Ordenhavam-nas diante de nós, nas vacarias. E algumas vezes, até, ao ar livre das ruas, pois nesses tempos a cidade e o campo ainda se confundiam na igual doçura de trabalho espreguiçado (...) Mal ouviu a minha encomenda, o homem agachou-se e, de cócoras, pôs-se a afagar as tetas do animal como se tocasse um instrumento luminoso, donde os dedos, com a leveza de gás, extraíam uma melodia branca, a acompanhar não sei que flauta de sonho pastoril.(FERREIRA, José Gomes (1900-1985), O Irreal Quotidiano, Um instrumento maravilhoso atravessa a cidade)
Rua Castilho [1909] (...) Mal ouviu a minha encomenda, o homem agachou-se... Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Rua Castilho [1909] ... e, de cócoras, pôs-se a afagar as tetas do animal como se tocasse um instrumento luminoso... Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Nota(s): O local onde o fotógrafo Joshua Benoliel
captou estas magníficas imagens não se encontra identificado no
arquivo. Todavia, tendo como referência outras duas fotos catalogadas
como prédios para demolir sitos na Rua Castilho, constata-se que os
edifícios em ambas coincidem com os das fotografias (1ª e 2ª) de
Benoliel. Comparando, então, a moldura da porta e das janelas do 1º
prédio na 1ª foto com a desta imagem, e a varanda do prédio ao centro na 2ª foto, com esta outra, facilmente se comprova tratar-se do mesmo local: Rua Castilho.
Como a qualidade da digitalização das fotos para comparação é de péssima qualidade, torna difícil
a leitura dos números de polícia, inviabilizando, assim, apontar com
maior exactidão o troço da rua onde se erguiam estes edifícios. De
qualquer modo, e levando em consideração outros registos fotográficos
deste arruamento, arriscaria para local desta bucólica cena de rua, um
dos quarteirões entre as Ruas Alexandre Herculano e do Salitre. Contudo, devo
confessar, que aqueles prédios ao fundo na última imagem, não me calham,
não sei por quê, mas não me calham... Por via disso, se algum leitor
tiver outras sugestões, saiba que serão muito bem-vindas.
ADENDA: Já depois de publicado este artigo deparei-me com estas imagens da demolição do antigo Quartel do Vale de Pereiro (Quartel de Caçadores 2). Como se pode comprovar pela planta do projecto de abertura da Rua Castilho (que reproduzo abaixo), o «prédio que não me calhava» — e que se vê ao fundo na 3ª foto — é, nem mais nem menos, o referido Quartel do Vale de Pereiro, que se situava entre as futuras Ruas Braancamp e Joaquim António de Aguiar. Donde se conclui que esta cena de rua se desenrola junto ao cruzamento da actual Rua Castilho com a Rua Braamcamp, no troço entre esta e a Rua Alexandre Herculano. Mistério resolvido!
ADENDA: Já depois de publicado este artigo deparei-me com estas imagens da demolição do antigo Quartel do Vale de Pereiro (Quartel de Caçadores 2). Como se pode comprovar pela planta do projecto de abertura da Rua Castilho (que reproduzo abaixo), o «prédio que não me calhava» — e que se vê ao fundo na 3ª foto — é, nem mais nem menos, o referido Quartel do Vale de Pereiro, que se situava entre as futuras Ruas Braancamp e Joaquim António de Aguiar. Donde se conclui que esta cena de rua se desenrola junto ao cruzamento da actual Rua Castilho com a Rua Braamcamp, no troço entre esta e a Rua Alexandre Herculano. Mistério resolvido!
Sem certezas, mas diria que o troço de rua é esse que indica. Para lá da Alexandre Herculano a rua começa a subir, o que não parece ser o caso. Na rua do Salitre (parece ser ela) tem ainda prédios baixos no seu primeiro troço, onde se faz entrada para parque de estacionamento. Mais para cima podia ter esta aparência. No site da CML podia aceder-se a todo o espólio fotográfico das ruas de Lisboa, até às mais antigas, bastando escrever o nome da rua. Se não conhecia, espero que a dica ajude!
ReplyDeleteGrato pelo contributo. As imagens deste artigo (e não só) são do site que refere, AML - Arq. Mun. de Lisboa.
ReplyDeleteAssim era
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