Como já preconizava Norberto de Araújo, em 1938, nas suas Peregrinações «a Rua da Tôrre da Pólvora que tende a desaparecer, pela urbanização que já nela começou no seu começo, esteve ligada às tradições polvoreiras de Alcântara».1 De facto, esta antiga artéria seria extinta e, mais tarde, integrada na novíssima Avenida Infante Santo, cujo topónimo viria a ser atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa através de Edital de 13/5/1949, à anterior Rua da Torre da Pólvora.
Espreitemos a Rua da Torre da Pólvora - prossegue Norberto de Araújo -, urbanizada e rectificada no seu troço inicial, sob a Pampulha, há dois anos [1936]. Na parte antiga vemos, à esquerda, uns casebres decrépitos, e os restos de fornos de cal, pois muitos por aqui houve. O sítio foi chamado, no século XVI, «Lapa da Moura», em virtude da existência de uma lapa entre as pedreiras que afloram ainda na raiz das construções. De Lapa da Moura se passou a Cova da Moura, nome que esta área entre Alcântara e Pampulha ainda mantém.
A designação de Torre da Pólvora nesta serventia nasce da circunstância de, no fundo da rua, ter sido construída, de 1670 a 1696, uma torre, depósito ou paiol de pólvora defendida per seu guarda fogo, num recinto relativamente largo.
O casarão foi depois presídio (1843), já há muito o depósito de pólvora havia desaparecido do local. Mais tarde, nas casas anexas reconstruidas e ampliadas, instalou-se o regimento de Infantaria n.° 7; ainda depois, em 1899, vários serviços de Administração Militar, e em 1928 uma Companhia de Trem Hipomóvel. É êste o bairrista quartel da Cova da Moura. (...)
Ora tornemos ao começo da Rua. Este palacete, do estilo de D. João V, à esquina da Cova da Moura, por onde tem a entrada principal, é do século passado [séc XIX]; pertencia ao Dr. João Ulrich, e foi adquirido pelo Ministério da Guerra em Agosto de 1935, para sede do Conselho Superior de Defesa Nacional e do Conselho Superior do Exército. Como contraste, olha-me este prédio, de 1938, ao estilo moderno e desafogado, e esse outro, em gaveto, estreito como uma cunha, entre as Rua e Travessa da Cova da Moura, do século passado. O urbanismo em Lisboa tem muito deste desequilíbrio estético.2
Palácio da Cova da Moura [ant. 1950] Avenida Infante Santo O topónimo Avenida Infante Santo foi atribuído pela Câmara Municipal de Lisboa através de Edital de 13/5/1949, à anterior Rua da Torre da Pólvora. Autor desconhecido, in Lisboa de Antigamente |
Em 1921, o Prémio Valmor foi o restauro do Palácio (setecentista) da Cova da Moura sito na Rua Cova da Moura; Avenida Infante Santo,; Travessa do Castro, projectado por Tertuliano Marques (1883-1942) e pertencente a João Ulrich. Até à data tinha sido o único caso de atribuição do prémio a um restauro, considerado significativo “por se desenvolver dentro de uma arquitectura tradicionalista portuguesa das mais belas”.
Apesar de ainda existir, foi profundamente modificado e acrescentado em 1950 e adaptado para ali funcionar uma dependência do Ministério da Defesa.
__________________________________________Bibliografia
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, p. 56, 1938.
2 idem, vol. IX, p. 13.
I couldn't refrain from commenting. Perfectly written!
ReplyDelete