Friday, 20 June 2025

Rua de Dom Vasco

Este topónimo já aparece — como "Calçada" — nalgumas cartas topográficas, em 1892, e em antigos escritos a propósito do combate aos incêndios citadinos, em que os sinos das igrejas indicavam, pelo número de badaladas, a freguesia do incêndio, e que aqui transcrevemos: «No ano de 1862, davam-se 33 badaladas na igreja da Boa Hora, em Ajuda, com o posto da guarda na Calçada de Dom Vasco».
(CRUZ (Francisco Inácio dos Santos).— memoria sobre os differentes meios de atalhar os incêndios..., 1850)

A carreira nº 18 — Praça do Comércio-Ajuda — foi inaugurada em 1927.
Perspectiva tomada da Tv. da Boa Hora à Ajuda.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B.  Dom Vasco Manuel de Figueiredo Cabral da Câmara) (1766-1830). Em 1805 recebeu o título de conde de Belmonte. Foi porteiro-mor da Casa Real, Fidalgo da Casa Real, morgado de Ota, de Belmonte e de Santo André, pertenceu ao conselho de D. João VI, foi gentil-homem da sua câmara, presidente da Junta da Administração do Tabaco e deputado da Junta dos Três Estados do Reino.

Sunday, 15 June 2025

Santo Estêvão: da Calçadinha e das Escadinhas até ao Largo

Nas suas Peregrinações em Lisboa, Norberto de Araújo — a quem vamos sempre seguindo — depois de historiar modificações anteriores, diz: «Em 1833 Alfama formava um dos quatro distritos de Lisboa — veja-se a sua largueza por extensão convencional! — com 12 freguesias, afinal todas as paroquiais em redor do Bairro alfamista puro, incluindo o Castelo, mas ficando São João da Praça integrada no distrito do Rossio. Em 1852 ainda Alfama era um dos quatro distritos da cidade, já com São João da Praça em sua área natural, mas arrebanhando os Anjos e o Socorro! 
Em 1867 desapareceram todos os bairros de distinção nominal, e só então a palavra Alfama sucumbiu, oficialmente».

Tuas vielas velhinhas
Tuas ruas tão estreitinhas
São glórias, têm fado
Tu és a Lisboa antiga
Onde há sempre uma cantiga
P’ra recordar o passado

(do fado Alfama Velhinha de Armando Santos)

Estevão (calçadinha de Santo) segunda á esquerda na rua dos Remedios, indo do largo do chafariz de Dentro e finda na rua da Regueira, freguezia de Santo Estevão 2 a 28 e 1 a 35. [Velloso: 1869]

Santo Estêvão: Calçadinha e Escadinhas |c. 1945|
Perspectiva tirada da Rua da Regueira.
Fernando Martinez Pozal,  in Lisboa de Antigamente

Descendo as Escadinhas de Santo Estêvão — recorda o ilustre Norberto de Araújo — encontramos o balneário municipal [vd. 3ª imagem], construído em 1936, e logo pequeno Largo que cai sobre a Rua da Regueira, diante do Beco do Espírito Santo, ficando-nos à esquerda a Rua dos Remédios.

Calçadinha de Santo Estêvão com a Rua da Regueira |1950|
Beco do Espírito Santo
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

enquadramento é gracioso, seja qual for o conceito que nós possamos ter de beleza nestes quadrinhos bairristas, onde — e é o caso neste sítio — o pitoresco, o religioso, o fidalgo com o solar dos Azevedos Coutinhos. se dão mãos, para que Alfama se represente nos três Estados. 
(ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 90-92, 1939)

N.B. O topónimo Santo Estêvão, na freguesia de Santo Estevão, advém da igreja do mesmo orago.

Calçadinha de Santo Estêvão |c. 1945|
À esq.no nº 19, nota-se o antigo balneário municipal.
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Estevão (escadinhas de Santo) terceira á esquerda na rua dos Remedios indo de largo do chafariz de Dentro e findam na calçadinha de Santo Estevão, freguezia de Santo Estevão 2 a 18 e 1 a 23.
Estevão (largo de Santo) faz frente á egreja de Santo Estevão, e é aonde vão terminar as escadinhas de Santo Estevão, beco do Chanceller, ruas do Vigraio e Cruz do Mau, freguezia de Santo Estevão 1 a 16.
[Velloso: 1869]

Escadinhas e Largo de Santo Estêvão |1944|
Igreja de Santo Estêvão (traseiras) e Arco do Chanceler junto ao Palácio Azevedo Coutinho.
J. C. Alvarez, in Lisboa de Antigamente

Friday, 13 June 2025

Rua Saraiva de Carvalho

No último quartel do século XIX, as Ruas de Santa Isabel e de S. Miguel da Boa Morte, no bairro de  Campo de Ourique, passaram a constituir um arruamento único com a denominação de Rua Saraiva de Carvalho, através da publicação do Edital de Municipal de 16/11/1885, em homenagem ao jurisconsulto Saraiva de Carvalho.

