Wednesday 15 March 2017

Palácio Marim Olhão

O Palácio Olhão, foi solar nobre dos Condes de Castro Marim e dos Marqueses de Olhão (século XVIII). Em 1799 ali se instalou o Correio Geral do reino [ou Correio Velho], voltando depois aos antigos donos já neste século. Ocupa todo um quarteirão entre a Travessa das Mercês e a Rua do Século.
É uma grande construção à escala não nacional, dos fins do século XVIII e simultaneamente sintetiza uma influência italiana e uma influência francesa. Qualquer das três fachadas existentes, Calçada do Combro, Rua do Século, e a que dá para um jardim na Travessa das Mercês, incompleta hoje e parcialmente destruída, testemunham um sentido arquitectónico invulgar.


Vejamos agora, Dilecto, o último dos edifícios palacianos que ficam na nossa passagem pelo Calhariz: é este grande casarão à direita, já no começo da Calçada do Combro, o mais miserável de todos, mas também o mais fiel do bairro.

Palácio Marim Olhão ou do Correio Velho [1919]
Calçada do Combro, 38; Rua de O Século, 2-2E; Travessa das Mercês, 19-31
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

 

Este decrépito Palácio, hoje [1938] pouco mais do que um pardieiro imundo, é ainda rico de documentação arquitectónica.
Solar nobre dos Condes de Castro Marim e dos Marqueses de Olhão — um dos quais foi monteiro-mor da Côrte — aqui se instalou o Correio Geral, quando estes serviços públicos passaram para o Estado, vindos do sítio da Boa Morte para onde haviam transitado (1799) do tradicional edifício do «Correio Velho» às Pedras Negras.
Foi depois proprietário da casa, já no começo do século actual, D. José da Cunha, descendente dos primeiros titulares.
Aqui estiveram instaladas uma Conservatória do Registo Civil, no começo da República, e, depois, a Confederação Geral do Trabalho, o jornal «A Batalha» [vd. na 1ª imagem], as «Juventudes Monárquicas» e, em velhos tempos, com entrada pela Travessa das Mercês, a famosa «Revolução de Setembro», do grande jornalista Rodrigues Sampaio, além de outros jornais, em épocas mais recentes. (Este jornal, com várias índoles e direcções, e em diferentes locais, existiu de 22 de Junho de 1840 a 23 de Março de 1892; cinquenta e um anos de vida jornalística não é vulgar, e por isso apomos aqui esta nota).
O casarão palaciano é hoje [1938] moradia de famílias pobres, e aqui tem sua sede um sindicato da Companhia Carris.

Palácio Marim Olhão ou do Correio Velho [1919]
Calçada do Combro, 38Rua de O Século, 2-2E; Travessa das Mercês, 19-31
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Sigamos a sugestão de Norberto de Araújo e «entremos uns momentos»:  
O grande átrio é nobre, de um nobre arruinado como depois de um abalo de terra. Adivinham-se as arcadas entaipadas mas bem desenhadas na volta inteira. E contempla este arco do portal de entrada [vd. 3ª foto], largo, vistoso, assente sobre duas belas colunas de maneira italiana. [...]
As duas fachadas, em ângulo do edifício, que olham para este pátio interior, e correspondentes aos corpos da Rua do Século e da Calçada do Combro [vd. 2ª foto]são nobilíssimas, como as da frente principal; nelas se rasgam janelas e varandas, de soberbos pormenores de arquitectura. Mas tudo isto parece seguro por arames, e faz pena ver. [...]
Eu já te disse, Dilecto: acabam assim os palácios, ao mesmo tempo que, pela força do destino e pela natural evolução das sociedades, se extinguem os títulos de nobreza, que não a fidalguia, pois esta, apesar da dissolução de costumes, ainda logra manter-se em muitas famílias e em indivíduos, já pelo aprumo, já pelo carácter.

Palácio Marim Olhão ou do Correio Velho, átrio da escadaria [c. 1952]
Calçada do Combro, 38; Rua de O Século, 2-2E; Travessa das Mercês, 19-31
Salvador de Almeida Fernandes,  in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, vol. V, p. 63, 1973.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. V, pp. 27-28, 1938.

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