Sunday 7 August 2016

Rua da Saudade

Os paquetes atracam logo em baixo, no cais, e a rua deve talvez o nome à saudade que para sempre ficou flutuando no sítio: a saudade dos que ficam, e a dos que partem e querem prender-se à terra, de braços, olhos e almas alongadas.
(José Rodrigues Miguéis (1901-1980) A Escola do Paraíso)

Em Agosto de 1938, afirma Antonio Tabucchi que um jornalista solitário, de nome Pereira, tomava o eléctrico que ia até ao Terreiro do Paço. E da janela «via desfilar lentamente a sua Lisboa, olhava a Avenida da Liberdade com os seus belos edifícios, e depois o Rossio, de estilo inglês; e no Terreiro do Paço desceu e apanhou o eléctrico que subia para o Castelo. Desceu junto da Sé, pois morava ali perto, na Rua da Saudade.
(Antonio Tabucchi, Afirma Pereira, 1938)

Rua Augusto Rosa e Rua da Saudade (dir.) |c. 1930|
 Seis anos após o falecimento do actor Augusto Rosa (1850-1918) a artéria onde ele viveu e faleceu, a Rua do Arco do Limoeiro (no nº 50), passou a ter o seu nome, consagrado por Edital municipal de 1924.
Fotógrafo não identificado (E. Portugal?), 
in Lisboa de Antigamente

A Rua da Saudade, situada nas freguesias da Sé e Santiago, é uma artéria secular cujo nome terá a seguinte explicação, de acordo com Luís Pastor de Macedo («Lisboa de Lés-a Lés», vol. V):

« Diz G. de B. [refere-se ao olisipógrafo Gomes de Brito] : 'Não é por agora possível dar informação alguma, que não tenha o cunho de vaga conjectura acerca, das razões que determinariam à denominação dade à nova rua'. Mas na mesma página, um pouco mais abaixo, adiciona: 'Esta denominação, rua da Saudade, é influência da duração da capela feita fora do corpo da igreja de S. Jorge dedicada a N. Sª da Soledade'. Assim parece ser na verdade. Pelos menos, embora em 1775, conforme viu G. de B., a artéria seja já designada por rua Nova das Saudades, em 1786 é apontada como o nome de rua da Soledade, nome que aliás só lhe vemos dar esta vez. Além deste, os livros paroquiais de S. Martinho dão-lhe os de rua nova q vai pª os Loios (1779), rua da Saudade (1787), rua Larga dos Loios (1790) e rua Nova da Saudade (1796). A igreja de S. Jorge, citada por G. de B., era paroquial, e erguia-se pouco mais ou menos no sítio onde hoje vemos o edifício das Merceeiras de D. Afonso IV, na rua Augusto Rosa.» 

Rua da Saudade, 31-43 |1902|
 Prédio construído no local onde existiu o Palácio dos Mira.
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

1 comment:

  1. Nesta rua viveu grande parte da vida Ary dos Santos.

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