Antiga de «Santa lzabel»
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

N.B. Augusto Saraiva de Carvalho (1839-1882). Advogado. Parlamentar. Reformista. Ramalho Ortigão chama-lhe pimpolho ilustre e rebento florescente da janeirinha. Em 1864 é um dos fundadores, no Pátio do Salema, do Clube dos Lunáticos com José Elias Garcia e Latino Coelho.

Ministro da justiça do governo de Ávila, desde 29 de Outubro de 1870 a 30 de Janeiro de 1871. Sai então do governo, juntamente com Alves Martins, quando os deputados reformistas liderados por Latino Coelho, lançam um ataque ao governo. Com efeito, Saraiva de Carvalho levou ao rei, sem passar por Ávila, a nomeação do bispo do Algarve, D. Inácio do Nascimento Morais Cardoso, considerado liberal, capelão de D. Pedro V, em vez da do arcebispo de Goa, D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, apoiado por Ávila, acusado de congreganismo romano e ultramontanismo.
Ministro das obras públicas, comércio e indústria do governo de Braamcamp (de 1 de Junho de 1879 a 25 de Março de 1881). [Maltez]

Antiga de «Santa lzabel»
Direcção Praça São João Bosco (Cemitério dos Prazeres).
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 8 June 2025

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila

O topónimo Av. Duque de Ávila foi atribuído pela CML por edital de 20 de Novembro de 1902 à nova via pública que ligava a velhinha Estr. do Arco Cego (troço da actual R. de Dona Filipa de Vilhena (1922) à Rua Marquês de Sá da Bandeira.  Actualmente liga esta artéria à Rua Alves Redol.

A «Patisserie Versailles» ocupou a loja do edifício projectado em 1919 pelo arqº Manuel Norte Júnior que se destaca pela sua verticalidade. Com planta rectangular, rés-do- chão e 5 pisos e com telhado a 2 águas. Teve como construtor José Tomaz de Sousa.
Em 1922 Norte Jr. projectara o luxuoso salão de chá em estilo Luís XIV, chamado «Versailles» (e dito «pâtisserie»), que drenava todo o bom tom da Avenida da República e seus limites mais que a «Paulistana», aberta abaixo, em 30, com serviço de bar americano mais à moda, oferecido aos clientes em balcão de bancos altos. [França: 1992]

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila |post. 1961|
Gaveto com a Av. Duque de Ávila: nota-se o Colégio Académico, e o edifício projectado pelo arq.º Álvaro Machado, em 1904 onde está instalada a Patisserie Versailles
Gonçalves, F., in Lisboa de Antigamente

Fundada em 1922 por Salvador Antunes, um português com formação em pastelaria francesa e apaixonado pela Art Nouveau, a Patisserie Versailles, tem o nome do famoso palácio francês e o seu interior parece mesmo uma sala saída deste. [Santana: 1975]

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila |1959|
Obras de mudança de carris. 
Benoliel, Judah, in Lisboa de Antigamente

Friday, 6 June 2025

Rio Tejo e Torre de Belém

Vapor «Mirandelle» da empresa H. Hersent, responsável pelas obras de construção do porto de Lisboa. Por esta altura, os navios de passageiros não acostavam aos cais e fundeavam ao largo onde desembarcavam e embarcavam os seus passageiros, empregando-se no transporte destes, embarcações fluviais como a que se vê na foto.
Por Carta de Lei de 16 de Julho de 1885 foi o Governo autorizado a adjudicar a construção das obras do porto de Lisboa, o projecto a executar era da autoria dos engenheiros portugueses João Matos e Adolfo Loureiro, tendo o rei D. Luís inaugurado, em 31 de Outubro de 1887, o início das primeiras obras entre a Torre de Belém e Santa Apolónia. Até 1907 a exploração do porto esteve confiada ao empreiteiro das obras H. Hersent.

Rio Tejo e Torre de Belém |1905|
Vapor «Mirandelle» da empresa H. Hersent.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 1 June 2025

Rua da Boavista

A origem do nome do sítio é projecção toponímica do Alto da Boa Vista, ou seja, ou Alto do Belver ou Belveder actual Alto de Santa Catarina. Não quero deixar de observar-te — recorda o ilustre Norberto de Araújo — que as edificações desta artéria da Boa Vista, do lado Sul, não levam cem anos (c. 1840). O edifício da Companhia do Gás sucedeu ao antigo Quartel da Brigada Real de Marinha. Foi aqui a primeira Fábrica do Gás, cujo privilégio concedido a Claudio Adriano da Costa e ao francês José Detry, datava de 3 de Maio de 1846

