Sunday, 16 November 2025

Profissões de antanho: o cauteleiro

— Quem é que se habilita à sorte, é o 1469 que anda amanhã a roda!

É profissão que jamais acabará. É vê-los por aí, sobretudo pela Baixa, oferecendo a fortuna a toda a gente. No nosso tempo, a cautela, cremos que a vigésima parte do bilhete inteiro, vendia-se por três vinténs!
E não havia barbeiro que, pelo Natal ou Páscoa, não tivesse colado no espelho, em frente do freguês, o bilhete da sorte, para que bem o observasse e comprasse enquanto lhe escanhoava os queixos.
O grande actor Estêvão Amarante, criador admirável de tantos tipos populares de Lisboa, também fez o cauteleiro num quadro de revista, cantando um fado que ficou, como todas as suas criações, na alma do povo, imitando um cauteleiro que era muito conhecido pelo pregão harmonioso e nostálgico com que oferecia a Sorte Grande!

— Quem é que se habilita à sorte, é o 1469 que anda amanhã a roda!

Profissões de antanho: o cauteleiro |entre 1908 e 1914|
Largo de Dom João da Câmara, antigo «de Camões».
Ao fundo observa o afamado Café Suisso.
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente

Nesse tempo, e hoje também, os cauteleiros apregoam por Lisboa e por todo o País, mas sem a cantoria de então.
A dada altura apareceu pelas ruas da Baixa, sem apregoar, um cauteleiro fardado, que oferecia o jogo quase sempre pelos estabelecimentos. Exibia boné agaloado a ouro, sobrecasaca preta com botões amarelos, galões dourados na gola e pasta debaixo do braço, cautelosamente segura por corrente. Era um indivíduo gordo, à volta dos quarenta anos e que, no seu jeito amável, aconselhava, como quem conversa, a jogar na lotaria. Hoje os cauteleiros usam boné de pala e a profissão, aparentemente, deve ser rendosa. Haja em vista o desafogo de certas casas de lotaria! 

— Quem é que se habilita à sorte, é o 1469 que anda amanhã a roda!

Profissões de antanho: o cauteleiro |1922-3-8|
Calçada do Duque com a Rua da Condessa.
Legenda no arquivo: «O coxo das cautelas na Escadinhas do Duque»
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O cauteleiro coxo que me maçava inutilmente? Questiona-se o Desassossegado Bernardo Soares. O velhote redondo e corado do charuto à porta da tabacaria? O velho sem interesse das polainas sujas que cruzava frequentemente comigo às nove e meia da manhã? O dono pálido da tabacaria? O que é feito de todos eles, que, porque os vi e os tornei a ver, foram parte da minha vida? Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros, [e das Escadinhas do Duque, porque não?]. Amanhã também eu me sumirei da Rua da Prata, da Rua dos Douradores, da Rua dos Fanqueiros. Amanhã também eu — a alma que sente e pensa, o universo que sou para mim — sim, amanhã eu também serei o que deixou de passar nestas ruas, o que outros vagamente evocarão com um “o que será dele?”. E tudo quanto faço, tudo quanto sinto, tudo quanto vivo, não será mais que um transeunte a menos na quotidianidade de ruas de uma cidade qualquer.
(Fernando Pessoa / Bernardo Soares, Livro do Desassossego, 1931)

Profissões de antanho: o cauteleiro |início séc. XX|
Aguadeiro e cauteleiro junto ao fontanário do Largo Trindade Coelho, antigo de S. Roque. 
Ao centro vê-se a Coluna mandada erguer pela colónia italiana, comemorando o casamento do 
Rei Dom Luís I com Dona Maria Pia de Sabóia em 1862.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
(DINIS, Calderon, Tipos e Factos da Lisboa do meu tempo (1900-1974), p. 276, 1986).

