Friday 30 August 2019

Rua de Arroios

Era para os lados de Arroios, adiante do Largo de Santa Bárbara; lembrava-se vagamente que havia ali uma correnteza de casas velhas... Desejaria antes que fosse numa quinta, com arvoredos murmurosos e relvas fofas; passeariam as mãos enlaçadas, num silêncio poético; e depois o som da água que cai nas bacias de pedra daria um ritmo lânguido aos sonhos amorosos... Mas era num terceiro andar — quem sabe como seria dentro?

(QUEIROZ, Eça de, O Primo Basílio,  1878)


Rua de Arroios  [1961]
Perspectiva tirada junto ao nº 120 na direcção do Largo de Santa Bárbara
Arnaldo Madureira, in AML

Antiga Rua Direita de Arroios, antes troço da Rua Direita dos Anjos e Rua Direita de Arroios. A Calçada de Arroios tal como a Rua de Arroios perpetuam na memória de Lisboa a ligação ao antigo sítio de Arroios, que indica regato e indica um local de hortas verdejantes. [cm-lisboa.pt]

Rua de Arroios  [entre 1901 e 1908]
Perspectiva tirada junto ao nº 1oo na direcção do Largo de Arroios
Machado & Souza, in AML

— É verdade, onde ias tu a Arroios?

Luísa passou devagar as mãos sobre o rosto para lhe cobrir a alteração. Disse, bocejando ligeiramente:

— A Arroios?

— Sim. O Saavedra, um sujeito que estava em casa do Conselheiro, diz que te via passar todos os dias para lá, de trem e a pé.

(QUEIROZ, Eça de, O Primo Basílio, 1878)

Wednesday 28 August 2019

Calçada (Nova da Bica) do Desterro

O topónimo antigo evoca o Convento do Desterro e uma velhinha bica que aqui corria, como descreve Norberto de Araújo nas suas «Peregrinações»:
Deves notar nesta artéria a mistura urbanista das edificações: prédios modernos de há cinco e seis anos¹ brigando com casebres de há cento e cinquenta. [...] eis outra curiosidade, esta delicada: a Bica do Destêrro, que foi fio de água corrente. 

Calçada do Desterro [1951]  
Perspectiva tirada da Rua de São Lázaro; ao fundo a Bica do Desterro (esq.) e o Hospital do Desterro
Antiga Calçada Nova da Bica do Desterro
Eduardo Portugal, in A.M.L.

Notam-se, ladeando a bica, que já não corre há anos, duas janelas ou frestas entaipadas, e com lindas colunas decorativas, de capitéis trabalhados [retirados para o Museu de Lisboa], vindas talvez de outro sítio, graça de arte que deve datar do século XVI. Sôbre êste conjunto ostenta-se uma grande caravela, em pedra, de alto relêvo, das maiores, que neste género, e para modéstia da bica, se topam em Lisboa.
Por cima de tudo — o muro florido de um quintal. A Bica do Desterro é anterior às primeiras edificações, ou delas coeva.

Calçada do Desterro [1951]  
Bica do Desterro
Antiga Calçada Nova da Bica do Desterro
Eduardo Portugal, in A.M.L.

Bica do Desterro [1930]  
Calçada do Desterro
Eduardo Portugal, in A.M.L.














Pelo que deixa perceber a gravura acima. a Bica N.º 3 teria inicialmente duas bicas  e um tanque. Na foto à direita, datada de 1930, ainda se observam as colunas decorativas, de capitéis trabalhados (hoje no Museu de Lisboa) e o respectivo tanque.
____________________________
Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 67.68, 1938.

Sunday 25 August 2019

Palácio Praia

O Palácio dos Marqueses da Praia, no Largo do Rato — entre a Rua das Amoreiras e a Calçada Bento da Rocha Cabral — , é uma edificação de 1784, ou de pouco antes. Ergueu-o, em primeira traça, Luís José de Brito, contador do Real Erário, e tesoureiro das contribuições para a superintendência das Obras das Aguas Livres, sobre chão rústico e casas que pertenceram à famosa fábrica da louça do Rato.