Rua da Boavista |ant. 1914|
O edifício do lado esq., até à esquina com o Boqueirão dos Ferreiros pertencia à «Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz»; em ampliando a foto observam-se, ao fundo, os sete arcos do do prédio nº 67 erguido pelo industrial Ferreira Pinto em meados do séc. XIX para «palacete de família, e constitui ainda a única nota decorativa urbana da Rua da Boa Vista.» [Araújo, 1939]
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL

De facto, foi junto ao rio, meio de transporte privilegiado, que a «Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz» instalou, em 1846, a sua primeira fábrica de Gás; e, dois anos depois, em 1848, já Lisboa inaugurava a iluminação a gás, com 28 candeeiros, nas ruas da Baixa (Rua dos Capelistas, Rua do Ouro e Rua da Prata), no Chiado, na Rua do Alecrim, no Cais do Sodré, em S. Paulo e na Boavista.

Rua da Boavista |1940|
Companhias Reunidas de Gás e Electricidade: fachadas Norte e OesteBoqueirão dos Ferreiros.
Kurl Pinto, in Lisboa de Antigamente

Em 1914 deu-se na fábrica a formidável explosão que originou dezanove mortes, e o fabrico do gás passou então, inteiramente, para o Bom Sucesso — vizinhança da Torre de Belém — , onde ase manteve até 1949.

Rua da Boavista |1914|
Topónimo anterior ao terramoto de 1755, como vem mencionado nas Memórias Paroquiais.
Incêndio no edifício da Companhia de Gás.
Anselmo Franco, in Lisboa de Antigamente

Friday, 30 May 2025

Um «americano» no Terreiro de Trigo

São, efectivamente, posteriores ao triunfo do liberalismo em Portugal, os primeiros transportes colectivos urbanos que cruzaram as ruas de Lisboa. Data de 1803 o aparecimento do omnibus, puxado a muares, para a exploração dos quais se constituiu uma Empresa de Transportes com sede na Praça do Pelourinho. No entanto, incómodos, caros e raros, o povo miúdo pouco beneficiou com eles. Verdadeiramente populares e servindo já vastas zonas da cidade foram os seus sucessores, os carros americanos, inaugurados em Lisboa em 1874.

Um «americano» no Terreiro de Trigo |séc. XIX|
Antigo Campo da Lã. O topónimo advém da presença no local do edifício do Celeiro Público ou Terreiro do Trigo depois Mercado de Produtos Agrícolas e mais tarde (1937) Alfandega de Lisboa que vê ao fundo.
Imagem tomada do Palacete do Chafariz d'El-Rey, ou Palacete das Ratas.
Fotografia anónima, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 25 May 2025

Lisboa vista de Almada

Grande panorama! — disse o Conselheiro com ênfase. — E encetou logo o elogio da cidade. Era uma das mais belas da Europa, decerto, e como entrada, só Constantinopla! Os estrangeiros invejavam-na imenso. Fora outrora um grande empório, e era uma pena que a canalização fosse tão má, e a edilidade tão negligente!
— Isto devia estar na mão dos ingleses, minha rica senhora! —exclamou. Mas arrependeu-se logo daquela frase impatriótica. Jurou que era uma maneira de dizer. Queria a independência do seu país; morreria por ela, se fosse necessário; nem ingleses nem castelhanos!... Só nós, minha senhora! — E acrescentou com uma voz respeitosa: — E Deus!

Lisboa vista de Almada |c. 1870|
Margem S. do Tejo.
Laurent, J. (1816-1886, in Lisboa de Antigamente
Lisboa vista de Almada |c. 1900|
Margem S. do Tejo.
Charles Trampus, in Lisboa de Antigamente

— Que bonito está o rio! — disse Luísa.
Acácio afirmou-se, e murmurou em tom cavo:
O Tejo! ==
(QUEIROZ, Eça de, O Primo Basílio, 1878)

Lisboa vista de Almada, margem S. do Tejo  |1750|
Orig. copperplate engraving. Engraved by J. G. Ringle after F. B. Werner's drawing. Published by M. Engelbrecht in Augsburg, ca. 1750. With ornamental title cartouche, another cartouche with a ship and explanatory notes under the picture.

Thursday, 22 May 2025

Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade

O Parque — no seu início e no primitivo sonho paisagista, assim podemos dizer — data da penúltima década do século passado (1885), e seu primeiro nome, caído em esquecimento, foi o de Parque da Liberdade.

Era então tudo isto por aqui terreno de mau cultivo, ou nenhum, terras que ocupavam a poente za zona de Vale Pereiro — recorda Mestre Araújo, a quem vamos sempre seguindo — , quási todas pertencentes no século XVIII aos padres da Congregação do Oratório (de S. Felipe Nery), e a ocidente e a norte restos de quintas das Lages, de Galvão Castelo Branco, dos Pachecos Malheiros, e do Poceiro. Estes tratos de terrenos há muito que se haviam desmembrado das designações e possuidores setecentistas; a mais importante zona, vastíssima, era a do Casal do Monte Almeida, de Carlos Maria Eugénio de Almeida, com o qual a Câmara manteve demoradas demandas, que duraram de 1894 a 1930.
 
Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade |c. 1900|
Rio Tejo
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Municipalizados, em parte, os terrenos destinados ao Parque, começou a Câmara (1888) a pensar a sério no ajardinamento e aformoseamento paisagista do seu Parque, abrindo um concurso internacional entre arquitectos especializados, cujos três prémios foram ganhos por franceses; o projecto classificado em primeiro lugar (Henry Lusseau) não pôde ter execução, como não a pode ter o projecto Forestier, de 1926, nem sabemos se o terá o de Luiz Cristino da Silva, de 1932, que inclui uma entrada monumental.

O Parque — denominado de Eduardo VII depois da visita que este Rei de Inglaterra fez a Lisboa em 1903 — logo que foi proclamada a República mereceu às vereações cuidados especiais, em bons propósitos que a carência de um plano definido, ou a falta de verbas, nunca deixaram coroar de êxito.

Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade |c. 1954|
Castelo de S. Jorge; Monumento ao Marquês de Pombal (1934); Rio Tejo
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Wednesday, 21 May 2025

«Lisboa de Hoje e de Amanhã»

«Lisboa de Hoje e de Amanhã» é um documentário produzido pela CML, no ano de 1948, realizado, escrito e narrado por António Lopes Ribeiro (irmão do actor Ribeirinho).
«"Cineasta oficial do fascismo", como lhe chamaram alguns adversários políticos, o seu trabalho no documentarismo ficou como definidor de uma época, um regime e uma propaganda. Particularmente notórios são: «As Festas do Duplo Centenário-A Exposição do Mundo Português» e «Inauguração do Estádio Nacional», arquétipos de um estilo e de uma retórica.» [Dicionário do Cinema Português 1895-1961 por Jorge Leitão Ramos

Não é de estranhar, portanto, o tom marcadamente propagandístico do filme, em todo o momento favorável ao regime e às políticas urbanas de então. Goste-se ou não do regime da época, são memórias que interessa preservar.
Basicamente, o plano de que se fala no documentário, é o «Plano Geral de Urbanização e Expansão de Lisboa (PGUEL), Etienne de Groer, 1948). E é aqui que reside um dos méritos do filme: explica o plano, as ideias e conceitos, mostrando os locais, plantas, maquetas, os métodos de trabalho e os meios de transporte daquele período.
Em 1938 a C.M. de Lisboa, sob a presidência de Duarte Pacheco, contratou o arquitecto – urbanista Étienne de Gröer, que juntamente com os serviços técnicos municipais, definiu as grandes linhas de desenvolvimento da cidade. Em 1948 o plano estava concluído e foi aprovado pela CML, embora nunca tivesse tido aprovação governamental. As principais linhas de força do plano foram as seguintes:
- Criação de uma rede viária radioconcêntrica a partir de um eixo construído pela Av. A. Augusto de Aguiar e o seu prolongamento até à estrada Lisboa-Porto.
- Organizar densidades populacionais decrescentes do centro para a periferia;
- Criar uma zona industrial na zona oriental da cidade, associada ao porto;
- Construir uma ponte sobre o Tejo no Poço do Bispo-Montijo, ligada a uma das circulares;
- Construir um aeroporto internacional na parte norte da cidade;
- Criar um parque em Monsanto com cerca de 900ha, e uma zona verde em torno da cidade que incluiria o Parque de Monsanto e que se prolongaria pela várzea de Loures até ao Tejo.
O principal instrumento do plano foi o zonamento, dividindo o espaço em áreas com diferentes usos, às quais se aplicava legislação específica. 

Nota(s): devido à longa duração do filme (aprox. 40 min.), decidimos exibi-lo em duas partes com cerca de 20 min. cada.

«Lisboa de Hoje e de Amanhã»- Parte 1

«Lisboa de Hoje e de Amanhã»  Parte II

Sunday, 18 May 2025

Rua António Maria Cardoso que foi «do Tesouro Velho» e «do Picadeiro das Portas de Santa Catarina»

Entremos pela Rua António Maria Cardoso — convida Norberto de Araújo — dístico que celebra o explorador africano do final do século passado [1890], e substituí o de «Tesouro Velho», designação anterior da artéria. 
Além Chiado, pelo lado Sul, as ruas tomaram, quási todas, os nomes dos exploradores dos sertões de África; assim por aqui se perpetuam Roberto Ivens, Hermenegildo Capêlo, Serpa Pinto, Paiva de Andrada, Vitor Cordon, figuras de sábios pioneiros africanistas. Diga-se, em abono da verdade, apesar de sermos pouco votados à substituição dos dísticos das ruas: se a Câmara um belo dia não houvesse determinado a colocação dos nomes daqueles homens nestas esquinas - talvez já ninguém se lembrasse deles. [Araújo: XI, 1939]