Friday, 14 November 2025

Alto e Arco do Carvalhão

Carvalhão (arco do) fica na estrada do arco do Carvalhão, freguezia de Santa Izabel.
Carvalhão (estrada do arco do) primeira á esquerda na rua de S. João dos Bemcasados [R. Amoreiras], indo da rua do arco das Aguas Livres e finda na quinta da Cabrinha, freguezia de Santa Izabel. [Velloso: 1869]

Arco do Carvalhão situado sobre a Rua do Arco do Carvalhão, em Lisboa. Freguesia de Campolide, Classificado no conjunto do Aqueduto, como Monumento Nacional por Dec. de 16-6-1910. Estabelecidas Zonas Especiais de protecção pelas portarias 1092/95 (DR 206) de 6-9-1995, 1099/95 (DR 207) de 7-9-1995 е 512/98 ( DR 183) de 10-8-1998.

Ruas do Alto e do Arco do Carvalhão |1939|
ChafarizAqueduto das Águas Livres
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Trata-se de trecho do aqueduto que vence, com dois amplos vãos, os dois arruamentos em que, neste local, se subdivide a Rua do Arco do Carvalhão. Antes de ser chamada «do Arco do Carvalhão», a rua tinha o nome de «do Sargento-Mor», como recorda o ilustre Norberto de Araújo. [...] Agora estamos no Arco do Carvalhão, sob dois imponentes arcos do Aqueduto. Esses terrenos [...] estendiam-se além da actual Rua das Amoreiras, desde o trecho da Cruz das Almas até a actual Rua Marquês da Fronteira. [...] O «Carvalhão» era, na verdade, o futuro Marquês de Pombal, e do seu sobrenome vieram os nomes da rua atual. [...]

Ruas do Alto e do Arco do Carvalhão |1961|
Ao fundo nota-se o Viaduto da Avenida Duarte Pacheco ou do Arco do CarvalhãoAqueduto das Águas Livres.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Ainda de acordo com o insigne olisipógrafo Norberto Araújo «terrenos eram estes de Sebastião José de Carvalho e Melo, ainda antes de ser Marquês de Pombal e Conde de Oeiras e «Carvalhão» era o nome pelo qual era conhecido «e do apelido derivaram os nomes da Rua actual (Arco do Carvalhão) que leva à Cruz das Almas, e da ladeira (Alto do Carvalhão) só há poucos anos (1933) edificada em forma, e que leva a D. Carlos Mascarenhas».

Ruas do Alto e do Arco do Carvalhão |195-|
Fotografia aérea da Av. Eng. Duarte Pacheco, Aqueduto das Águas Livres
Rua do Alto do Carvalhão anotada com cor azul e Rua do Arco do Carvalhão a encarnado.
Mário de Oliveira, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ALMEIDA, Álvaro Duarte de, Portugal património: Lisboa· 2007.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp.77-78, 1939.

Sunday, 9 November 2025

Igreja de Santa Isabel

A igreja de Santa. Isabel é uma edificação setecentista, cujas obas começaram em 1742 e se prolongaram durante alguns anos ainda depois do Terramoto, que não causou no templo, em construção, estrago algum. Pode dizer-se que Santa Isabel, à parte a frontaria, completada em 1875, e a despeito dos restauros daquele ano, se encontra sensivelmente como foi erguida.

Como vês, Dilecto, a fachada do templo não é trivial, embora não contenha beleza ou particularidade a assinalar; as duas torres sineiras, ilustradas de mostradores de relógio, dão-lhe uma certa imponência bairrista. No pórtico, sob a legenda da padroeira «Beatae Elisabeth Lusitaniae Reginae», marca-se a data citada (da reconstrução): MDCCCLXXV. Vejamos o interior da Igreja

Igreja de Santa Isabel, fachada principal |1959|
Rua. Saraiva de Carvalho 2A
Santa Izabel, do orago da Rainha Santa, recebeu benefícios em dois períodos do século
XIX, nomeadamente em 1875.
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

