Sunday, 29 January 2023

Rua das Picoas com a Avenida Cinco de Outubro

De acordo com Norberto de Araújo «Os serviços dos Correios e Telégrafos — hoje [em 1939] já espalhados por S. José, Restauradores e Picôas, e com inúmeros postos e estações em várias áreas da Cidade — foram instalados no edifício do Terreiro do Paço, contiguo ao do Arsenal, em 1 de Março de 1881.

Rua das Picoas e Avenida Cinco de Outubro |1928|
O sítio das Picoas que já surge referido nas «Memórias Paroquiais de Lisboa» de 1758,
derivou do nome de uma quinta do Morgado; ao fundo à dir. nota-se a ermida das Picoas já demolida.
Fotógrafo: não identificado, in Lisboa de Antigamente

Os serviços dos Correios, que desde D. Manuel constituíam ofício privado do «Correio Mor», cargo que principiando em Luiz Homem (1520) coube mais tarde a Luiz Gomes da Mata, e deste a seus descendentes (depois Condes de Penafiel) — passaram para a administração directa do Estado em 1797, transitando então do Palácio do Correio Velho (às Pedras Negras) para uma casa no sitio da Boa Morte [à Estrela], de onde logo saíram para se instalarem no Palácio dos Condes de Olhão, aos Paulistas (o Correio Geral) no Palácio dos Condes de Olhão, aos Paulistas (o Correio Geral). Dali vieram para o Terreiro do Paço.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 18, 1939) 

Rua das Picoas e Avenida Cinco de Outubro |c. 1934|
Neste prédio de gaveto foi instalada, em 1926, a Estação de Correios e Telégrafos Lisboa-Norte (C.T.F. Correios Telégrafos e Faróis).
Fotógrafo: não identificado, in Lisboa de Antigamente

Friday, 27 January 2023

Rua Garrett: a «ladeira vaidosa»

Chiado às quatro horas da tarde, quando os amanuenses vêm para cima e as cocottes vão para baixo. [Ortigão: 1889]


Afinal ele não é uma designação — é um código de costumes. Não é uma rua — é um índice de Lisboa». As palavras são de Norberto de Araújo, das Legendas de Lisboa, e definem o Chiado, a tal «ladeira vaidosa» de Ramalho Ortigão ou a «personificação de Lisboa elegante» de Júlio de Castilho. Quantos não foram os poetas e escritores que ao Chiado se referiram em termos semelhantes? Estamos, pois, num dos «píncaros do mundo» e quem o afirma é Guerra Junqueiro. No Chiado, «instituição profundamente gomosa», se «exibem as raridades do sport e a fina essência da elegância», e Fialho de Almeida sabia-o. O conselheiro Acácio, este, «aprumava a estatura» ao descer o Chiado e Artur Corvelo, que deixava a Capital, «ia devorando com os olhos os lugares que amava: a Casa Havanesa, a janela do seu quarto, lá em cima no [hotel] Universal [prédio dos Armazéns do Chiado] — que ferro ir-se!»

Rua Garrett |1912|
Antiga do Chiado: a "Ladeira Vaidosa"
A elegância das modistas; Tabacaria Estrela Polar na esquina com a Rua Ivens.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Thursday, 26 January 2023

Avenida António Serpa, 22-28

O topónimo Avenida António de Serpa foi atribuído durante a Monarquia, a 29 de Novembro de 1902, ao arruamento que se situava entre a velhinha Estr. do Arco do Cego [passou a designar-se "rua" por edital de 1936] e a Rua António Maria de Avelar, hoje Avenida Cinco de Outubro. [cm-lisboa.pt]

Avenida António Serpa, 22-28 |c. 1934|
«Político e escritor (1825-1900)»
Oficina de reparações da Sociedade de Automóveis Citroën.
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 22 January 2023

Igreja do Coleginho (N. S. do Perpétuo Socorro)

A igreja do Coleginho, orientada a Poente, situa-se na Rua do Marquês de Ponte de Lima, em plena Mouraria de cima. Defronte esgueira-se, numa aberta do casario, o beco dos Três Engenhos; umas dezenas de passos a Norte rasgam-se, descendo ao vale a antiga rua Suja (Rua da Guia) e subindo para Santo André, a da Amendoeira. Mais além ficam a Rua dos Cavaleiros, o Terreirinhoe e as Olarias, onde foi o «almocavar» ou cemitério dos mouros e judeus.

