Remolares, Cata-que-farás, Ribeira Nova, S. Paulo, Boa Vista, foram tudo praias ribeirinhas que acabaram por dar - na conquista do rio - o que principiou por se chamar genericamente o Aterro, designação extensiva que depois se formalizou em Avenida 24 de Julho». (Araújo: 1993)
Despediu-se da senhora Marquesa e dos netos, pôs o chapéu na cabeça e desceu a escada, irresoluto na direcção a dar à passeata. Ainda bem longe de decidido, chegou à porta na ocasião em que, puxado por muitas mulas, começava um americano a subir vagarosamente a rampa de Santos. Saiu o Marquês para a rua. Foi logo muito cumprimentado pelos cocheiros e moços do Pingalho, que no fronteiro pátio do Visconde de Asseca tinha carruagens de aluguer. Correspondeu civilmente à cortesia e, tomando à esquerda, dirigiu-se para o Atêrro, pensando que ainda havia gente bem criada e que o dia realmente estava muito ameno. Avista o americano; veio-lhe logo à ideia um passeio de carro. Era barato, e não fazia frio mesmo nenhum.— Para onde irá êle?... .Ah! lá parou... j Olha! vai para Belêm...Apeiam-se umas senhoras; tenho lugar.(Braamcamp Freire: 1927)
Atêrro da Bôa Vista |c. 1895| Actual Av. 24 de Julho, antiga Rua 24 de Julho: Rampa de Santos, actual Calçada Ribeiro Santos e Palácio Abrantes (dir.); carro americano.Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente |
Informa o autor das Peregrinações que se pode datar o Atêrro, com o possível rigor, a 1867, tendo-se as obras iniciado em 1858. A designação de Rua 24 de Julho é anterior à conclusão do Atêrro e o topónimo "24 de Julho" evoca a entrada em Lisboa das tropas do Duque da Terceira em 24 de Julho de 1833.
Atêrro da Bôa Vista |post. 1867 e ant. a 1872! Actual Av. 24 de Julho, antes Rua 24 de Julho junto da Ribeira Nova.Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente |
Júlio de Castilho, que se faz acompanhar do fotógrafo Francesco Rocchini [vd. imagem acima], comunica-nos que «Lisboa toda, desde 1867, se acostumara com gosto ao desafogado terreiro marginal», o «mais belo dos passeios públicos», recordando que «a sociedade concorria ali, àquele salão enorme, a ver o Tejo, que é o amigo de nós todos, e a contemplar as magnificências da grande orquestra de tons luminosos com que o sol se despedia» até que, «anos depois, abriu-se a Avenida da Liberdade; e o Aterro... nem mais sequer lembrou.»
(JANEIRO, Maria João, Lisboa: histórias e memórias, pp. 130-132)
Atêrro da Bôa Vista |c. 1895| Actual Av. 24 de Julho, antes Rua 24 de Julho; carros americanos.Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
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