O tecto, simples, é de estuque com pintura representando a Assunção. de Santa Isabel. Onze capelas ou altares além da principal, tem esta Igreja. Notamos a começar pela direita: Senhor dos Passos, que ocupa o lugar de uma porta; Santa Terezinha, com retábulo de S. Gonçalo. pintura de Bernard Foit. Santa Rita, retábulo de S. Sebastião por Bruno José do Vale, cópia de Dominichino: Santo António, com retábulo deste padroeiro de Lisboa por Roque Vicente com toque de Pedro Alexandrino; Senhora das Graças e Santa Inês (antiga do Santíssimo), com retábulo «A Ceia», por Peregrino Parodi; e, no topo, N. Sr.ª da Conceição, com retábulo «Nascimento de Jesus», por Roque Vicente; pela esquerda vemos, a seguir ao baptistério, a capela de S. José, com retábulo de Sant'Ana, de Roque Vicente; S. Miguel e Almas com retábulo de Arcanjo, por Domingos Rosa; N. Sr.ª de Fátima com retábulo de N. Srª. do Carmo, cujo autor não identifiquei; e, no topo, o altar do Coração de Jesus, com retábulo de Joaquim Manuel da Rocha

Igreja de Santa Isabel |c. 1910|
Altar-mor cm imagem do orago
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Igreja de Santa Isabel |c. 1910|
N.S. Conceição com retábulo «Nascimento de Jesus»
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

























Catorze janelas se rasgam nas paredes da nave onde predomina o estuque «fingido», pois apenas as colunas de apoio lateral são de mármore pobre.
Na Capela-mor, na qual se debruçam duas tribunas por lado, está, sobre o sacrário a imagem de Santa Isabel, padroeira do templo . E mais nada digno de registo possuí Santa Isabel.==

 

Igreja de Santa Isabel |1956|
Altar de S. Miguel com retábulo de Domingos Rosa e imagem pintada e estofada do Século XVIII.
Rosa Duarte, in Lisboa de Antigamente

N.B. Mandada construir em 1742, pelo primeiro cardeal-patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida, a Igreja Paroquial de Santa Isabel é considerada um imóvel de elevado valor histórico e arquitectónico. [+ imagens aqui]

Igreja de Santa Isabel, frontaria |1970|
Rua. Saraiva de Carvalho 2A em perspectiva tomada da R. de Santa Isabel.
A Fachada, (1875), com um corpo central, levemente avançado dos dois corpos laterais, servido por um pequeno adro, acima do nível da rua, rodeado por cortina gradeada.
João Goulart, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1956.
idem, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 64-65, 1939.

Friday, 7 November 2025

Casa do Poço do Borratém conhecida impropriamente por casa de João das Regras

Se o leitor alguma vez passar no largo actual do Borratém — diz Mestre Castilho, a quem vamos sempre seguindo — , há-de reparar num grande arco ogival de forte cantaria, que lá está, poucos metros desviado da esquina do beco dos Surradores. Havia, junto desse, outro, de diversa altura, muito característico; desapareceu na reconstrução do prédio em Fevereiro e Março de 1871. Felizmente copiei-os [vd. imagem abaixo] eu ambos, e conservo-os. [...]
Quanto a mim (salvo melhor juízo) a casa onde habitou João das Regras, a casa onde habitaram muitos dos seus sucessores, não é aquela.
(CASTILHO, Júli de o, Lisboa Antiga-Bairros Orientaes,Tomo.II, 1884)

Casa do Poço do Borratém conhecida impropriamente por casa de João das Regras |c. 1900|
Rua do Arco do Marquês de Alegrete. Procissão da Senhora da Saúde.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Esta casa, situada no Poço do Borratém, é tradicionalmente referida como a Casa de João das Regras, e embora não exista qualquer prova documental, é comum mencionar-se que o jurista português, apoiante de D. João I, viveu neste edifício.
Depois do terramoto de 1755, que destruiu grande parte do edifício primitivo, a casa foi reconstruída, mantendo-se apenas a arcada gótica do conjunto. Em 1851, um dos arcos foi demolido, subsistindo dois. Actualmente persiste apenas um arco ogival no piso térreo.