No começo de oitocentos era da viúva Brito, andou depois alugado, e foi mais tarde comprado pelo Barão de Quintela, do qual passou por herança ao Conde da Cunha e deste ao Marquês de Viana, que já o possuía em 1828, e cuja esposa era neta do Barão de Quintela.
Em 1876 o palácio foi vendido ao Visconde de Monforte, Luiz Coutinho de Albergaria Freire, deste passou a sua sobrinha, D. Maria José, que casou com o Conde da Praia, depois Marquês, António Borges de Medeiros Dias da Câmara e Sousa; deste transitou a seus filhos, 2.º Marquês da Praia e Monforte, D. Duarte, e Condessa de Cuba. Presentemente [em 1939] o Palácio do Rato pertence, em partes iguais, à Senhora Condessa de Cuba, que ocupa a parte sobre a Calçada da Louça [hoje de Bento da Rocha Cabral], e ao 3.° Marquês, D. António, filho de D. Duarte, que detém a parte sobre a Praça.

Palácio do Marquês da Praia e Monforte |1945|
Largo do Rato, 2; Calçada Bento da Rocha Cabral, 1
André Salgado, 
in Lisboa de Antigamente

Foram famosas no meado do século passado [XIX] as festas no Palácio do Rato, do tempo dos Marqueses de Viana, constituindo deliciosos motivos de crónicas lisboetas, tais as dos Condes de Farrobo, de Penafiel, do Carvalhal, paradas de aristocracia, cheias de beleza e opulência, bom gosto e aprumo; deram-se aqui deslumbrantes bailes de máscaras, a um dos quais pelo menos (1855) assistiram D. Pedro V, D. Fernando, e os infantes. 

Palácio do Marquês da Praia e Monforte [1950]
Largo do Rato, 2; Calçada Bento da Rocha Cabral, 1
Horácio Novais, 
in Lisboa de Antigamente

A Capela da Casa é fundação do Marquês de Viana, 1839, sendo o risco do arquitecto da Casa do Infantado Joaquim de Sousa; o pequeno templo da Calçada da Louça [hoje Calçada Bento da Rocha Cabra], propriedade da Condessa de Cuba, é dedicado hoje a N. Senhora da Bonança. Possue esta Igreja duas capelas laterais além da principal.

N.B. Este belo edifício, cedido em 1975 e depois arrendado, foi mais tarde adquirido pelo Partido Socialista (31 de Dezembro de 1986) aos descendentes do 4.º Marquês da Praia e Monforte, e passou a integrar, desde então, o seu património.

Palácio do Marquês da Praia e Monforte [1910]
Largo do Rato, 2; Calçada Bento da Rocha Cabral, 1
Legenda de arquivo: Bando precatório a favor das vítimas da revolução republicana.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. VIII, Lisboa, 1950.

Friday 23 August 2019

Theatro Moderno

O «Teatro Moderno», ampla sala de espectáculos, sito na antiga Rua de Nossa Senhora do Resgate, hoje Rua Álvaro Coutinho, foi inaugurado a 12 de Dezembro de 1907. Também designado por «Teatro dos Anjos» — a que o público chamava da «preta» — , por ser a  proprietária uma senhora de cor, aluiu parcialmente em 1918 tendo sido logo demolido
Hoje é lá um prédio de rendimento.

Theatro Moderno [c. 1907]
Rua Álvaro Coutinho, 15, na direcção da Rua Francisco Lázaro

 Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Theatro Moderno, ruínas [1918]
Rua Álvaro Coutinho, 15; ao fundo vêem-se alguns prédios na Avenida Almirante Reis

José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente

N.B. Na Travessa do Borralho — actual Rua Francisco Lázaro, dístico de 1924 — houve outro, depois cinema, o Cine-Teatro Salão dos Anjos comummente Teatro do Borralho, onde hoje é  o Lisboa Ginásio Clube (1923). 
Francisco Lázaro foi o primeiro desportista a ficar consagrado na toponímia de Lisboa, pelo Edital municipal de 09.12.1924, com a legenda «Pedestrianista Falecido em Estocolmo em 1912».

Rua Francisco Lázaro [1964]
Local onde funcionou o  Cine-Teatro Salão dos Anjos ou Teatro do Borralho, vendo-se os candeeiros que iluminavam a entrada; ao fundo a Rua Álvaro Coutinho no cruzamento com a Rua dos Anjos

João Goulart, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
Olisipo: boletim do Grupo "Amigos de Lisboa", vol.13, 1950.

