Alcântara, que hoje faz parte de Lisboa, era há poucos anos um dos arrabaldes — escrevia Angelina Vidal por volta do ano de 1900. Ficava fora das muralhas de D. Fernando.
Todos ai se lembram da ponte que formava a barreira de Lisboa, sobre o caneiro de Alcântara, de mefítica memória.
Al-cantara é palavra árabe que significa a ponte. Ficou com o nome que lhe davam os mouros, como afinal muitas palavras do seu idioma vieram até nós mais ou menos deturpadas.
A grande ponte de Alcântara é celebre pelos combates de 14 de Maio de 1805, e 10 de Junho do mesmo ano. Ali se encontraram os heróicos soldados da Leal Legião Lusitana com as tropas invasoras, às quais aplicaram uma soberba derrota. Ficou memorado o valor e sangue frio dos nossos, nessas duas batalhas.
Também aqui se deu a desgraçada batalha de 25 de Agosto de 1580 [vd. 4ª imagem], na qual ficou derrotado D. António, Prior do Crato, e com ele vencido o nobre Portugal durante sessenta anos.
O combate tinha sido um arrojo da parte dos aportugueses, e só se pôde explicar por fanatismo patriótico. Quatro mil homens apenas compunham o exército de D. António, e esses mesmos mal armados, sem conhecimentos militares, e eram estes a fazer face a vinte e dois mil soldados do Duque de Alba, bem instruídos, bem armados e bem alimentados
Além
do que não era só a força militar como também a marítima, constando de
uma forte esquadra, que enchia o rio de Alcântara, ao tempo muito maior
que modernamente.
Alcântara
estava ainda quasi desabitada. Só depois da restauração se foi
povoando, principalmente desde que D. Afonso VI foi habitar o palácio real do Calvário.
D.
Pedro II também gostava muito do sitio, e aqui passava a estação
calmosa; morreu neste palácio. Pouco a pouco se foi enchendo de
arruamentos até que em 1755 já formava uma paróquia extra-muros.
O antigo riacho que ali correra, e que ultimamente estava consideravelmente reduzido pelo desvio de aguas, que a ele aluíam, principalmente antes da construção do monumental Aqueduto, — obra que seria desnecessária se a esse tempo fosse já conhecida uma singelíssima lei física com respeito à propriedade que assiste às correntes de agua canibalizadas, — tornara-se um foco de emanações pútridas, de miasmas fétidos, de perigosa vizinhança. O Caneiro de Alcântara foi afamado como uma das coisas mais dignas de lástima e mais repugnantes da capital que o teve por muito tempo por limite naquele ponto.
É um dos importantes benefícios que se deve ao progresso, a eliminação daquele foco infeccionante.
A prolongação da linha férrea de Cascais até ao Cais do Sodré e o estabelecimento da linha de Cintura, que liga a Estação de Alcântara com a do Norte, realizaram esta obra meritória. O velho Caneiro foi coberto em longa extensão, desaparecendo a antiga ponte.
É um dos importantes benefícios que se deve ao progresso, a eliminação daquele foco infeccionante.
A prolongação da linha férrea de Cascais até ao Cais do Sodré e o estabelecimento da linha de Cintura, que liga a Estação de Alcântara com a do Norte, realizaram esta obra meritória. O velho Caneiro foi coberto em longa extensão, desaparecendo a antiga ponte.
O sítio da Ponte de Alcântara [1941] O seu local era na junção das actuais Ruas de Alcântara — donde é tomada a foto — e do Prior do Crato, D. António, na direcção dos carris da viação eléctrica, e perpendicularmente à linha férrea que vai da estação de Alcântara-Terra para a de Alcântara-Mar pelo leito da Rua de João de Oliveira Miguens. As cancelas da passagem de nível do caminho de ferro marcam aproximadamente o vão do arco central do ponte, e a linha da frontaria do Mercado de Alcântara e os topos fronteiros dos muros divisórios do terreno do leito da linha férrea marcam a largura da ponte. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Na ponte [...] esteve uma estátua colossal de S. João Nepomuceno. primoroso trabalho de escultura feito pelo insigne escultor João António de Pádua, e colocada em 1743. No pedestal mandaram os moradores do bairro pôr uma inscrição que dizia: — A S. João Nepomuceno, novo taumaturgo do mundo, dominador da terra, do fogo, da agua e do ar, e sobretudo aplacador dos mares, um seu devoto, reconhecido para com o seu protector, ergueu estátua, no ano de 1743, depois de salvo.
