Saturday 9 January 2016

A costureira lisboeta

É um bando garrulo à tardinha, à saída dos «ateliers». À costureira lisboeta já não falta o garbo e já e lá não é um tipo. Antigamente com o seu xailesinho, a sua mantilha, a cestinha, o passinho miúdo, com a mãe velhota atrás, olho para a direita, olho para a esquerda, não fosse algum janota na peugada, a costureira era inconfundível.

Rua Garrett [1912]
À hora da entrada 
Joshua Benoliel, in AML

Descendo o Chiado, subindo a rua do Ouro a caminho dos seus lares pobres, nos dias de trabalho é ainda mais fácil distingui-la, mas aos domingos, com as suas galas. incorpora-se na multidão das lindas e bem vestidas lisboetas.

Rua Garrett [1912]
Aprendizas
Joshua Benoliel, in AML

Também bem o merece. A sua vida durante a semana, das oito da manhã às oito da noite, com o intervalo d'uma hora para comer o lunch; a sua atenção fixa ao trabalho, o seu devaneio de mulher a não poder seguir enquanto não der a tarefa pronta, a graça, a delicadeza a usar com as freguesas na casa das provas, tudo isso são méritos que os domingos mal pagam.

Rua Garrett [1912]
A aprendiza que a mãe leva ao atelier
Joshua Benoliel, in Ilustração Portuguesa

É necessário saber sorrir à mulher que chega para provar o seu vestido, prendê-la à casa, ou antes, aos seus dedos, ligá-la por uma simpatia, mesmo que no fundo da sua alma haja um abatimento na hora em que tem de fazer o seu trabalho.

Rua Garrett [1912]
Galantes costureiras
Joshua Benoliel, in AML

A vida para elas é uma coisa pratica, é um decorrer de dias em que se tornaria necessário ganhar dinheiro e ir-se aperfeiçoando na sua arte até ao momento de se estabelecer ou de ocupar n'um grande atelier uma situação desafogada, ser mais a artista do que a operária, como essas francesas que desde a Levaillant á Aline encheram Lisboa com a sua fama.¹
Com o vai longe o tempo da costureira e do pintassilgo morto dos românticos!»²

Rua Garrett [1912]
Fim da tarde. Elas saem. O caixeiro fica para fechar a loja

Joshua Benoliel, in AML

¹ Ilustração Portuguesa, N.º 338, 12 Ago. 1912.
²A Costureira e o Pintasilgo Morto (Tradução de Alexandre Herculano de um poema de Lamartine).

4 comments:

  1. As fotografias são lindíssimas!

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  2. Mágico sem turistas e confusão. Harmonia e muita elegância.

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  3. Linda Lisboa de ...outras eras e ÉPOCAS-lindas as mulheres e o passo malandro dos homens.

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