Rua António Maria Cardoso, antiga do Tesouro Velho [c. 1912|
A caminho do Animatógrafo Chiado Terrasse. Ao fundo vê-se a Rua Nova da Trindade.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

No final do ano de 1908, aparece o Salão Terrasse (depois Chiado Terrasse), "o novo animatógrapho, ao ar livre" na chiquérrima António Maria Cardoso (1890). Com a remodelação (1911) “de uma elegância extraordinária”, enceta a ideia dos cinemas feitos de raiz e torna-se a sala da moda.

Rua António Maria Cardoso, antiga do Tesouro Velho [c. 1912|
Em exibição o filme mudo "A Desterrada", no original "The Unwilling Bride", uma "coboiada" americana produzida pela "Pathé Frères" no longínquo ano de 1912.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O sr. Augusto, de maré, dá-lhes dinheiro e eles levam-na ao Chiado Terrasse. A Ryala, que nunca imaginou que tal coisa pudesse existir, enche a sala de brados de assombro e risos descompassados. Há uma comédia de Max Linder e uma fita de peles-vermelhas. Ao ver surgir pela frente em pleno Far-West, entre cavalgadas, frechadas e tiros, uma locomotiva que avança a todo o vapor sobre a audiência, não há quem a segure: um grito de terror, um salto de cabra, e a Ryala abala a fugir, para não ser esmagada pelo trén! Esta noite foi ela a heroína do Far-West ao alto do Chiado.
(Miguéis, José Rodrigues (1901-1980), A Escola do Paraíso, 1960)

Rua António Maria Cardoso, antiga do Tesouro Velho |c. 1912]
À dir. observa-se o Teatro S. Luis e, à esq., o muro do Palácio Quintela
O topónimo Rua António Maria Cardoso foi atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa, através de Deliberação Camarária de 06/02/1890 e Edital de 6/02/1890, à antiga Rua do Tesouro Velho.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

N.B. António Maria Cardoso, (1849—1900) foi um oficial da Marinha, deputado e explorador em África, na segunda metade do século XIX.1 Em 1882, na companhia de outros explorador, João de Azevedo Coutinho, realizou uma expedição cujas conclusões foram publicadas pela Sociedade de Geografia de Lisboa. Foi eleito deputado em 1890.

Friday, 16 May 2025

Lojas de Antanho: Tabacaria Marecos

Casa fundada em 1908 (antes Sapataria Coimbra), propriedade de José Rodrigues Marecos, dono da Tabacaria Mónaco [desde 1916], na Praça de D. Pedro IV, 21.

Desde que me entendi até aos vinte e cinco anos, morei no sítio mais concorrido de Lisboa, isto é, no funil por onde passava tudo que Lisboa tinha de óptimo e bom, no primeiro andar por cima da tabacaria Marecos, na rua do Principe, hoje 1.º de Dezembro, nos tempos em que ainda não existia a estação do Rossio nem o Avenida Palace. (Barbosa, Sempre Fixe, 1927)

Lojas de Antanho: Tabacaria Marecos |1910|
Rua Primeiro de Dezembro, 124 antiga «do Príncipe» 
Á porta da Tabacaria Marecos, na Rua 1.º de Dezembro, frente ao Avenida Palace , cavaqueando desprendidamente com a rapaziada desse tempo, onde havia estudantes, actores, jornalistas, amadores tauromáquicos, e alguns exímios tocadores de guitarra.. [Freire: 1945]
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

A serventia parece que fora chamada pelo vulgo, no tempo de Pombal, depois do Terramoto — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , Rua Nova das Hortas e Rua das Hortas (e que constituiria referência oral à Horta da Mancebia ou a horta dos terreiros do Duque de Cadaval ou dos Condes de Faro, mais para Norte). Antes de 1755 a Rua tinha já o traçado sensivelmente idêntico ao de hoje, e chamava-se Rua de Valverde – lindo nome. ==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 85)

Rua Primeiro de Dezembro |entre 1926 e 1929|
À esq. — no edifico que acabou demolido em 1952 — observam-se as fachadas da Tabacaria Marecos e do Café Suisso tornejando para a Praça D. João da Câmara
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

N.B. Por Edital municipal de 7 de agosto de 1911 a Rua do Príncipe e Largo da Rua do Príncipe passaram a denominar-se Rua Primeiro Dezembro, a data da Restauração em 1640.

Sunday, 11 May 2025

Largo de Santos-o-Novo que foi «de Santos Novos»

Saímos do Páteo das Comendadeiras para o [pequeno] Largo de Santos-o-Novo. Estamos na antiga e ressonante Calçada das Lajes». [Araújo: 1939]

Este Largo recolhe o topónimo da Igreja edificada nestes terrenos do Alto do Varejão que fizeram parte da  na sua orla do lado nascente.