O artista que tez esta estátua notabilizou-se em vários trabalhos de mérito superior, como os celebres púlpitos da igreja do Colégio de Santo Antão de Lisboa, o trabalho esculturado da capela-mor da igreja de S. Domingos, as imagens da capela-mor da Sé de Évora, etc. Pedro António Luques, hábil artista cinzelador, cooperou brilhantemente em todos os principais trabalhos de Pádua.
O artista que tez esta estátua notabilizou-se em vários trabalhos de mérito superior, como os celebres púlpitos da igreja do Colégio de Santo Antão de Lisboa, o trabalho esculturado da capela-mor da igreja de S. Domingos, as imagens da capela-mor da Sé de Évora, etc. Pedro António Luques, hábil artista cinzelador, cooperou brilhantemente em todos os principais trabalhos de Pádua.
Ponte de Alcântara em 1862 Vê-se a estátua de S. João Nepomuceno com o seu gradeamento (que consta era em bronze) erigida em 1743 e apeada c. de 1887, e á direita o começo da estrada e do muro de circunvalação construidos em 1845. Gravura por Nogueira da Silva, in Archlvo Pittoresco |
Esquecia-nos dizer que a estátua de S. João Nepomuceno foi
arrancada de cima da ponte e mudada para o Museu do Carmo [onde se encontra na ala do cruzeiro, do lado da Epístola].
Ouvimos que a operação foi feita com tanta delicadeza que a estátua ficou truncada.
As dimensões desta obra monumental que se conserva. são: Plinto: 1,17m x 1,5m de frente, e 2,65m de altura; estátua com a sua base: 3,35m de altura; altura total: 6,0m.
N.B. Com os elementos de que dispomos — diz o eng.º A.Vieira da Silva — ,
devemos presumir que a ponte era construída de cantaria, e teve de
origem três vãos de arcos, sendo o central de volta inteira; que o
oriental, por desnecessário, foi entaipado talvez no século XVII; e que
o ociental foi vedado nos meados do século XIX.
No arquivo do extinto Ministério das Obras Públicas existiam os desenhos de um projecto de regularização da ribeira e alargamento da ponte, em que esta e as suas circunvizinhanças estavam representadas. A planta destes projectos deve ser do 3.º quartel do século XVIII (1759 a 1769), em que o 1.º ministro de D. José era conde de Oeiras), e mostra um arco grande, e um mais pequeno perto do extremo ocidental da ponte. Parece dever Inferir-se que no 3.º quartel do século XVIII a ponte só conservava dois arcos dos três mencionados, ou que então possuía os. três, mas estando o oriental já tapado ou inutilizado.
___________________________________________________________________________________Bibliografia
VIDAL, Angelina, Lisboa antiga e Lisboa moderna: elementos históricos da sua evolução, 1900.
Olisipo: boletim do Grupo «Amigos de Lisboa», A Ponte de Alcântara e suas circunvizinhanças: notícia histórica, por A. Vieira da Silva, 1942.
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ReplyDeleteSegundo creio, os 2 marcos que estavam colocados nas entradas da ponte estão agora no Museu de Lisboa, no pátio carral do Palácio Pimenta.
ReplyDeleteCumprimentos
Passo horas a ler as suas publicações. Tenho por costume dizer que sou uma filha de Alcântara. Fui gerada e criada nesse bairro. Até aos 4 anos na Rua Rodrigues Faria e até aos 22 na Rua do Arco a Alcântara de onde sai há 40 anos. Desconhecia por completo a referência a al-cantara, ou a ponte que ali existiu. Muitos parabéns pelo seu trabalho.
ReplyDeleteGrato pelo apreço. Cumps
DeleteBoa tarde Flor....Rua do Arco 🤔. Nasci na rua do Arco, morei até aos 8a mudei para st.amaro. Mais tarde voltei a morar na rua do Arco novamente em frt á casa onde nasci. Alcântara até hoje vive em mim e estou sempre perto. Sendo filho do bairro, lembrare-ei certamente de si ou familia como quarentão que sou 🙂.
DeleteWonderful wiew from my Beautiful Lisboa.
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