Wednesday 21 August 2019

Teatro do Rato

No centro dêsse quarteirão sul [do Largo do Rato] referido — recorda Norberto de Araújo — chãos e casas que primitivamente foram da Real Fábrica de Sedasrasga-se um Arco, que leva a uns terrenos (antiga Quinta do Ferreira, ou do Ferrari, o que julgo mais acertado) nos quais à esquerda está de pé a adega e casa de pasto conhecida pela designação de «Parreirinha», e ao fundo se construíram em 1907 uns barracões sólidos, que pertencem, como oficinas, à Sociedade Portuguesa. de Automóveis, com entrada pela Rua da Escola Politécnica; uns quintalórios denunciam ainda a antiga feição rústico-fabril do local.

Largo do Rato [195]
Ao centro vê-se o arco de acesso à antiga Quinta do Ferreira, ou do Ferrari depois Teatro do Rato
Judah Benoliel, in AML

Aqui, precisamente no sítio dos barracões, assentou o Teatro do Rato, inaugurado em 27 de Março de 1880 e que ardeu em 1906, afinal também um grande barracão de zinco e tijolo, mas por cujo tablado passaram algumas notáveis figuras da cena portuguesa, entre as quais Adelina Abranches, felizmente ainda sobrevivente de uma geração de artistas eminentes.

Arco do Largo do Rato [1944]
Acesso à antiga Quinta do Ferreira, ou do Ferrari e ao Teatro do Rato
Eduardo Portugal, in AML
Comício republicano realizado no antigo recinto do Teatro do Rato [1907-05-01]
Largo do Rato
Fotógrafo não identificado, in AML

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 15, 1939.

Sunday 18 August 2019

Rua Andrade

O Bairro Andrade — diz Norberto de Araújo — foi aqui a grande primeira nota de urbanismo, entre campos e lugares aprazíveis; fundou-o um proprietário de terrenos locais, o qual, concedida a autorização municipal, o rasgou em xadrez regular, pondo às ruas os nomes das senhoras de sua família; leva pouco mais que quarenta anos [finais séc. XIX].


A Rua Andrade foi atribuída por deliberação camarária de 10 de Novembro de 1892, confirmada pela presidência da Câmara em 30 de Janeiro de 1893, a qual atribuiu também na mesma área os seguintes topónimos: Rua Maria Andrade, Rua Maria, Rua Palmira e Rua Antónia Andrade, no arruamento que ligava o Caminho do Forno do Tijolo com a Rua Maria.

Rua Andrade [1960]
Esquina com a Av. Almirante Reis; em frente à 'Leitaria Bijou' — antiga Farmácia Bezelga; do lado esquerdo da foto ficava o antigo Cinema Lys.
Arnaldo Madureira, in A.M.L.

Das actas das sessões da Comissão Municipal no ano de 1892, pode ler-se o seguinte sobre o dia 10 de Novembro de 1892:
«De Manuel Gonçalves Pereira d'Andrade, proprietário do 'Bairro Andrade', cujas ruas estão na posse da Câmara, pedindo que n'ellas sejam conservados os nomes que indica.
Deferido, com a alteração de Rua Antónia Andrade em vez de Rua Maria Antónia».
Daqui se pode inferir que a Rua Andrade recolhe a sua denominação do proprietário do Bairro Andrade e as restantes ruas do bairro, também indicadas pelo proprietário serão provavelmente de familiares — quiçá mulheres e filhas — do proprietário do Bairro Andrade.

Rua Andrade junto à Rua Palmira [1960]
Vendedeira de quinquilharia
Arnaldo Madureira, in AML
Nota(s): o local da foto não está identificado no A.M.L.
Rua Andrade, 55 [1960]
Vendedor ambulante de fruta
Arnaldo Madureira, in AML.
Nota(s): o local da foto não está identificado no A.M.L.

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, p. 15, 1938.
cm-lisboa.pt.

Friday 16 August 2019

Calçada do Conde de Pombeiro

Tem esta designação por aqui se situar o Palácio dos Condes de Pombeiro. A Rainha D. Catarina de Bragança para erguer o seu Paço da Bemposta, comprou neste sítio e em Santa Bárbara vários terrenos, dos quais, por lhe sobrarem, cedeu vários pedaços a pessoas amigas, e um deles, no actual Largo do Conde de Pombeiro, à sua camarista D. Luísa Ponce de Leão, para que esta pudesse ir viver para perto de si. D. Luísa era casada com o 1.º Conde de Pombeiro e foi um seu neto, o 3º conde deste título que veio a edificar aí um palácio conhecido pela Bempostinha e que o Terramoto de 1755 arruinou. [cm-lisboa.pt]