Largo de Santos-o-Novo |c. 1900|
Antigo Largo de Santos Novos. Perspectiva tomada do Pátio das Comendadeiras de Santos
com a Calçada das Lajes, ao fundo, onde se observa o edifício com arco já demolido. À dir. vê-se o
portal pertencente ao Palacete Pereira Forjaz (ou Bertiandos) na antiga Quinta da Cruz da Pedra
antes da demolição da Quinta do Manique, cujo portal se vê ao fundo. 

José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto está erradamente identificado no abandalhado amL como «Arco do Recolhimento
de Lázaro Leitão»
.

Santos (pateo das commendadeiras de) segundo á direita na calçada da Cruz da Pedra, indo da Madre de Deus e finda no largo de Santos Novos, freg. de St. Engracia (f) Dentro d'este pateo está a egreja e convento das commendadeiras de Santos, fundado em 1217, transferida da egreja de Santos o Velho em 1490, incendiado pelo terremoto foi novamente reedificado.

Santos Novos (largo de) primeiro á esquerda na calçada das Lages, indo da calçada da Cruz da Pedra, e finda no alto do Varejão, freguezia de Santa Engracia 1 a 38. [Velloso: 1869]

Largo de Santos-o-Novo |1967-03|
Antigo Largo de Santos Novos
Portal pertencente ao Palacete Pereira Forjaz (ou Bertiandos) na antiga Quinta da Cruz da Pedra.
Augusto de Jesu, Fernandes in Lisboa de Antigamente

Duas ou três breves palavras sobre o Mosteiro de Santos-o-Novo. Edificado no séc. XVII — 1609, arq.º Baltasar Álvares — , o Convento das comendadeiras de S. Tiago de Santos-o-Novo, designação que se projectou do Mosteiro às suas redondezas, foi parcialmente destruído pelo terramoto de 1755, tendo então sofrido obras de recuperação. Foi definitivamente desafectado ao culto em finais do século XIX. No claustro, de planta quadrada, abrem-se galerias de arcos de volta perfeita albergando as capelas do Senhor dos Passos e da Encarnação, que se encontram revestidas a talha, estatuária e azulejaria. A igreja, de nave única, tem nas paredes laterais painéis azulejares, integrando ainda talha e mármores polícromos. A classificação inclui a Igreja, o claustro e demais dependências, assim como as zonas exteriores ajardinadas, formando o conjunto da cerca conventual. [IPPC]

Mosteiro das Comendadeiras de Santos-o-Novo, fachada S. |1932|
Largo de Santos-o-Novo; Páteo das Comendadeiras, à Calçada das Lages. Em baixo vê-se a Rua de Santa Apolónia.
Com 360 janelas em três pavimentos representava já uma enormidade construtiva este casarão que vês, só concluído oitenta anos depois de iniciado, entrando para ele as Comendadeiras em 1685. [Araujo: 1939]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Friday, 9 May 2025

Largo do Calhariz

Calhariz (largo do) fica entre as ruas do Loreto, Chagas, Atalaya, Roza, Cruz de Pau, e calçadas da bica de Duarte Bello e Combro, freguezias da Encarnação 26 a 34, Santa Catharina A a 21, Mercês 22 a 25. 
Está n'este largo o palacio do Duque de Palmella [Palácio Calhariz-Palmela], que se torna digno de ser visto pelas bellas pinturas que contêem as salas. [Velloso: 1869]

Largo do Calhariz |1924-04|
Rua da Bica de Duarte Belo; Palácio Valada-Azambuja.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Greve dos padeiros em Abril de 1924. Uma 'bicha' numa padaria 'Aliança»
Nota(s): local da foto não está identificado no arquivo.

O Largo do Calhariz — diz Júlio de Castilho — toma o nome do antigo senhor do palácio [dos Sousas Calharizes], que era o primogénito destes Sousas, senhor da quinta célebre do Calhariz, perto de Azeitão. Chamavam-lhe a ele o Calhariz, como hoje se diria o Palmela, o Loulé, o Fronteira. Logo, vemos que essa denominação lisbonense da rua, ou largo, não passa além dos primeiros anos do século XVII. [Castilho: 1937]

Largo do Calhariz |1922-08-13|
Rua Luz SorianoPalácio Calhariz-PalmelaRua da Atalaia.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Um aspecto da Greve Geral em Lisboa»
Nota(s): local da foto não está identificado no arquivo.

Sunday, 4 May 2025

Largo Rodrigues de Freitas: Vão lá dizer as gentes que isto aqui não é «Santo André»!


