Já que evocámos o passado seja-nos licito lembrar o celebrado Chafariz dos Galegos, ou seja o Chafariz de Neptuno, que durou até 1859, com a sua estátua daquele «deus», obra de Machado de Castro (1771).Ao fundo da praça, ao norte, erguia-se um vistoso chafariz, a que frei Nicolau não duvida chamar formosíssimo, com quatro bicas a correr. O chafariz tinha uma estátua de Neptuno (não sei desde que tempo), assim como o do Terreiro do Paço tinha um Apolo.
A nossa atenção vai demorar-se na recordação do antigo chafariz de Neptuno, que tão airosamente compôs este curioso centro urbano, num lapso de tempo que foi de 1780 a 1858. O conjunto arquitectónico dessa obra pública, risco dos arquitectos Miguel Ângelo Blasco e Reinaldo Manuel dos Santos, estava estava coroado pela figura mitológica — deus do mar e das águas, entre os romanos — , de tridente fundido em bronze, conjunto modelado por Machado de Castro, e que a Câmara de Lisboa encomendou em 1771, sendo executado em Itália, em mármore de Carrara.
Por Chafariz de Neptuno ou Chafariz do Loreto, se designava, indiferentemente, esse monumento de grande utilidade pública. Possuía quatro tubos de correr água e estavam-lhe adscritas seis companhias de aguadeiros, seis capatazes e cabos, cento e noventa e oito aguadeiros e um ligeiro.
Quando a bonita peça de arte começou a ser desmontada, em Novembro de 1858, formou-se, em seu redor, enorme ajuntamento de povo e esboçaram-se protestos, sendo muitas as solicitações no sentido de que o chafariz fosse transferido para local próximo e acessível.
O tanque foi levado para a Rua do Tesouro Velho, actual António Maria Cardoso, ajustado ao muro do jardim do palácio do conde de Farrobo, onde se conservou até 1916, e a estátua representativa recolheu ao depósito de águas das Amoreiras. Depois, numa peregrinação sem brilho, saiu dali para o Museu Arqueológico do Carmo [1866], e dos Barbadinhos [1881] para a Praça do Chile [1942]. Finalmente, foi embelezar o pequeno reservatório de água que ocupa o centro do Largo de D. Estefânia [1951], sendo-lhe introduzido um vistoso sistema de iluminação.
Portas de Santa Catarina, actual largo do Chiado [c. 1842] Chafariz do Loreto, do Neptuno ou dos Galegos Assentou o Chafariz do Loreto onde está, sensivelmente, a Estátua ao Chiado, e fez a delícia panorâmica deste Largo em toda a primeira metade de oitocentos, no tempo em que no prédio, que veio a dar a Joalheria do Leitão, havia ainda na esquina um candeeiro «de cegonha» [esq. Araújo: 1939] Litografia por Charles Legrand |
Esse senhor omnipotente deixou um profundo desgosto nos seus leais servidores, um regimento de aguadeiros que, numa rendida e disciplinada vassalagem, prestaram culto à carrancuda figura, que António Pedro Lopes de Mendonça, graciosamente lapidou, «Neptuno de tridente em punho, a pescar galegos».
Essa obra de arte ornamental que o camartelo levou, não foi a que primitivamente se estudara e esteve para ser executada, sob projecto de Carlos Mardel, prospecto muito mais grandioso, como se depreende da estampa inserta abaixo, cujo original se guarda no Museu de Lisboa. Conforme esclarece Matos Sequeira, o modelo «Era do género do lindo chafariz da Esperança, com a sua dupla varanda e o seu pano de fundo, de três corpos, rematado por vasos flordelizados, e ficava encostado ao casario que , depois, Francisco Higino Dias Pereira substituiu pelo seu prédio nobre.» [Palácio do Loreto, ou Pinto Basto]
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 100, 1939.
CASTILHO, Júlio de, A Lisboa Antiga, p. 66, 1893.
ANDRADE, José Sérgio Velloso d’ – Memória sobre chafarizes, Bicas, Fontes e Poços Públicos de Lisboa, Belém, e muitos logares do termo, 1851.
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, p. 276-277, 1987.
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