Casa do Poço do Borratém conhecida impropriamente por
casa de João das Regras 
Vêem-se os dois arcos do pavimento térreo, como ainda existiam em 1871; actualmente
apenas se conserva o do lado direito.
Desenho de Júlio de Castilho, in Lisboa Antiga-Bairros Orientais

De planta rectangular, a Casa de João das Regras destaca-se pela verticalidade da estrutura, dividida em quatro pisos acrescentados por águas-furtadas. No piso térreo, inscreve-se o grande arco de ogiva, que permite o acesso ao interior, emoldurando uma porta com montras e janela superior. Os três pisos superiores têm igual composição, com duas janelas de sacada e respectivo varandim de ferro em cada um. 
Nota(s): O espaço é hoje utilizado para diversos fins, estando sediada uma loja no andar térreo, e vários serviços administrativos nos andares superiores. [DGPC]

Casa do Poço do Borratém conhecida impropriamente por
casa de João das Regras |1923|

Barraca de venda de peixe (posto n.º 1) junto ao Beco dos Surradores.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 2 November 2025

Avenida da República: o moderno e o clássico

A Avenida da República pertence às «Avenidas Novas» que foram rasgadas no fim do séc. XIX, princípio do séc. XX. O escritor Stefan Zweig (1881-1942) participou, em 1936, num congresso do Pen Club e fez uma breve paragem em Lisboa, durante a sua viagem de barco para o Brasil.

Lisboa, terça-feira 11 de Agosto.
Desengano agradável. Não tinha esperado tanta cor desta cidade. Uma outra Génova, mas mais colorida, mais meridional, mais natural, com magníficas ruas elegantes e as Avenidas, com os seus cafés. E, contudo, burros e mulheres de cesto à cabeça nas ruas secundárias: grande estadão no meio da pobreza e miséria no meio do luxo, este magnífico contraste dos países meridionais. 
As pessoas não são tão altivas como em Espanha, nem tão bela e fortemente morenas. E não têm aquele orgulho dos «caballeros», embora passem igualmente todo o dia a mandar engraxar os sapatos. Por aí deambulo horas a fio: as lojas abertas, que vendem umas porcarias quaisquer, têm um encanto particularmente primitivo, mais do que as Avenidas, que têm um ar um tanto ou quanto balcânico. [Frank: 2019]

Avenida da República, 58 com o Campo Pequeno, 1 |1963-06|
Antigo Largo Doutor Afonso Pena, antes Campo Pequeno ou Largo do Campo Pequeno.
Prédios demolidos (moradia incluída) pouco tempo depois de «batida a chapa» em 1963 por J. Goulart. Actualmente ocupado pelo antigo edifício de escritórios Cosec. Ao fundo à esq. — junto ao arvoredo — nota-se, parcialmente, o Viaduto Ferroviário de Entrecampos.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Erigido na Avenida da República, 32, em 1946, de acordo com o projecto do arq. Pardal Monteiro, o edifício na imagem abaixo destaca-se pela fachada que evidencia o elemento central da composição, com saliência e ritmo marcado pela sucessão de janelas e varandas, culminando na pérgula que o coroa. Em 1983, foi alteado com um corpo de três pisos recuados, projectados pelos arquitectos Leão Miranda e Hestnes Ferreira, que respeitaram a estrutura original da pérgula e a reinterpretaram na cobertura de forma mais complexa, com um belvedere. A qualidade dessa intervenção rendeu ao edifício o Prêmio Eugênio dos Santos de 1991.

Avenida da República, 32 comAv. Miguel Bombarda |1963-06|
Ao centro vê-se o prédio riscado em 1946 pelo arq. Pardal Monteiro.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

Friday, 31 October 2025

Beco da Índia que foi de S. Marçal

India (beco da) (vulgo de S. Marçal) primeiro à esquerda na travessa do convento da Encarnação, indo do largo do convento da Encarnação, não tem saída, freguezia da Pena 1 a 9 [hoje de Arroios]. [Velloso: 1869]