Chegara então ao Largo Rodrigues de Freitas, encruzilhada de uma meia dúzia de pequenas ruas, oásis verdejante, com algumas casas bem antigas, mas, infelizmente, bastante degradadas. Estará então a dois passos da igreja do Menino Deus.¹


Foi neste Largo de Rodrigues de Freitas que nos despedimos no cabo da última jornada — recorda o ilustre Norberto de Araújo. Aqui nos voltamos a encontrar — no coração do velho Santo André, santo da toponímia popular, cujo nome encheu o sítio, e por muitos anos perdurará. Vão lá dizer as gentes que isto aqui não é «Santo André»!

Largo Rodrigues de Freitas antigo de Santo André |1948-05|
Confluência da Rua de São Tomé, Calçada da Graça e Travessa do Açougue
 Costa do Castelo (esq.) e Calçada de Santo André; à dir., o Palácio dos Condes deFigueira.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

A designação deriva da circunstância de neste local de que nos vamos aproximando — a Travessa do Açougue, que condu²z em pequena rampa à Calçada da Graça — ter existido a Igreja Paroquial daquela invocação.²

Largo Rodrigues de Freitas antigo de Santo André |c. 1960|
Confluência  da Travessa do Açougue (esq.) e Ruas do Salvador e de São Tomé.
Mário Pinto,, in Lisboa de Antigamente

No dia 31 de Maio de 1835, acabaram definitivamente as freguesias de Santa Marinha e de Santo André [...] Os letreiros dos carros eléctricos arvoravam durante muito tempo, o chamadouro do lugar que foi de grandeza e decaiu. Ficouporém, a Calçada de Santo André que vai até ao Terreirinho. O largo é que passou a ser de Rodrigues de Freitas, em 1915, sem que cousa alguma explique a homenagem local ao ilustre professor e notável democrata.
Nem sequer a existência de um centro republicano, com o seu nome, naquele âmbito justifica a distinção do município.³

Largo Rodrigues de Freitas antigo de Santo André |1967|
Jardim e Travessa do Açougue.
Artur Inácio Bastos, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ADRAGÃO, José Victor; PINTO (Natália); RASQUILHO, Rui, Lisboa, p. 74, 1985.
² ARAUJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, p. 12, 1938.
³ MARTINS, Rocha, Lisboa de ontem e de hoje : as colinas da cidade, p.1045.

Friday, 2 May 2025

Escadinhas dos Remédios (arco das)

A Rua dos Remédios segue no seu último troço, à esquerda, até à confluência do Paraíso; nós enfiamos — na companhia de Mestre Araújo  — por este pitoresco arco das Escadinhas dos Remédios – tão pintado por artistas poetas – com a nesga do Tejo ao fundo.
O arruamento faz referência à ermida de Nossa Senhora dos Remédios. Esta ermida chamou-se do Espírito Santo. Como se passou de um orago a outro: “Nesta Ermida do Espírito Santo havia um poço, onde certo dia apareceu uma imagem de Nossa Senhora, a qual apesar de ser tirada da água, vinha enxuta em sua pintura e tecido. Milagre foi! E acorriam os pescadores e famílias a implorar à Virgem remédio a seus males, e Nossa Senhora os curava. Daí a receber a imagem a invocação de Nossa Senhora dos Remédios foi um salto.” [Araújo: X, 1939]

Escadinhas dos Remédios |c. 1945|
(Dístico de 1879)
Perspectiva tirada do Beco da Lapa.
Fernando Martinez Pozal,  in Lisboa de Antigamente

N.B. No Itinerário lisbonense, de 1818, figuram duas Ruas dos Remédios: uma que principia no Largo do Terreiro do Trigo e termina na Rua das Portas da Cruz, e outra que é a quarta à esquerda , entrando pela Rua da Lapa, vindo dos Navegantes e termina na Rua da Santíssima Trindade (actual Garcia de Orta).

Escadinhas dos Remédios |meado séc. XX|
(Dístico de 1879)
Perspectiva tomada da Rua dos Remédios.
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 27 April 2025

Lojas de Antanho: Freire-Gravador

O jornal diário A Capital: Diário Republicano da Noite, na sua edição de 29 de Junho de 1916, dedicava um longo artigo às mais antigas e tradicionais lojas da Baixa, mais precisamente aquelas situadas na Rua Áurea, vulgo do Ouro. Sobre a história do estabelecimento denominado Freire Gravador — e respeitando a grafia da época — o texto rezava assim:

No outro quarteirao para o lado do Rocio fica o Freire-Gravador casa de larga fama, como se sabe, que teve a precede-la n'aquelle mesmo sitio, u, ourives de importancia. A casa Freire, pelos seus producros em ferro esmaltado, entre os que se se distinguem nas melhores taboletas que se fabricam e Portugal; pelas sua fábrica de carimbos, que nao tem rival, pelas suas officinas de gravura, notabilissimas, occupa, entre as suas congeneres, uma situação de privilegio.==
(A Capital: diário republicano da noite, Guimarães, Manuel, 1868-1938, ed. com., N.º 2106, 26 Jun. 1916)