Calçada do Conde de Pombeiro com a Rua dos Anjos |1907|
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Wednesday 14 August 2019

Grande Hotel d'Inglaterra

lnstalara-se o Grande Hotel de Inglaterra no vasto prédio a esquina da Rua do Jardim do Regedor para os Restauradores, com a sua sala de jantar de estilo D. João V, como o salão de visitas. Foi inaugurado em 15 de Abril de 1906, por ocasião do décimo quinto Congresso de Medicina, que se realizou na capital. Era proprietário do hotel o senhor Abel de Barros, também dono da Pension Hotel, da Rua da Glória, centro de hospedagem preferido pelos portugueses que regressavam do Brasil. No novo estabelecimento havia pessoal português, inglês, alemão e francês.

Grande Hotel de Inglaterra |1912|
Praça dos Restauradores e Rua Primeiro de Dezembro (antiga do Príncipe)

Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

No prédio do lado oposto [da Rua 1.º de Dezembro], esquina da Rua do Jardim do Regedor — recorda Norberto de Araújo — , existiu até 1936 o Hotel de Inglaterra, que teve categoria. A Companhia, proprietária do Avenida Palace, comprou então o prédio para construir um grande Hotel, mas, como surgissem dificuldades, desfez-se do imóvel, o qual foi em 1937 adquirido pela «Ribatejana», sociedade de comércio agrícola; do Hotel novo, ou da reabertura do Hotel de Inglaterra, mais se não falou.

Grande Hotel de Inglaterra |1910|
Praça dos Restauradores e Rua Primeiro de Dezembro (antiga do Príncipe)

«Funeral do almirante Cândido dos Reis e do doutor Miguel Bombarda (1910-10-16)»
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 

GRANDE HOTEL DE INGLATERRA Praça dos Restauradores, 53 O mais central da capital Todo conforto, aquecimento central Agua corrente quente e fria, em todos os quartos Linda vista da Avenida da Liberdade PREÇOS MODERADOS Optimo serviço de cosinha.
(Roteiro ilustrado de Lisboa e arredores. Ed. do Guia de Portugal Artístico, Lisboa, 1935)

 



A parte decorativa das salas e dos quartos foi dirigida pelo sr. Augusto Pina, um consumado artista no Género como se pode pelo gosto com que decorou a sala de entrada como se pode ver pelo gosto com que decorou a sala de entrada em estylo Luiz XV e a sala de visitas no mesmo estylo, o gabinete de leitura, em estylo imperio, a grande sala de jantar que podemos classificar epoca. D. João V, onde se vêem lindos panneaux em tons suavissimos, pintura do sr Antonio Baeta, entre os apainelados de molduras em graciosos relevos, sobresaindo das paredes, classicas cariátides, obra do sr. Pina. Ao fundo d'esta sala ha uns bellos vitraes com pinturas, trabalho do atelier. Julio.
O quarto Luiz XV que se encontra no 3.º andar é tambem bellamente decorado, sendo digno de apreço o seu mobiliario e tapeçarias, assim como um outro quarto decorado em estylo Arte Nova.
Todos os pavimentos são cobertos por oleados ingleses de lindo gosto, vindos expressamente de Londres, assim como as tapeçarias vieram de Paris.
O estabelecimento do Grande Hotel d'Inglaterra sob os pontos de vista d'arte, hygiene e commodidade, é um grande melhoramento para a nossa capital. (O Occidente: 1906)

Grande Hotel de Inglaterra |1933|
Praça dos Restauradores e Rua Primeiro de Dezembro (antiga do Príncipe)

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. A inauguração fez-se no dia 15 de Abril de 1906, tendo sido tomados todos os quartos para alojamento de uma parte dos congressistas estrangeiros, que em numero superior a dois mil vieram a Lisboa tomar parte no XV Congresso de Medicina.
O edifício onde se encontrava o Grande Hotel de Inglaterra foi demolido em 1952.

Grande Hotel de Inglaterra, demolição |1952|
Praça D. João da Câmara e Rua Primeiro de Dezembro (antiga do Príncipe)
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia

MARTINS, Rocha, Lisboa: História das suas Glórias e Catástrofes, 1947.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p.  15, 1939.

O Occidente: 1906.

Sunday 11 August 2019

Mercados do Poço dos Mouros e de Arroios

Construído em 1942 pela “Sociedade de Construções Amadeu Gaudêncio” e projectado pelo arquitecto Luiz Benavente, o Mercado de Arroios veio substituir o antigo Mercado do Poço dos Mouros considerado anti-higiénico — ou mesmo "infecto" —, no dizer de alguns.