«Ao conquistador de Goa, emfim, ao vencedor de Ormuz, ao genio extraordinário que sonhou com um império, para o dar a Portugal, a Aftbnso d'Albuquerque, Lisboa, apóz lhe haver lançado as cinzas ao vento, deu-lhe por homenagem a ruasinha estreita e escura, onde o filho do heroe edificou umas casas, e a índia, a própria índia, aquella índia, nossa gloria e nossa perdição, Lisboa entendeu que a maior commemoração que lhe poderia offerecer, seria o confiar-lhe a designação de um beco sem sahida; — o beco «da índia», no largo da Encarnação! A índia reputada em Lisboa beco sem sahida!
Grande lição de historia philosophica, envolta na mais pungente das ironias!»
[Brito: 11935]

Beco da Índia, a Sant'Ana |c. 1900|
Vista tomada da Tv. do Convento da Encarnação.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 26 October 2025

Rua Andrade Corvo, 15: Garage Parisiense

Note-se que por esta altura - início séc. XX - esta nova via mais não era do que um beco sem saída pois ainda não se encontrava completamente rasgada, nomeadamente junto à Av. Duque de Loulé, como, aliás, se pode ver ao fundo na 1ª imagem.

Pelo edital da CML de 29 de Novembro de 1902, esta nova serventia, sita entre a Avenida Duque de Loulé e a Rua Viriato (antiga Barros Gomes), passou a ter a denominação de Rua Andrade Corvo.

Rua Andrade Corvo, 15 na direcção da Avenida Duque de Loulé |c. 1911|
Entrada da Garage Parisiense.
Recorde-se que o primeiro veículo automóvel a circular em Portugal foi um Panhard & Levassor, trazido de Paris pelo Conde D. Jorge de Avillez em 1895.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Um dos primeiros automóveis a circular em Lisboa, à entrada da "Garagem Parisiense"
Rua Andrade Corvo, 15 na direcção da Avenida Fontes Pereira de Melo |c. 1911|
Entrada da Garage Parisiense junto ao cruzamento com a R. Sousa Martins; ao fundo, à dir., a seguir aos omnipresentes tapumes lisbonenses, vislumbra-se o Palacete da Avenida Fontes Pereira de Melo, 28Sede do Metropolitano de Lisboa.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Um dos primeiros automóveis a circular em Lisboa, à entrada da "Garagem Parisiense"

N.B. João de Andrade Corvo (1824-1890), filho de um miguelista convicto, formou-se liberal depois de observar as convulsões das lutas entre os dois partidos. Estudou medicina, matemática e ciências naturais. Foi coronel de engenharia e lente da Escola Politécnica e do Instituto Agrícola. Na política estava próximo do Partido Regenerador e foi membro do governo, deputado e par do reino. Para além de político, foi também dramaturgo e romancista.

Rua Andrade Corvo, 15: «Garage Parisiense» |início séc. XX|
 Recolha de automóveis, venda de gasolina e, aos melhores preços do mercado, de óleos, pneus e acessórios, propriedade da firma “Vaquinhas & Cª".
Nota(s): A palavra "automóvel" surgiu na França em 1875 e vem do grego autos, que significa "por si só" e do latim mobilis, que quer dizer "móvel".
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Friday, 24 October 2025

Largo do Leão

Topónimo cuja origem se desconhece e que segundo Queiroz Vellozo no seu Roteiro Das Ruas De Lisboa «fica no centro da estrada da Charneca, indo da rua direita d'Arroyos, junto da azinhaga das Freiras, freguezia de S. Jorge 1 a 18 seguido». [Vellozo: 1869]

Largo do Leão, 9 |1961|
Antiga Escola Municipal nº 14; aqui funcionou foi a sede da Câmara Municipal do extinto concelho dos Olivais.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Largo do Leão, 9 |1946|
Antiga Escola Municipal nº 14; aqui funcionou foi a sede da Câmara Municipal do extinto concelho dos Olivais.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 19 October 2025

Sitio onde a Rua da Adiça encontra a Rua Norberto de Araújo

A Adiça, denominação muito antiga, foi durante 63 anos (1893 a 1956) Calçada de S. João da Praça. O fontanário singelo que aqui se encontrava em tempos (vd. 2ª imagem), foi substituído por este que ali se vê escondido numa pequena gruta.
Mal sabia o insigne autor das "Peregrinações" que ao dizer, em 1943, o que abaixo transcrevemos, quase vinte anos volvidos (1956), a edilidade aprovaria uma nova designação para o troço da R. da Adiça — desde o n.º 53-70 até ao Largo das Portas do Sol — passando a denominar-se "Rua Norberto de Araújo" — homenagem ao ilustre olisipógrafo (1889-1952).

