Observemos agora — convida-nos Norberto de Araújo — já no areal da Junqueira, onde tem sua frente para a Avenida da índia, este casarão de feitio original, atarracado e misterioso, que serve hoje [1939] de Posto [do Porto Franco, vd. 3ª imagem] da Guarda Fiscal, e cujo semblante não desdiz da função odiosa que teve um dia o Forte da Junqueira, que mais assinalado foi pelo apodo de «Prisões da Junqueira».
Era o Forte de S. João irmão do Forte de S. Pedro, êste mais a poente, ambos incluídos no sistema de fortificações da segunda metade do século XVII. Mais tarde, em tempo de D. José, foi convertido em prisão de Estado, tenebroso cárcere, com suas casas subterrâneas, suas lendas tristes, horríveis narrações que por muito exageradas que tivessem sido pelo desespero das vítimas e pela «piedade», sempre presente, dos inimigos do Marquês de Pombal, bastante têm de verdadeiro e execrando. Cadeia severa dos presos políticos, tantos deles inocentes — túmulo em vida de grande parte dos encarcerados nunca mais saiu para ver o sol — ela está ligada à história do século XVIII; encheu-se de nobres e de plebeus, réus confessos e simples suspeitos, principalmente quando da «conspiração dos Távoras».
Este forte- prisão tem três pavimentos abaixo do nível do solo; o mais fundo era o «cemitério», pois nele se enterravam os que morriam durante o cativeiro, e os outros dois constituíam propriamente as prisões. Estão entulhados de areia, supõe-se que por ordem de D. Maria I, no propósito de que mais se não falasse do sinistro local.¹
Outrora — refere o jornalista e historiador Rocha Martins — a água marulhava contra as suas paredes
enverdecidas e limosas, estalava com fúria nas noites tempestuosas a
acordar os prisioneiros que, após o atentado contra D. José I, ali
desembarcaram dos botes, entre armas, e foram, espantados e de algemas nos pulsos habituados às rendas caras das vestes, ocupar as prisões que ficavam debaixo das casas do desembargador, do escrivão, dos carcereiros e da capela e por cima dos subterrâneos onde eram os antros de tortura e o cemitério, para o qual se arrojaram algumas ossadas com seus entroncamentos de nobres espinhas de reis godos.
Os que ali entraram arrancados dos seus palácios, dos saraus, das recâmaras dos paços, das salas nobres de Belém, do Calvário e de Azeitão, eram os Óbidos e os S. Lourenço, os Alorna e os Ribeira, alguns jesuítas confessores da fidalguia, os magistrados afectos à nobreza e o marquesinho de Gouveia, filho do duque de Aveiro. Os senhores da véspera eram agora os escravos e por isso no sigilo do Estado, no negrume misterioso da noite, aqueles dezanove cárceres se encheram de fidalgos e de padres, aquelas prisões bafientas, que atravessámos, se pejaram de condes, de marqueses e de jesuítas.²
Os que ali entraram arrancados dos seus palácios, dos saraus, das recâmaras dos paços, das salas nobres de Belém, do Calvário e de Azeitão, eram os Óbidos e os S. Lourenço, os Alorna e os Ribeira, alguns jesuítas confessores da fidalguia, os magistrados afectos à nobreza e o marquesinho de Gouveia, filho do duque de Aveiro. Os senhores da véspera eram agora os escravos e por isso no sigilo do Estado, no negrume misterioso da noite, aqueles dezanove cárceres se encheram de fidalgos e de padres, aquelas prisões bafientas, que atravessámos, se pejaram de condes, de marqueses e de jesuítas.²
Forte de S. João da Junqueira: pátio das prisões e capela [1906] in Illustracão Portugueza |
Forte de S. João da Junqueira: pátio. poço e capela [1906] in Illustracão Portugueza |
Forte de S. João da Junqueira: terraço, clarabóia da capela [1906] in Illustracão Portugueza |
Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 56-57, 1939.
² MARTINS, Rocha, O Marquês de Pombal Pupilo dos Jesuítas, pp. 241-242, 1924.
Narrativa muito interessante do ponto de vista histórico, político e social. Ao que parece, aqui estiveram, todos aqueles implicados no "processo dos Távoras",acontecimento posterior ao "Terramoto de 1755" e, relacionados com o denominado "atentado contra o Rei Dom José I" do qual foram objecto de torturas terríveis e cruéis até à sua execução, que digamos foi horrível. Penso que foi aí, que a futura Rainha Dona Maria I, mãe de Dom João VI, começou a enlouquecer.Os castigos aplicados terão sido indicados por sua Alteza, que O Marquês de Pombal, cumpriu de bom grado, pois encontrava-se politicamente incompatibilizado com a Nobreza(que odiava), sua contemporânea. Processo que historicamente está provado que foi uma farsa. Quando a justiça condena alguém inocentemente é deplorável, terrível, não há perdão possível e, a História é implacável no seu julgamento.
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