Classificado inicialmente como mercado retalhista, mais tarde desempenhou as funções de mercado abastecedor de legumes, passando á categoria de mercado misto:
“Dispunha de 31 lojas destinadas a talhos, salsicharias, venda de frutas, lacticínios, etc., e de 300 lugares de venda. No subsolo foram instalados um matadouro de aves, tulhas, cantinas e frigoríficos, para carne, peixe, caça, aves, frutas, hortaliças. Aqui também existem lavabos e chuveiros para utilização dos vendedores, público e pessoal; arrecadação para produtos e vestuários dos vendedores, devidamente numerados e uma cantina.” [Leite: 2012]

Mercado do Poço dos Mouros, inaugurado em 1927 |1927-06-20|
Rua Morais Soares com a Rua Carvalho Araújo (antiga Azinhaga do Areeiro)

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Mercado do Poço dos Mouros, inaugurado em 1927 |1939|
Rua Morais Soares com a Rua Carvalho Araújo (antiga Azinhaga do Areeiro)

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

O Mercado de Arroios situa-se entre as ruas Carlos Mardel e Ângela Pinto. Com projecto do arquitecto Luís Benavente, datado de 1942, destinou-se a servir um dos bairros então em maior expansão demográfica da capital: o que ligava a cidade da viragem para o século XX (em torno de Arroios) com as novas áreas em redor da Fonte Luminosa e do Bairro dos Actores. Implanta-se na principal praça deste último bairro, dominando funcionalmente este segmento urbanístico a ponto de determinar a equipamentos comerciais nas ruas adjacentes. A partir da década de 1980, e à semelhança de muitos outros mercados tradicionais, entrou em decadência progressiva, ameaçado pelas grandes superfícies comerciais e pela redução drástica de produção local em torno de Lisboa, facilitada pelo avanço dos subúrbios e pela conversão profissional de largas faixas da população. Permanece, todavia, como um dos mercados de referência da zona oriental.


Mercado de Arroios |194-|
Rua Ângela Pinto
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

O edifício segue uma planta centralizada, cujos lados são organizados uniformemente em alçados de quatro pisos, progressivamente mais pequenos à medida que se aproxima a cobertura. O registo térreo é formado por grandes arcadas de lintel recto, cobertas por superfícies de vidro que formam montras de estabelecimentos comerciais do interior. Quatro delas (abertas segundo os pontos cardeais) são as entradas principais, encimadas axialmente por brasões municipais. Os panos do segundo piso são rasgados por conjuntos de cinco janelões, solução que se repete nos dois últimos pisos, embora recorrendo a vãos mais pequenos.
O interior possui dois pisos, fazendo-se a ligação através de escadarias na quadra central. Aqui, no piso inferior, dispunham-se originalmente as floristas, enquanto as vendedoras de verduras e de frutas ocupavam a grande galeria circular junto às portas. O andar superior era reservado ao comércio de peixe. ~
[ALMEIDA, Álvaro Duarte de, Portugal património: Lisboa, 2007]

Mercado de Arroios |1942|
Rua Ângela Pinto
in Revista municipal Lisboa

Depois de dois anos de obras de requalificação e cerca de um milhão de euros depois, o Mercado de Arroios reabriu em 2017 apresentado à freguesia de cara lavada. Os postos de venda foram remodelados, o pavimento substituído e o interior pintado. Há uma nova rede de águas e melhorias na mobilidade (rampas e novos elevadores). O final desta requalificação acontece no ano em que se celebra o 75º aniversário da construção do mercado, classificado nos anos 80 como edifício com interesse cultural.
___________________
Bibliografia
cm-lisboa.pt.
Revista municipal Lisboa, 1941.

Friday 9 August 2019

Lançamento da 1ª Pedra para o monumento ao Dr. António José de Almeida

Recorda-nos o olisipógrafo Norberto Araújo que « O monumento ao Dr. António José de Almeida foi levado a efeito por iniciativa do então director do «Diário de Notícias» Eduardo Schwalbach; a subscrição pública abriu-se dois dias depois da morte do antigo presidente da República, sucedida em 30 de Outubro de 1929.