Sítio onde a Rua da Adiça encontra a Rua Norberto de Araújo (fontanário) |post. 1965|
A Adiça. Aí temos um dos mais contemplativos recantos da Alfama. [Araújo: 1939]
Amadeu Ferrari, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está «identificado no abandalhado amL

O Sítio da Adiça — recorda Norberto de Araújo — nasce nas Portas do Sol e morre em S. Rafael. [...] Adiça! Que graça arcaica de legenda toponímica! Hoje chama-se Calçada de S. João da Praça [(até 1956. depois voltou a denominar-se R. da Adiça]. Os velhos do lugar só sabem onde fica a Adiça. Eis um dos mais típicos e generosos compartimentos alfamistas. [Araújo, 1943]

Local onde a Rua Norberto de Araújo e Rua da Adiça se encontram |1950|
Observa-se o primitivo fontanário na R. da Adiça antes das remodelações em Alfama na década de 1960. 
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Friday, 17 October 2025

Quartel da Graça

Graça (largo da) fica entre a calçada da Graça, caracol da Graça, travessas das Monicas, de S. Vicente, da Pereira, rua do Sol da Graça e travessa do Monte, freguezias de Santo Andre 93 a 136, Santa Engracia 1 a 52, S Vicente 53 a 92.
Foi fundada a egreja de Nossa Senhora da Graça no anno de 1147, a primeira vez e a segunda em 1291, sendo reedificada em 1526 е 1556. O convento serve de quartel para infanteria[Veloso: 1869]

Tudo o que a Graça oferece à vista é posterior ao Terramoto, a não ser o casco invisível de uma ou outra casa, fora da área central do Bairro, e a Convento, hoje [1938] Quartel, com sua Igreja. Os mouros, que seus arredores ocupavam antes da conquista cristã, chamavam a este sítio «Almafala» — recorda Norberto de Araújo — designação «de Graça» que data precisamente de 1305, nem mais ano nem menos ano. Continuou depois a ser subúrbio, estrada de comunicação desta parte da Cidade com os caminhos que levavam para as quintas e lugarejos do ocidente.

Largo da Graça |1949-03|
Stio do estrangulamento entre os seus terreiros superior e inferior. À dir. nota-se a igreja e convento e quartel da Graça e, ao fundo, observa-se a chamada Vila Sousa.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Dilecto — prossegue o distinto olisipógrafo —: vale a pena, mais do que noutro qualquer antigo Convento tornado casa militar, percorrer o edifício, apressadamente que seja, e no que nos for possível.
Em 1834, pela extinção das Ordens, instalou-se no edifício conventual o regimento de Infantaria 10, alguns anos mais tarde Infantaria 5, que foi a unidade grande detentora da casa, claustros e cerca dos Agostinhos. Em 1918, estiveram neste Quartel, episodicamente, Infantaria 32 (de Lagos) e Infantaria 30 (de Bragança); de 1919 a 1928 um esquadrão da Guarda Republicana sendo depois o edifício entregue a Caçadores 7, que hoje ocupa uma parte com uma companhia de adidos e duas companhias de reformados, havendo-se instalado noutra parte do casarão monástico a terceira companhia de Saúde.
O aspecto exterior do Quartel, ameado nas guarnições, e com o portal de tipo militar com legendas, muito sumidas, relativas a acções em combate de Infantaria 5, é de 1842.

Largo da Graça |1912|
À esq. nota-se o convento e quartel da Graça.
Postal ilustrado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 42-43, 1938.