 
Segundo a tradição a antiga igreja do Coleginho (Colégio velho de Santo Antão) ocupava o local da mesquita do arrabalde da Mouraria, se não o próprio templo, desafectado do culto muçulmano após a expulsão dos judeus e mouros decretada por el-rei D. Manuel em 1496. Colocada sob a invocação da Anunciação da Virgem, transformou-se em igreja conventual depois que em 1519, numas casas anexas, se instalaram as dominicanas vindas do mosteiro de Jesus, de Aveiro.

Igreja do Coleginho  (N. S. do Perpétuo Socorro) em 1922 e 1940, respectivamente
Rua do Marquês de Ponte de Lima
A Frontaria, de elegante traçado arquitectónico, de corpo único ladeado por pilastras às quais serve de remate o frontão com óculo e nela o pórtico, sem adro e cujo acesso é feito por cinco degraus, formado por duas colunas.
in Lisboa de Antigamente

As madres trocaram esta residência pela dos Cónegos regrantes de Santo Agostinho, na Corredoura, de invocação de Santo Antão (no local da actual igreja de S. José). Passaram os Agostinhos a residir no mosteiro da Mouraria, até que em 1542 o cederam aos Jesuítas, para nele instalarem uma Residência, que depois se transformou em Colégio.
Pelo aumento da população escolar a Companhia transferiu os estudos para o novo e magnífico edifício que seria o Colégio novo de Santo Antão (hospital de S. José), conservando-se. porém, em Santo Antão da Mouraria (depois de um simulacro de venda aos Gracianos em 1587) uma residência (1593) extinta quando Pombal expulsou os Inacianos (1759).

Igreja do Coleginho  (N. S. do Perpétuo Socorro) |c. 1950|
Rua do Marquês de Ponte de Lima; em cima observa-se a Igreja da Graça.
No andar superior três janelas com moldura e tímpano. Sobre elas corre a cimalha real, com friso e cornija.
Amadeu Ferrari, in Lisboa de Antigamente

Ignoram-se as obras de que o templo teria beneficiado, mormente no primeiro século da sua história (é de presumir que as tivesse havido no segundo quartel do século XVII) mas sabe-se que o Terramoto causou nele grandíssima ruína, que conduziu a uma reconstrução, concluída em 1764, e lhe imprimiu a feição actual. Já então (e até 1833) o templo estava anexo à residência dos Padres redentoristas de S. Libório, sucessores conventuais dos Jesuítas. Extintas as ordens religiosas, foi a igreja entregue à irmandade de Nossa Senhora do Bom-Despacho, sendo anos volvidos desafectada.
Reaberta ao culto em 1988, nela se instalou a sede eclesiástica da freguesia do Socorro (1951).
Apontamento a reter: Foi na igreja do Coleginho que antes de partir para o Oriente S. Francisco Xavier pregou pela última vez.

Antigo edifício do Colégio de Santo Antão em 1836, em desenho de Luís Gonzaga Pereira

igreja do Coleginho quase nada conserva da sua traça quinhentista; é um templo com as características próprias de todos os de Lisboa reedificados após o Terramoto.
Embora pequeno, é notável pela riqueza e elegância da cantaria.

Colégio de Santo Antão-o-Velho | Colégio de Santo Agostinho 
Museu de Lisboa | Maqueta de Lisboa antes do Terramoto de 1755 | Pormenor.
 
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1955.

Friday, 20 January 2023

Rua de S. Bento com a Travessa da Peixeira

O nome do sítio de São Bento data do séc. XVI em que o topónimo (1859) do local era feito por referência ao Convento de frades beneditinos que vieram de Tibães.
A origem do Mosteiro de S. Bento remonta a 1598, ano em que se iniciou a construção do convento beneditino na Quinta da Saúde.

