Wednesday, 7 August 2019

Beco dos Cortumes

Nesta Travessa [do Terreiro do Trigo] se abre, à esquerda, descendo, uma das curiosidades autênticas da Alfama: o Beco dos Cortumes. Aí o temos, Dilecto. Eis-nos em- plena Alfama medieval.


Como é possível isto, através das desfigurações do tempo e da fortuna, no pobre urbanismo bairrista?  — questiona o ilustre Norberto de Araújo. Como encontramos hoje, e já tão perto da larga Rua do Terreiro do Trigo, este espécime raro era toda a Lisboa, que mais parece cousa de estampa antiga, arrancada a uma arca de erudito deão da Sé, do que água-forte viva em século de vintena?

Beco dos Cortumes, visto de dentro |1924|
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Pois está aqui, pitoresco e  sombrio, até mais não poder ser. É um enfiamento curto, sem saída, morrendo nas traseiras dos prédios do Chafariz de Dentro, para onde em tempos teria passagem.
Não é do mais belo, mas é do mais «repassado» de tôda a Alfama: chamemos-lhe viela, alfurja, beco ou betesga, mas não chega a ser nada disso; pois nem tem quási sinal de gente. Entremos. 

Entrada para o Beco dos Cortumes, visto de fora |1947|
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Arcos curtos, passadiços ligando prédios esquisitos que já lhe não pertencem, janelas de madeira, baixos de armazéns gradeados de frestas, como na Rua das Canastras e do Almargem à Ribeira Velha — um misto de reentrância exterior de cárcere e de recanto de burgo seiscentista — , este Beco dos Cortumes é uma pequena água-forte.

Beco dos Cortumes, visto de dentro [1925]
Alfredo Roque Gameiro. Lisboa Velha. Aguarela
 
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 65, 1939.

1 comment:

  1. Very interesting topic, thanks for putting up.

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