Sunday, 12 October 2025

Aqueduto das Águas Livres: a «incrível magestade os seus enfileirados trinta e cinco arcos»

A grandiosidade do Aqueduto das Águas Livres deslumbrou os viajantes que demandaram Lisboa. Mesmo os menos pródigos em encómios aos marcos monumentais da cidade reconheceram os seus atributos estéticos e funcionais: 
No vale de Alcântara, a curta distância de Lisboa, tive ocasião de ver o famoso aqueduto que ligava duas colinas [...] Era todo de mármore branco e não ficava a dever nada aos mais magnificentes aquedutos que nos deixaram os antigos, quer em utilidade e grandeza, quer em elegância. [Gorani, 1765, p. 100]

 

Aqueduto das Águas Livres |1946|
A extraordinária arcaria do vale de Alcântara, numa extensão de 941m, é composta por 35 arcos, incluindo, entre estes, o maior arco de pedra em vão do mundo, com 65,29 m de altura e 28,86 m de largura.
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Não existe em Lisboa nenhum edifício que se imponha pela vastidão e majestade ou mesmo pelo seu conjunto [...] O único edifício público que merece ser visto está fora de Lisboa — é um soberbo aqueducto, destinado a abastecer de água esta cidade [...]: nele se conjugam a magnificência com a beleza, o ousio à solidez da construção. [Carrere, 1796, pp. 29-30]
É impossível comunicar aos outros o sentimento de admiração que se apossou de nós logo à primeira vista, porque a imaginação não pode elevar-se a uma concepção tão sublime como aquela que a realidade apresenta. [Ruders, 1798-1802, p. 48]

Aqueduto das Águas Livres |190-|
Quinta da Rabicha
Construído entre 1731-1748, contou desde o início com o apoio de. D. João V. Na direcção das suas obras trabalharam. o Coronel Engenheiro Manuel da Maia, Custódio Vieira e o romano António Canevari, arquitecto italiano, e João Frederico Ludovice.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Aqueduto das Águas Livres |1900|
O Aqueduto das Águas Livres «n'uma  recta quebrada» foi «a grande obra de engenharia do reinado joanino» que partiu de uma iniciativa do procurador da cidade, Claudio Gorgel do Amaral, em 1728. Com um grande declive, a vista é particularmente dominada pela imponente conduta de água que, com trinta e cinco arcos, se estende sobre o vale fundo. Árvores altas e casas de quatro andares parecem ficar como a seus pés.
Cunha Moraes, in Lisboa de Antigamente

O Aqueduto das Águas Livres, no seu troço mais monumental, sobre o vale de Alcântara, é atravessado por várias estruturas viárias (ramais ferroviários de Alcântara e da ponte 25 de Abril, avenidas de Ceuta e Calouste Gulbenkian, Eixo Viário Norte/Sul, entre outras). O Monumento, propriamente dito, sobre a Ribeira de Alcântara, começado a construir-se em 1739, na extensão de 941 metros, e nele, a assinalar: 35 arcos, dos quais: 18, de volta inteira, do lado de Lisboa; 14 (os do centro) de perfil ogival, com robustos pegões, o maior dos quais «Arco Grande» — mede 65,29m de altura e 28,86m de boca (largura); e 3, de volta inteira.
Chamei de ominosa memoria ao arco grande; todos me entendem — diz Júlio de Castilho; foi o alto d'aquella ogiva, o theatro lugubre das façanhas de Diogo Alves, o assassino. O ecco d'essa aboboda, que repete varias vezes cada palavra , ainda se lembrará talvez dos ais angustiosos das victimas arrojadas lá de cima, e volteando no ar até se espalmarem no lagedo natural do chão. 
(Júlio de Castilho (1840-1919) . «Aqueducto das Aguas Livres, 26 de Outubro de 1901)

Aqueduto das Águas Livres, Arco Grande |c. 1912|
Calçada da Estação e linha férrea Lisboa-Sintra, inaugurada em 1887, chegou a Campolide em 1895.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Friday, 10 October 2025

