêndio que vitimou parcialmente o imóvel, foi realizado um projecto de recuperação pelo arqº Norte Júnior, que também trabalhou noutras obras nesta área. A intervenção do arqº no Ramiro Leão consistiu essencialmente na construção de uma mansarda em substituição do sótão que ardeu. Numa altura em que estas decorriam, foi proposta a construção do torreão de gaveto, ainda durante o ano de 1927. Este torreão foi concebido totalmente em cimento armado, sendo a parte superior montada directamente sobre o cunhal.  Em 2001, instalou-se no prédio a «Loja United Colors of Benetton».
(Cadernos do Arquivo Municipal, Nº4, 2000, Arquitecturas de esquina em Lisboa, Jorge Mangorrinha)

Edifício Ramiro Leão |c. 1950|
 Torreão NO. construido em 1927 sob a orientação do arqº Norte Júnior
Rua Garrett, 83, esquina com o Largo do Chiado, 1-3
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

6 comments:

  1. Saudades desta casa... pertença da minha família paterna e onde passei bons momentos.
    Um grande Bem-Haja pela expressão e testemunho sobre a história de Uma Casa.

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  2. No Rio de janeiro morou e morreu um neto do Ramiro Leão, era uma figura...

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  3. Que será feito do elevador,?

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    1. Está lá, em exposição. Ainda neste domingo entrei nele, é maravilhoso :) É só subir ao 4 andar na loja Benetton

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  4. Obrigada por este artigo.

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