Rua de S. Bento com a Travessa da Peixeira [1908]
À esq. nota-se o edifício onde funcionava a Cozinha n.º 6 da Sociedade Protectora das Cozinhas Económicas de Lisboa.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

O topónimo Travessa da Peixeira está de acordo com a antiga tradição lisboeta de atribuir nomes de arruamentos a "tipos" bem definidos dentro da cidade.
Recorda o insigne Norberto de Araújo que «o sítio em que se encontra é quinhentista e pelas velhas Rua da Paz, que existia feita em 1602, sendo aliás anterior, Travessa da Peixeira, e Rua da Cruz a Poiais, que também se chamou dos Cardeais, existem espécimes seiscentistas da transição." [Araújo, XI, 1939]

Travessa da Peixeira, vista da R. Paz  [1946]
Ao fundo nota-se o Palácio de S. Bento
Fernando Martinez Pozal,  in Lisboa de Antigamente

Sunday, 15 January 2023

Sinagoga Shaaré Tikva (Portas da Esperança)

A sinagoga Shaaré Tikvá (“Portas da Esperança"), na Rua Alexandre Herculano, abrira em 1904 longe da vista pública, porque a Carta Constitucional proibia templos não-católicos. Desde Outubro de 1910, com a República laica, o gregarismo hebraico tendeu a aumentar, embora a aprovação dos estatutos da CIL , submetidos ao Parlamento em Junho de 1911, levasse quase um ano, até Maio de 1912. Vigorava já a Lei da Separação das Igrejas do Estado (1911) e proclamara-se a liberdade dos cultos. [Edeline: 2002]


Existiam em Lisboa, desde 1810, várias casas de oração, mas dificilmente reuniam as condições necessárias ao culto, pois situavam-se em modestos andares. Assim apesar das dificuldades ocasionadas pela falta de reconhecimento oficial, a Comunidade Israelita de Lisboa (CIL) consegue comprar, em nome de particulares, um terreno para a construção de um edifício de raiz, próprio e condigno.

Sinagoga Shaaré Tikvá («Portas da Esperança», em hebraico) |c. 1903|
Primeiro templo não católico em Portugal continental desde 1497; Casa Ventura Terra, prémio Valmor de 1903.
Rua Alexandre Herculano, 59
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

O projecto da sinagoga foi da autoria de um dos maiores arquitectos da época, Miguel Ventura Terra. Situada no n.º 59 da Rua Alexandre Herculano, teve de ser construída dentro de um quintal murado (contigua à Casa Ventura Terra, atelier do arquitecto), dado que não era permitida a construção com fachada para a via pública de um templo que não fosse de religião católica, então religião oficial do estado.

Sinagoga Shaaré Tikvá («Portas da Esperança», em hebraico) |c. 1903|
Primeiro templo não católico em Portugal continental desde 1497; Casa Ventura Terra, prémio Valmor de 1903.
Rua Alexandre Herculano, 59
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Lançada a Primeira Pedra em 1902, a Sinagoga Shaaré Tikvá é finalmente inaugurada em 1904, culminando um esforço de mais de 50 anos dos judeus de Lisboa.

Sinagoga Shaaré Tikvá («Portas da Esperança», em hebraico) |c. 1903|
Primeiro templo não católico em Portugal continental desde 1497; Casa Ventura Terra,
Prémio Valmor de 1903.
Rua Alexandre Herculano, 59
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Friday, 13 January 2023

Rua de Marcos Marreiros (ou Barreiro)

Marcos Barreiro (Rua de) — Marcos Barreiro foi contramestre da carreira da Índia, e morou em 1565-1566 por perto da rua a que posteriormente deu o seu nome, talvez porque para ela veio residir, em casas que aqui adquirisse. O seu apelido, porém, foi por vezes alterado.

A Coreografia de Carvalho da Costa (1708) regista «Marcos Marreyro». No Tombo Pombalino de 1756, Bairro de St. Catarina, chama-se-lhe Marcos Marreiros, e o mesmo imprimiram P. Castro, em seu Mappa de Portugal (1763) e o Prior da freguesia, em 1768, na Relação dos Pobres da sua paróquia. Depois, em 1801, a Regulação da Pequena Posta, Roteiro oficial, restituiu a esta rua o seu verdadeiro nome, e quando em 1804 Paulino de Moraes, publicou o seu Itinerário igualmente a denominou de Marcos Barreiro e assim o repetiu nas subsequentes edições.
(BRITO, Gomes de, Ruas de Lisboa. Notas para a história das vias públicas, 1935)

Rua de Marcos Marreiros (ou Barreiro) |1960|
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL.

