A Ginjinha do Largo de São Domingos abriu portas em 1840 e mantém-se praticamente igual. Um pequeno balcão e dezenas de garrafas de licor. Nesta foto a grande diferença para os dias de hoje era a presença de engraxadores em frente à porta.
Desde 1840 que os lisboetas e os que visitam a capital vão ao Rossio para se confrontar com a pergunta: “Com ou sem elas.”
A ginja, rigorosamente seleccionada, e a produção do licor está na
Arruda dos Vinhos. O negócio vai na quinta geração da família Espinheira.
Largo de São Domingos [198-] DN, in Lisboa de Antigamente |
«É mais fácil com uma mão dez estrelas agarrar, fazer o sol esfriar, reduzir o mundo a grude, mas ginja com tal virtude é difícil de encontrar.» O verso está escrito há mais de um século no balcão d’A Ginjinha. E terá quase tanto tempo como a lenda do monge da Igreja de Santo António, Francisco Espinheira. A história, que está contada à porta, diz que esta doce bebida nasceu da recomendação de um monge à família galega Espinheira para deixar fermentar ginjas dentro de aguardente, juntando-lhe açúcar, água e canela. Por ser uma bebida doce e barata tornou-se um êxito imediato, transformando a ginjinha na bebida típica de Lisboa.
Tem a Ginjinha do Rossio duas meias portas, onde se podem ver umas pinturas do actor Alexandre de Azevedo, antigo pintor de tabuletas, estão inscritos os seguintes versos, pelos quais o galego dono da casa pagou, «em bons tempos de penúria e quando o dinheiro era dinheiro, a soma de 5.000 reis» a Eduardo Fernandes (ESCULÁPIO) :
Recorda-nos o autor dos versos que «A pintura representa duas tipas a escorropichar copinhos, vendo-se, na outra mela porta e na mesma atitude, dois tipos, num dos quais o artista me quiz representar, mas com grande infelicidade».
Largo de São Domingos [post. 1940] Observa-se A Ginjinha, à esquerda, no prédio que torneja para o Rossio. Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente |
Tem a Ginjinha do Rossio duas meias portas, onde se podem ver umas pinturas do actor Alexandre de Azevedo, antigo pintor de tabuletas, estão inscritos os seguintes versos, pelos quais o galego dono da casa pagou, «em bons tempos de penúria e quando o dinheiro era dinheiro, a soma de 5.000 reis» a Eduardo Fernandes (ESCULÁPIO) :
“Dona Prudência da Costa,
Delambida e magrisela,
Fez de ser tola uma aposta,
Diz que ginginha nem vê-la
Porque, coitada, não gosta.
E a ama de um reverendo
Que é das bandas da Barquinha
Tem um aspecto tremendo,
Bebe aos litros da ginginha
E é isto que se está vendo.”
Recorda-nos o autor dos versos que «A pintura representa duas tipas a escorropichar copinhos, vendo-se, na outra mela porta e na mesma atitude, dois tipos, num dos quais o artista me quiz representar, mas com grande infelicidade».
“O Mateus é um chóchinha
Mais feio que um camafeu,
Magro, tísico, um fuinha,
Nunca na vida bebeu
Nem um copo de ginginha.
O Irmão, que sabe a virtude
Desta divina ambrozia,
É gordo como um almude,
Bebe seis copos por dia,
Por isso goza saúde.” [1]
[1](in Olisipo : boletim do Grupo «Amigos de Lisboa», n.º 17, Janeiro 1942)
A Ginjinha, porta, Largo de São Domingos [1967] Sid Kemer, in Lisboa de Antigamente |
Estou contente por ver que a icónica Ginginha continua no mesmo sítio, com o mesmo aspecto, sem modernizações e sem avisos de que ao produto fornecido não foi retirado o glúten, extraída a lactose e acrescentadas vitaminas, sais minerais e óleo insaturado de sementes de sésamo indispensáveis ao desenvolvimento físico e intelectual do homem e da mulher do nosso tempo. Nunc est bibendum. Bebamos enquanto pudermos e as brigadas fundamentalistas dos inventores da Nova Razão não nos assassinem a identidade nas redes sociais! Viva a Espinheira!
ReplyDeleteA fotografia Largo de São Domingos [post. 1970], pelo tipo de carros na fotografia deve ser dos anos 40, 50 do século XX.
ReplyDeleteDesde Galiza, orgulhoso dos galegos de Lisboa
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