Sunday, 9 July 2017

Paço de Belém (Palácio Presidencial de Belém)

Ora temos diante de nós o Palácio de Belém, antigo Paço Real e, desde 1910, Palácio Presidencial. 

Este edifício, enriquecido de jardins e magnificamente situado, pertence à história política portuguesa dos últimos dois séculos. Não tendo grandeza arquitectónica é, contudo, simpático, paço arrabaldino ainda a denunciar-se através dos restauros, mesmo exteriores, de que tem beneficiado.

Umas casas que existiam aqui no século XVI, e os chãos largos que as circundavam, constituíam um prazo foreiro aos frades dos Jerónimos; D. Manuel de Portugal, comprou àqueles religiosos os terrenos, que se integraram no Morgadio dos Cortes Reais, o qual, havendo passado às mãos de D. Luiz de Portugal (1623) acabou per cair na posse da Condessa de Aveiras, D. Joana de Portugal, e desta na do 3.° Conde, seu filho, D. João da Silva Telo de Menezes.

Panorâmica de Lisboa abrangendo a Rua de Belém e o Palácio de Belém [Inicio séc. XX]
O Palácio é hoje monumento nacional e sede da Presidência da República Portuguesa. Chamado "das leoneiras" no século XVIII, parece ter como emblema o leão — símbolo solar que alia a Sabedoria ao Poder. Uma bandeira de cor verde com o escudo nacional — o estandarte presidencial.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Foi a este fidalgo, Presidente do Senado de Lisboa de 1702 a 1711, que o Rei D. João V comprou casa e quinta em 4 de Julho de 1726 por 200.000 cruzados. Ficou sendo a «Quinta de Baixo», para a distinguir da contígua «Quinta do Meio», que o mesmo soberano comprou pouco depois — para de tudo fazer uma única propriedade de granjeio — ao Conde de S. Lourenço. 
D. João V reedificou o Palácio, embelezou os jardins com plantações, estátuas, lagos, cascastes, vasos, fontes, pavilhões, ruas e curiosas escadarias, dos quais ainda existe uma boa parte, quer na reduzida área do Palácio Presidencial, quer naquela onde se instalou o Jardim Colonial.

Palácio Real de Belém
 Real Cais de Belém e Praça D. Fernando
Desenho de Cazelhas, gravura de A. Oliveira
Pertença do Gabinete de Estudos Olisiponenses, 
in Lisboa de Antigamente
Paço Real de Belém nos meados do século XIX
Litografia de Legrand, pertence à Biblioteca Nacional, 
in Lisboa de Antigamente

A história política e diplomática do Paço de Belém não se comporta, Dilecto, no nosso plano. Do mais notável quero lembrar-te que foi aqui, a 4 de Novembro de 1836, que o tribuno liberal Manuel da Silva Passos, por ocasião da célebre «Belemzada» — que do local tirou a designação — de D. Maria II conseguiu, após palavras firmes e sinceras, que a Soberana voltasse para o Palácio das Necessidades, anuindo às pretensões do povo.
Reis e príncipes, presidentes estrangeiros, instalaram-se neste Paço quer em visitas de dois dias quer em estadias demoradas; quási todos os Reis de Portugal de D. João V até D. Manuel aqui habitaram ou transitoriamente passaram dias, embora nos últimos vinte anos de monarquia o Palácio fosse mais de receber que de estar.
Na República alguns dos Chefes de Estado têm-no habitado com permanência, mais ou menos demorada, mas todos eles em Belém dão suas recepções, assistem nas solenidades diplomáticas e permanecem nas ocasiões graves de crises.

Palácio de Belém [c. 1903]
Praça Afonso de Albuquerque, antiga Praça D. Fernando (1910)
Rua da Junqueira; Palácio Nacional de Belém e - tornejando para a Calçada da Ajuda - o extinto Picadeiro Real depois Museu dos Coches (1905); em segundo plano a torre sineira da Igreja de Nossa Senhora das Dores (1787) sita na Rua do Embaixador; logo atrás o zimbório octogonal do Convento das Salésias.
 Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Palácio de Belém, Pátio dos Bichos e fachada nascente do palácio [c. 1945]
Foi para alojar os grandes felinos que no reinado de D. José foi construído um conjunto de jaulas no lado norte do pátio principal do palácio. A documentação da época refere a colocação de grades para «as casas dos bichos», e em 1772 é anotada a chegada de um leão, vindo de Angola, que terá motivado o espanto de muitos.
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente
 
O Palácio Presidencial de Belém, cujas Salas foram restauradas há nove anos [1930], quando da anunciada visita de Afonso XIII em retribuição à que lhe fizera o Sr. General Carmona em 1929, possui magníficas instalações palacianas, e entre elas a Sala dos Bichos, na ala poente, logo acima da escadaria que nasce do Pátio dos Bichos, este com ingresso por uma rampa, pela frente à Praça Afonso de Albuquerque.
As grandes obras de arte (pintura principalmente) do Paço antigo levou-as D. João VI quando foi para o Brasil; as peças de ourivesaria e outras obras primas estão hoje no Museu de Arte Antiga, mas as Salas ostentam ainda peças de relativo valor, mesmo em mobiliário, havendo sido no terceiro quartel do século passado e já no actual o Mácio objecto de restauro, e datando dessa época decorações e quadros de Columbano, Malhoa, João Vaz, Cotrim, Félix da Costa, e de outros artistas.
Como vês, o Palácio Presidencial de Belém, repousado, «oficial», discreto, conjuga-se admiravelmente nesta Praça, à qual faz o fundo natural norte, a toda a largura da área. Anexo ao Palácio, temos o Museu Nacional dos Coches [...].

Palácio de Belém [c. 1903]
Praça Afonso de Albuquerque
Observe-se, hasteada, a bandeira monárquica.
 Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 69-71, 1939.

1 comment:

Web Analytics