Monday, 4 July 2016

Casa Havaneza

Depois, vinha de novo estacionar a porta da Casa Havaneza; e sentia um deleite indefinido em estar alli, imrnovel, vendo em redor grupos de deputados, de janotas, de empregados, dílatando-se as emanações intelectuaes e sociaes que lhe pareciam sahir das conversações, dos perfis, das attitudes. 
(QUEIROZ, Eça de, A capital, 1926 ed.póst.)
Casa Havaneza [1911]
Rua Garrett, 124-134
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Num anúncio de 1905, que a garante como “grande depósito de tabacos nacionaes e estrangeiros” sito na Rua Garrett 124.134, a data de fundação surge como 1865; num outro de 1933 recua para 1861, havendo quem tenha encontrado noutros 1855. No momento da sua abertura, a Casa Havaneza agia como uma parte extra do Banco Burnay. O cliente entrava no banco no Largo do Chiado, pedia um empréstimo e, à saída, podia comprar um charuto cubano. Durante a crise financeira de 1876, quando o Banco de Portugal esgotou o ouro, chegou a anunciar que seria possível trocar notas e moedas por ouro na Casa Havaneza.

Casa Havaneza, Diário de Noticias, 1905

Em 1940, a loja foi toda remodelada, separando a loja e o Banco. Ao longo dos anos, as lojas Casa Havaneza encontram-se nalguns dos maiores centros comerciais de Lisboa, mas a loja do Chiado ainda é uma das relíquias do centro da cidade. Esta loja tem marcado o estilo de vida desta zona; de tal forma que muitos escritores famosos referem a Casa Havaneza nas suas obras, nomeadamente, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão.

Casa Havaneza [1959]
Rua Garrett, 124-134
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Á porta do Magalhães, do Nunes, da Casa Havaneza, estacionavam os grupos:
O gaiato velho, gordo, com cravos na pelle, o cigarro ao canto da bôca, sem camisa, a quinzena de gola levantada para as orelhas, presa no pescoço com um alfinete, o chapéu de abas carcomidas, as calças lustrosas e encebadas, as botas enfrestadas, com seteiras, por onde as pontas dos charutos que jazem nos passeios são vistas de dentro pelos olhos dos calos.
Os deputados, de pés gordos, curtos, caprinos, joelhos reentrantes, calças ordinarias, camisas de provincia, mal talhadas, — faziam discursos, experimentando a prosa official in anima vili, sobre o espirito uns dos outros.
Nos bancos da Casa Havaneza, por dentro dos vidros, sujeitos pacificos, cambistas, homens de descontar lettras, com as suas suissas em forma de costelletas, dormiam ou liam o movimento da Bolsa no Jornal do Commercio.

(ORTIGÃO, Ramalho, As Farpas, 1876)

Largo do Chiado engalanado aquando da visita a Portugal do rei Eduardo VII de Inglaterra [1903-04-02]
Ao fundo a Casa Havaneza na Rua Garrett, 124-134.
António Novais, in Lisboa de Antigamente

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