Avenida da República [1 de Fevereiro de 1932]
Cerimónia do lançamento da 1ª Pedra para o monumento ao Dr. António José de Almeida, 6º Presidente da República (1919–1923), na presença do Chefe de Estado Óscar Carmona.
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século

O primeiro local escolhido para o monumento foi o cruzamento das Avenidas da República e Miguel Bombarda, no qual se chegou a colocar a primeira pedra em 1 de Fevereiro de 1932.

N.B. Por iniciativa do Governo, a localização definitiva para o monumento viria a ser a Praça onde convergem a Avenida Miguel Bombarda e a Avenida António José de Almeida, tendo sido inaugurado a 31 de Dezembro de 1932.

Avenida da República [1 de Fevereiro de 1932]
Sessão solene do lançamento da 1ª Pedra para o monumento ao Dr. António José de Almeida, 6º Presidente da República (1919–1923), na presença do Chefe de Estado Óscar Carmona.
Fotógrafo não identificado, in Arquivo do Jornal O Século

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 74, 1939.

Wednesday 7 August 2019

Beco dos Cortumes

Nesta Travessa [do Terreiro do Trigo] se abre, à esquerda, descendo, uma das curiosidades autênticas da Alfama: o Beco dos Cortumes. Aí o temos, Dilecto. Eis-nos em- plena Alfama medieval.


Como é possível isto, através das desfigurações do tempo e da fortuna, no pobre urbanismo bairrista?  — questiona o ilustre Norberto de Araújo. Como encontramos hoje, e já tão perto da larga Rua do Terreiro do Trigo, este espécime raro era toda a Lisboa, que mais parece cousa de estampa antiga, arrancada a uma arca de erudito deão da Sé, do que água-forte viva em século de vintena?

Beco dos Cortumes, visto de dentro |1924|
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Pois está aqui, pitoresco e  sombrio, até mais não poder ser. É um enfiamento curto, sem saída, morrendo nas traseiras dos prédios do Chafariz de Dentro, para onde em tempos teria passagem.
Não é do mais belo, mas é do mais «repassado» de tôda a Alfama: chamemos-lhe viela, alfurja, beco ou betesga, mas não chega a ser nada disso; pois nem tem quási sinal de gente. Entremos. 

Entrada para o Beco dos Cortumes, visto de fora |1947|
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Arcos curtos, passadiços ligando prédios esquisitos que já lhe não pertencem, janelas de madeira, baixos de armazéns gradeados de frestas, como na Rua das Canastras e do Almargem à Ribeira Velha — um misto de reentrância exterior de cárcere e de recanto de burgo seiscentista — , este Beco dos Cortumes é uma pequena água-forte.

Beco dos Cortumes, visto de dentro [1925]
Alfredo Roque Gameiro. Lisboa Velha. Aguarela
 
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 65, 1939.

Sunday 4 August 2019

Rua Braamcamp, 3A-B esquina com a Rua Duque de Palmela, 35-37

Edifício para habitação destinado a Emílio Leguori, construído por Augusto Carlos da Cunha, a partir de um projecto do arquitecto Ventura Terra (1902).
Este edifício foi desenhado de uma forma simétrica, nos seus aspectos relacionados com a métrica de vãos e desenho de varandas. Duas faixas de azulejo, no topo e ao nível do piso térreo, conferem-lhe horizontalidade em contraponto com a verticalidade dos vãos. A zona de esquina é marcada exteriormente por três varandas sobrepostas, unidas por um pano de marquise em dois níveis na continuidade e largura do vão principal constituído pela entrada e respectivo desenho em pedra.

Edifício na Rua Braamcamp, 3A-B esquina com a Rua Duque de Palmela, 35-37 [c. 1910]
Prédio de Rendimento, construido em 1902, foi residência de Afonso Costa [vd. N.B.]; em 1972 foi ocupado pelo jornal «Expresso»; ao fundo vê-se o palacete «Casa da Cerâmica».
Joshua Benoliel, in AML

Uma proposta de 1940, tendo em vista retirar os envidraçados das marquises por se encontrarem em mau estado, não foi aceite por parte da Câmara, apesar de um primeiro parecer estar de acordo com a supressão dos mesmos, já que "em nada afectaria a expressão arquitectónica do edifício em questão, que segundo se julga só lucrará com essa circunstância", refere o texto da proposta. 
A necessidade de realizar obras por parte de um novo proprietário, a partir de 1940, levou a que o mesmo se dirigisse à Câmara solicitando a sua anulação relativamente ao interior das habitações. Curiosamente, refere o proprietário que "as rendas são antiquíssimas e de reduzido valor, para habitações de dezoito amplíssimas divisões, todas elas habitadas por gente rica. (...) Presentemente encontro-me exausto de recursos por muito tempo assim permanecerei, por os encargos dos empréstimos que contraí me absorverem todas as economias que venha fazer. Não seriajusto que, para beneficiar inquilinos ricos, satisfeitos com a sua habitação, fosse obrigado a fazer obras desnecessárias, gastando nelas dinheiro que não tenho, forçando-me a usar novamente o crédito,aumentando mais os encargos, já neste momento preocupante, pelo seu montante". 

