Nesta Travessa [do Terreiro do Trigo] se abre, à esquerda, descendo, uma das curiosidades autênticas da Alfama: o Beco dos Cortumes. Aí o temos, Dilecto. Eis-nos em- plena Alfama medieval.
Como é possível isto, através das desfigurações do tempo e da fortuna, no pobre urbanismo bairrista? — questiona o ilustre Norberto de Araújo. Como encontramos hoje, e já tão perto da larga Rua do Terreiro do Trigo, este espécime raro era toda a Lisboa, que mais parece cousa de estampa antiga, arrancada a uma arca de erudito deão da Sé, do que água-forte viva em século de vintena?
Beco dos Cortumes, visto de dentro |1924| Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Pois está aqui, pitoresco e sombrio, até mais não poder ser.
É um enfiamento curto, sem saída, morrendo nas traseiras dos prédios do
Chafariz de Dentro, para onde em tempos teria passagem.
Não é do mais belo, mas é do mais «repassado» de tôda a Alfama: chamemos-lhe viela, alfurja, beco ou betesga, mas não chega a ser nada disso; pois nem tem quási sinal de gente. Entremos.
Entrada para o Beco dos Cortumes, visto de fora |1947| Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente |
Arcos curtos, passadiços ligando prédios esquisitos que já lhe não pertencem, janelas de madeira, baixos de armazéns gradeados de frestas, como na Rua das Canastras e do Almargem à Ribeira Velha — um misto de reentrância exterior de cárcere e de recanto de burgo seiscentista — , este Beco dos Cortumes é uma pequena água- forte.
Beco dos Cortumes, visto de dentro [1925] Alfredo Roque Gameiro. Lisboa Velha. Aguarela |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 65, 1939.
Very interesting topic, thanks for putting up.
ReplyDelete