Do nosso tempo é a grande artéria de Almirante Reis, que sucedeu na designação, como tenho dito, à Avenida de D. Amélia: tem 40 anos incompletos. É uma linha urbana de primeira categoria, sem história, que começou a rasgar-se timidamente no final do século passado [séc. XIX]. 1
Avenida D. Amélia,
actual Almirante Reis [1908] Comício republicano; quarteirão entre as ruas Marques da Silva e Pascoal de Melo (dir.); em cima vê-se a Igreja de Nossa Senhora da Penha de França. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Nos últimos anos da monarquia, pela Avenida D. Amélia,
agora de Almirante Reis, havia ainda muitos tapumes à espera de construções de prédios e nos terrenos à margem os dirigentes republicanos vinham, aos domingos, fazer os comícios de propaganda a que o povo, levado pelos artigos de Magalhães de Lima, no Século e de França Borges, no Mundo, acorria com entusiasmo e expectativa. No alto dos
improvisados palanques, os caudilhos objurgavam a Monarquia, condenavam o
rei, reclamavam a República !
Nem todos ouviriam o que eles diziam, pois, ao tempo, não havia altifalantes e as palavras perder-se-iam nos grandes espaços. Mas a solidariedade levava os da frente a transmitir de boca em boca, o que eles arengavam. E sempre havia muitas palmas e vivas!
Avenida D. Amélia,
actual Almirante Reis [1908] Comício republicano; ao fundo, a futura Praça do Chile Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Contava-se, como anedota, que em certa ocasião um ouvinte, dado à
chacota, gritou: — Viva a Sardanica! E logo toda aquela gente premiou
com aplausos a frase que poucos teriam entendido.
A polícia nunca intervinha, uma vez que os
comícios eram democraticamente autorizados pelo célebre juiz Veiga, zelador da coisa pública apesar de incansável perseguidor dos republicanos.
Vivia-se num ambiente verdadeiramente revolucionário.2
Bibliografia
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 73, 1938.
2 DINIS, Calderon, Tipos e Factos da Lisboa do Meu Tempo (1900-1974), p. 35, 1986.
Avenida D. Amélia,
actual Almirante Reis [1906] Comício republicano; Igreja de Nossa Senhora da Penha de França. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 73, 1938.
2 DINIS, Calderon, Tipos e Factos da Lisboa do Meu Tempo (1900-1974), p. 35, 1986.
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ReplyDeletework.