Ermida da Penha de França
A tradição olisiponense teima em afirmar, em sua lenda, que foi neste lugar alto da Penha de França que Ulisses se deu de amores com a “deusa-serpente”, Ofiússa, que não era “serpente” mas rainha de uma sociedade mítica de mulheres guerreiras, religiosas e sibilas ou profetisas. A verdade é que nesta igreja de Nossa Senhora da Penha ainda se presta culto à serpente, talvez memória do primitivo culto romano ao deus Esculápio, entrando tardiamente o onomástico Penha de França em lembrança de um monge francês ter descoberto uma imagem da Virgem escondida aqui numa penha, durante o período árabe da ocupação da Península Ibérica.
Ermida da Penha de França [c. 1910] Fachada principal, virada ao Largo da Penha de França (Cabeça de Alperche). Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
Este templo é dos que mais testemunham em Lisboa a intervenção do
sobrenatural, não lhe faltando uma “casa dos milagres” onde se expõe uma
curiosa colecção de ex-votos. Sem dúvida que de todas as lendas a
principal deste sítio é a do lagarto da Penha. Se uma versão diz que um
cansado peregrino, dormindo na encosta do monte, prestes a ser atacado
por um lagarto enorme, foi acordado pela Senhora, salvando-se
milagrosamente dele, uma outra relata que ele foi acordado por um
lagarto por intervenção de Nossa Senhora, livrando-se do ataque de uma
cobra. Até 1739 conservou-se na igreja um grande lagarto embalsamado,
substituído por um outro de madeira que desapareceu no terramoto. Como a
segunda versão da lenda é que vingou, pode-se ainda ver sobre as portas
da sacristia um lagarto (mais se parecendo a um crocodilo) e uma cobra
de madeira. Repete-se novamente a Senhora da Penha e a lenda do lagarto
no painel de azulejos na fachada posterior da igreja [vd. 3ª imagem]. Crê-se que a
serpente simboliza a antiga religião “pagã” dos árabes, e o lagarto
sendo o dragão dos lusos cristãos miraculosamente salvos daquela, graças
a esta Virgem da Vitória.
O «lagarto» da Penha de França Mausoléu de mármore descansando sobre leões. Contém os restos de Antonio de Cavide e de sua mulher, D. Marianna Antonia de Castro, distintos benfeitores desta igreja. |
Mas tanto o dragão como a serpente em paridade, aquele estará para a Sabedoria desvelada e o Sol expressivo da Energia Celeste que a Tradição Iniciática chama de Fohat, enquanto a serpente é a sinalética da Sabedoria ocultada e da Lua expressiva da Energia Terrestre chamada Kundalini pela mesma Tradição Iniciática. Sol e Lua ligados pelo Prana promanado do Coração da Mãe Divina, a Energia Vital que a tudo e a todos alenta, e nisto tudo se resumem as figuras das Armas Episcopais da Senhora da Penha, com a águia dupla sobre o Sol e a Lua tendo o Coração Sangrento ao centro, atravessado pela flecha martirial fazendo jorrar o Sangue Real de Cristo, mas também a de sua Santa Mãe Maria (Cordo Maris), a que está no cimo do Gólgota, no alto da Penha de França, Coração da Europa.
(in Vitor Manuel Adrião, Guia de Lisboa Insólita e Secreta. Editorial Jonglez, Versailles, Abril de 2010)
Ermida da Penha de França [1960] Painel de azulejos com Nossa Senhora da Penha, o milagre do lagarto e do devoto adormecido. Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente |
Eu e uma amiga minha vimos o lagarto dos painéis de azulejos a mexer há uns anos. Ficamos tão assustadas que desatámos a correr.
ReplyDelete:)
DeleteEu devia estar a dormir há horas mas agora que encontrei este seu blog, não consigo desligar o computador e bebo cada palavra, cada história, cada fotografia... obrigada!
ReplyDeleteNos da acceso a imágenes sin coste de alta resolución.
ReplyDeleteEs un cuento para niños que deben leer los adultos.
ReplyDeleteAdoro este blog! Obrigada
ReplyDeleteGrato pelo apreço.
DeleteO local exacto de onde é tirada a imagem da Igreja (ao longe) parece ser o da actual praça Paiva Couceiro/ Morais Soares?
ReplyDeleteÉ bem possível...
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