Ruas Saraiva de Carvalho e Domingos Sequeira

Passada a confluência das ruas de Ferreira Borges è Domingos Sequeira, a Rua Saraiva de Carvalho aproxima-se do seu lanço mais antigo, onde ainda aparecem uma ou outra casa de modesta construção de há cento e tal anos, pátio tipo setecentista desfigurado, no n.º 212 [ao fundo], e umas notas dispersas de poesia urbana antiga. Não oferece, porém, qualquer espécie de interesse em monumental ou em pitoresco. [ARAUJO, Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 62, 1939]

Ruas Saraiva de Carvalho e Domingos Sequeira |1961|
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

N.B. No último quartel do século XIX, as Ruas de Santa Isabel e de S. Miguel da Boa Morte passaram a constituir um arruamento único com a denominação de Rua Saraiva de Carvalho, através da publicação do Edital de Municipal de 16/11/1885, em homenagem ao jurisconsulto Saraiva de Carvalho.

Sunday, 5 October 2025

Alfândega de Lisboa, fachada sul

Este edifício, pouco atraente na sua simplicidade, merece, contudo, a nossa atenção e um ou dois reparos de ordem histórica. Por um lado, trata-se do antigo celeiro onde se armazenava o trigo (e por isso veio a dar o nome à rua que o ladeia); por outro lado, um olhar cuidadoso à fachada sul faz-nos reparar em elementos relacionados com o facto de se encontrar mesmo à beira do rio, com cais próprio e acesso directo. Como outros edifícios de Lisboa, contava com um espaço aberto no interior o que lhe dá uma estrutura arquitectónica sui generis.
(ADRAGÃO, José Victor & PINTO, Natália & RASQUILHO, Rui, Lisboa, 1985)

Alfândega de Lisboa, fachada sul |195-|
Av. Infante D. Henrique, 36
Salvador de Almeida Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Fachada Sul do antigo e imponente edifício público pombalino da Alfândega de Lisboa. Situado na margem do Tejo foi construído entre 1765-68 para Celeiro Público. Possuía à época um cais privado, já desaparecido.

Vista aérea de Alfama |1953-02|
Em baixo observa-se o edifício da Alfândega de Lisboa na Av. Infante D. Henrique.
Manoel P. Carneiro, in Lisboa de Antigamente

Friday, 3 October 2025

Rua Marquês de Sá da Bandeira

As chamadas Avenidas Novas são delimitadas pela Avenida Duque de Ávila, a sul, pela Rua do Arco do Cego, a oriente, pela linha férrea de cintura, a norte, e pela Rua Marquês Sá da Bandeira, a poente (..). Enfiemos agora por esta Travessa do Marquês de Sá da Bandeira, antiga e simpática estrada que levava da Rua das Cangalhas, ao Campo Pequeno.==
[ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 63, 1939)

Antiga Estr. que principia na Barreira do Rego e termina no Largo do Rego a S. Sebastião da Pedreira. Por deliberação da C.M.L. de Belém em 20/10/1881, a Rua Marquês de Sá da Bandeira passou a terminar no Campo Pequeno. Por deliberação da CML de 24/11/1888, edital de 01/12/1888, foi integrada na Rua Marquês de Sá da Bandeira a via pública que fica no seu prolongamento denominada Estr. do Rego. [cm-lisboa]

Rua Marquês de Sá da Bandeira | 1964|
Militar e Politico 1795-1876
Muro de cantaria do ntigo Parque «de José Maria Eugénio [de Almeida]» — tradição oral mais pró­xima — ou Santa Gertrudes e actual Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

N.B. Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, 1.º Barão, 1.º Visconde e 1.º Marquês de Sá da Bandeira, (1795-1876). Foi fidalgo da Casa Real, Par do Reino, Ministro de Estado, Marechal de campo, Director da Escola do Exército, entre outros cargos e actividades.
Destacou-se pela sua bravura no campo de batalha, primeiro durante as Invasões Napoleónicas e mais tarde durante as Guerras Liberais, onde tomou o partido dos liberais contra os miguelistas.

Rua Marquês Sá da Bandeira |c. 1940|
Chafariz, hoje demolido, localizado no actual Largo Azeredo Perdigão; ao fundo vê-se
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

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