N.B. Desconhece-se a data de atribuição da Rua Marcos Marreiros (ou Barreiro ou Marreyro) mas surge já em documentos seiscentistas, mencionada à Rua da Cruz de São Bento que era então a Rua dos Poços dos Negros que hoje conhecemos. Esta artéria faz a ligação entre a Rua do Poço dos Negros e a Travessa do Terreiro a Santa Catarina.

Sunday, 8 January 2023

Rua de São Pedro

Este arruamento que liga o Largo do Chafariz de Dentro à Rua de São Miguel, aparece em referência escrita em 1769 na «Descripçaõ dos novos destrictos das parroquias da cidade de Lisboa, que por ordem de S. Magestade Fidelissima fez o sargento mor ingenhrº Joseph Montrº de Carvalho». Porém, o topónimo é mais antigo e deriva da igreja desta invocação que o mesmo documento diz que «A origem desta Igrª consta ser no Anno de 1191 pelo Bispo de Lisboa D. Soeiro Annes: he do Padroado das Sereníssimas Raynhas deste Reyno; e o seu Parrocho tem o titulo de Prior. 

Rua de São Pedro |1963|
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Constava no ano de 1755 de 352 fogos, que se alojavaõ nas ruas e becos seguintes: Parte da Adiça, athé à porta do Sol; parte da rua da Galé: rua direita de S. Pedro (…)».
As freguesias de Alfama organizavam-se em volta da respectiva igreja paroquial e o crescimento populacional no séc. XVI determinou a construção sistemática ao longo desta Rua de São Pedro. [cm-lisboa.pt]

Rua de São Pedro |post.1960|
Mário Pinto, in Lisboa de Antigamente

Friday, 6 January 2023

Avenida Duque de Loulé, 47

Em 1919 o Prémio Valmor mais uma vez foi atribuído a uma moradia unifamiliar sita na Avenida Duque de Loulé, n.º 47 — tornejando para a Rua Bernardo Lima — que pertencia a Alfredo May de Oliveira com projecto do arqº Álvaro Machado.
Esta moradia possuía três pisos de linhas sóbrias e era uma obra de estrutura essencialmente urbana. Demolida em 1961 deu lugar a um edifício com sete andares e lojas.
(Archer, Maria, Revista municipal Lisboa, 1945)

Avenida Duque de Loulé, 47 | 1961|
Prémio Valmor de 1919
Augusto Fernandes. in Lisboa de Antigamente

Nota(s): A Rua Bernardo Lima situada na Freguesia de Coração de Jesus é um topónimo atribuído em 1903 e homenageia Silvestre Bernardo Lima (1824-1881), agrónomo e veterinário, lente de Zootecnia e de Higiene, no Instituto de Agronomia e Veterinária, durante 30 anos.
Desenvolveu intensa actividade pedagógica e científica sendo na época o maior especialista português em zootécnica para além de ter organizado o recenseamento geral dos gados em 1870.

Avenida Duque de Loulé, 47 | 1922|
Prémio Valmor de 1919
Fotógrafo não identificado. in Lisboa de Antigamente

Sunday, 1 January 2023

Travessa da Horta Navia

Eis a Alcântara do fim de seiscentos. Como mais notável, a celebrada Quinta da Horta Navia, de que hoje subsiste uma reminiscência numa travessa, junto aos terrenos da Estação de Alcântara-Terra, e que leva da Rua Maria Pia à Rua da Fábrica da Pólvora, por uma espécie de atalho.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, p. 12, 1939)

Travessa da Horta Navia |1944|
Estação de Alcântara-Terra
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Esta artéria que nasce frente ao n.º 34 da Rua Maria Pia, paralela à linha férrea é uma memória do sítio da Horta Navia cuja primeira menção data do tempo de D. Afonso II (1211–1223) no rol das propriedades que a Ordem de Santiago possuía.
Nos séculos XVI e XVII já aparecem descrições que dão conta do local ser uma horta que atraía os lisboetas nas horas e ócio e é aceitável supor que no início do século XIX o topónimo se expandiu nas terras que da margem esquerda da Ribeira de Alcântara subiam para montante.
Como Travessa da Horta Navia a primeira referência aparece na planta da Carta Topográfica de Lisboa de Filipe Folque, de 1856.

Estação de Alcântara-Terra |1928|
Em segundo plano pode ver-se parte do casario da Travessa da Horta Navia; mais acima
nota-se a Rua Maria Pia e no alto o Cemitério dos Prazeres.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

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