Lojas de Antanho: Freire-Gravador |1932-03-03|
Rua Áurea (vulgo do Ouro), 158-64 com a Rua da Victoria, 90-96
Fund. 1882 — propriedade de Aires Lourenço Costa Freire
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Os anúncios pitorescos do Candeias do Intendente, do Clemente dos Gabões, do 92 da Rua Nova do Almada, do Freire Gravador ou do Mergulhão dos Cordões de Oiro, admirá-lo-iam decerto muito mais do que o reclamo do francês António la Fissière, alfaiate dos tafuis que dizia fazer e alugar fraques e os mais hábitos da modernice, ou do sapateiro que intitulava o seu estabelecimento de Real Fabrica de Botas Elásticas porque nela se servem ambos os sexo, e se acha a famosa invenção dos canhões postiços.

 

A unica fabrica
“Este anúncio é um labirinto, um novelo, uma teia!.
que ha completa na Europa
      ** PREMIADO
      COM 3  * * * *
      MEDALHAS **
      D'OURO NA EX-
      POSIÇÃO DO *
      BRAZIL * * * *
Fabrica sellos em branco pa
ra repartições e companhias,
carimbos de metal, borracha
e  para  lacre,   numeradores,
timbragem a côres, ouro, em
relevo, monogrammas e bra-
sões,  prensas, balancés, cu-
nhos,  alicates para sellar  a
chumbo,  fabrica de chapas
esmaltadas em metal e ferro,
gravura em pedra e seus an-
neis, lithographia,  typogra-
phia, papelaria ferragens, bi-
lhetes, trabalhos superiores,
é a casa ==============
A. L. FREIRE GRAVADOR
o qual  tem feito viagens  de
estudo á Allemanha, Austria,
Inglaterra, França, etc, é um
estab elecimento de  muitos
artigos. Preços baratissimos
com os quaes ninguem pode
competir =============
Mandam-se as encommendas
para a provincia á cobrança =

Em tudo se tem avançado, até nisto. O progresso no tocante às tabuletas vai de vento em popa e de velas inchadas. Desde o «Sempre por bom caminho e segue» dos «Armazéns Grandella» à Única Loja que Vende Barato de que se ufanam em letras pintadas tantas lojas de Lisboa, todas únicas, já se vê; da firma Faria & Filhos a que pertence uma botica ao Bom Sucesso (veja-se a coincidência!) a um Silva & Mata alfaiates que representa, evidentemente, uma vingança daquela aranha que foi morta por sete, há de tudo nas tabuletas e fachadas de Lisboa, a desafiar a crítica mordaz [...] encontra-se, porém, matéria para variadas e desenfastiadas cogitações filosóficas. Experimente-o, comigo, o paciente leitor. As casas de vinho, tabernas e botequins, como naquela no caminho para o alto de S. João, com a famosa legenda de «Reparem à ida, à volta cá os espero», que é um convite pagão de folia fúnebre para os carpideiros da praxe!==
(SEQUEIRA Gustavo de Matos). RELAÇÃO de Vários Casos Notáveis e Curiosos Sucedidos em tempo na cidade de Lisboa e em outras terras de Portugal, p. 58, 1925)

Lojas de Antanho: Freire-Gravador |c. 193-|
Rua Áurea, 158-64 com a Rua da Victoria, 90-96
Na última página deu com um grande anúncio, dois palmos de mão ancha, representando,
ao alto, à direita, o Freire Gravador, de monóculo e gravata, perfil antigo, e por baixo, até
ao rodapé, uma cascata doutros desenhos figurando os artigo fabricados nas suas oficinas, 
únicas que merecem o nome de completas, com legendas explicativas.
(SAMAGO, Jose O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984)
AFG, in Lisboa de Antigamente

N-B. Aires Lourenço Costa Freire, natural de Penela. Alcançou rapidamente uma boa reputação nacional, tendo além da sua loja na Rua Aurea (A. L. Freire-Gravador), um armazém na Calçada de S. Vicente e uma fábrica no Beco dos Clérigos, no bairro de Alfama em Lisboa. Mais tarde, muda a sua fábrica para estrada Paço de Arcos-Cacém. Aires Costa Freire detentor de grande fortuna, foi benemérito tendo construído um bairro para os seus trabalhadores no Dafundo, Algés, e cujas habitações ao fim de uns anos reverteriam para os próprios. O estabelecimento terá encerrado na década de 1960. (arquivodigital.cascais.pt)

Lojas de Antanho: Freire -Gravador, oficina |1932-03-03|
Rua Áurea, 158-64 com a Rua da Victoria, 90-96
Fund. 1882, por Aires Lourenço Costa Freire, fechou portas década de 1960.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

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