Não tem o bairro da Mouraria — de tão ressonante nome — o fundo sólido lisboeta do de Alfama. Não é, porém, menos característico, embora o seu pitoresco se concentre apenas em três ou quatro artérias buliçosas. Começou a povoar-se logo depois da tomada de Lisboa em 1147, quando D. Afonso Henriques para aqui atirou os mouros «forros», que ocuparam as encostas das Olarias e dos Lagares, as abas
do Castelo, pelo lado N., descendo até ao vale, que é a Praça do Martim Moniz de hoje.
Ora, aproximando-nos do cabo da jornada, entremos no Largo Silva e Albuquerque [hoje Praça do Martim Moniz] Ponde avulta a face poente do casarão Alegrete — condenado à demolição, e muito bem. Ali, na parte que abre para a Rua da Palma — recorda o ilustre Norberto de Araújo — existiu até há dois anos [c. 1936] uma estreita serventia rasgada pela demolição já iniciada neste sítio, em obediência ao plano urbanista municipal.
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Largo Silva e Albuquerque que foi Rua dos Canos |c. 1900| Aguadeiro junto ao Palácio do Marquês de Alegrete. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
O sítio é feio, desagradável, sem pitoresco, ainda que com signıficação bairrista, nos seus cafés de tipo antigo, botequins e tavernas de peixe frito, durante o século passado de fama equívoca.O dístico foi substituído, em 1885, por este actual de Silva e Albuquerque, em memória de José Maria da Silva e Albuquerque, operário muito culto, um apóstolo da instrução primária gratuita, falecido em 1879.
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Largo Silva e Albuquerque que foi Rua dos Canos |1938-10-12| Palácio do Marquês de Alegrete, portal sul-poente. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
O Palácio dos Marqueses de Alegrete foi
construído pelos condes de Vilar-Maior, no século XVII, sobre um lanço
da muralha (da cerca de D. Fernando) e sobre a porta da Mouraria.
Depois, elevado o conde de Vilar-Maior ao título de Marquez de Alegrete,
se ficou chamando á porta da Mouraria — Arco do Marquez de Alegrete,
nome que ainda conserva, e dando-se também o de «Rua do Arco do Marquez de Alegrete, à que d'esta porta vae ao Largo do Poço do Borratem».
(in Portugal antigo e moderno, 1873)
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Largo Silva e Albuquerque com a Rua da Palma em fundo |1946| Palácio do Marquês de Alegrete (demolições) Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol XV, pp. 221, 1936.ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. III, pp. 78-79, 1938.
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