Edifício sito na Rua Braamcamp, 3A-B esquina com a Rua Duque de Palmela, 35-37 [1917]
Prédio de Rendimento, construido em 1902, foi residência de Afonso Costa [vd. N.B.]; em 1972 foi ocupado pelo jornal «Expresso»; manifestação.
Joshua Benoliel, in AML

Em 1946, foram substituídas as marquises de ferro, que se encontravam em ruína, para outras construídas em estrutura de betão. Este projecto foi assinado pelo arquitecto Norte Júnior e pelo engenheiro Francisco Ventura Rego.
Em 1972, a Sojornal, proprietária do jornal Expresso, instala-se neste edifício, ocupando-o na totalidade. Em 1990, esta sociedade solicita uma remodelação do imóvel, com ampliação em altura, construção de 4 caves para estacionamento e conservação da fachada. O projecto foi reprovado pela Câmara Municipal em função dos planos urbanísticos em vigor para a zona e do estudo volumétrico do quarteirão, aprovado em 1980. Apesar do protesto do interessado, com base em pareceres jurídicos, a obra nunca se concretizou.

Rua Braamcamp vista da Praça do Marquês de Pombal [194-]
Prédio de Rendimento, construido em 1902, foi residência de Afonso Costa; em 1972 foi ocupado pelo jornal «Expresso».
Ferreira da Cunha, in AML

N.B. Afonso Costa (1871-1937) foi Presidente do Conselho de Ministro, ministro, dirigente do Partido Republicano e do Partido Democrático.
Em Outubro de 1910, um levantamento popular conseguiu implantar a República, não tendo havido uma resposta determinada do Exército. Formou-se um Governo provisório chefiado por Teófilo Braga, tentando impor um regimento com apoios unicamente na população urbana num país rural. Afonso Costa ficou com a pasta da Justiça: fez uma revolução num ministério que primava pela discrição. Iniciou reformas claramente anti-clericais, que contribuíram para o aumento da impopularidade do novo regime junto da população e da ala conservadora do republicanismo. Mas o ministro da Justiça e dos Cultos não cedeu às pressões e continuou com a política de afirmação dos valores laicos da República e de separação do Estado das igrejas, instituindo também o registo civil obrigatório.
__________________
Bibliografia
MANGORRINHA, Jorge, Arquitecturas de esquina em Lisboa, A.M.L., 2014.

Friday 2 August 2019

Quiosque do Arco do Cego

Se quisermos compreender facilmente o seu nascimento, teremos de analisar primeiro a proveniência do termo quiosque. Originado do francês kiosque, derivou por sua vez do turco kiouchk, que quer significar "nádegas", talvez pela posição que as pessoas adquirem em redor dele. É provavelmente por isso que, em gíria, quando pretendemos que alguém se afaste de nós, ainda ouvimos dizer: "chega-me para lá esse quiosque!”.

Estrutura
Base de alvenaria, quadrangular. Balcão alto com janelas corridas, encimadas em semicírculo de vidro opaco. Cúpula aos gomos quadrangulares, com bordo trabalhado.
 
Particularidades
Particular. Muito concorrido. Parece ter sido demolido em 1974 ou 1975.

Quiosque do Arco do Cego [1940]
Avenida Duque de Ávila
Eduardo Portugal, in AML

N.B. A Estação do Arco do Cego da Carris, funcionou como recolha de eléctricos da empresa. Mais tarde, albergou um terminal de autocarros de longo-curso e serve agora como parque de estacionamento. Junto a este edifício encontra-se o Jardim do Arco do Cego.

Quiosque do Arco do Cego [1960]
Avenida Duque de Ávila
Artur João Goulart, in AML

Bibliografia 

CAEIRO, Baltazar Mexia de Matos, Os quiosques de Lisboa, 1987.

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