A Avenida faz-se, sobretudo, ao domingo.
A burguezia
em seguida ás missas mais tardias, até ás quatro em que parte em
debandada para o jantar de família; das quatro ás seis o mundo official, aquelle de que se falla, que se cita, apregoado nas gazettas, faz annos como toda a gente, está doente como toda a gente, tem, de vez em quando, a sua dèlivrance — isto é, dá á luz robustas crianças como toda a gente... que as não dê fracas.
O aspecto do local, á hora fidalga, tem uma certa originalidade.
Não se parece com cousa alguma com o que ha lá por fora.
Incontestavelmente tem mais pittoresco, mais extravagancia, mais ruido,
mais animação.
(CABRAL, Carlos de Moura, Lisboa em Flagrante, 1899)
Avenida da Liberdade [séc. XIX]
A Avenida Faz-se, Sobretudo, Ao Domingo.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
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Era dia de festa, e a Avenida tomava o lugar do antigo antigo Passeio Público. Mas não apenas nos dias de festa, pois, bem cedo, a Avenida veio substituir o Passeio e «fazer a Avenida», sobretudo aos domingos, tornara-se num hábito lisboeta. Curiosa descrição do domingo lisboeta dá-nos a Ilustração Portugueza de 18 de Novembro de 1912, recordando que, «emquanto o povo vae d'assalto às hortas arrabaldinas ou nas excursões economicas, a meia burguezia invade a Avenida e o Campo Grande».
Contra a nova Avenida insurgira-se Ramalho Ortigão que, em 1874,
escrevia nas Farpas: «O projecto do boulevard do Rossio ao Campo Grande é
de uma concepção bem triste e pretensiosa (...) O boulevard não serve
senão para espalhar os maus habitos do café e do trotoir, o amor da
ostentação, a ociosidade, o boulevardismo, a cocotice, o luxo pelintra
da toilette.» [Ortigão: 1943].
Mas fez-se a Avenida — o grande sonho de
Rosa Araújo (1840-1893), então presidente da Câmara — , a tal grande
alameda arborizada ao estilo do boulevard à francesa, concebida como um
prolongamento do Passeio Público. Inaugurada em 1886, a nova Avenida
toma o lugar do Passeio, do qual herdara algumas árvores e estatuária e,
tal como o Passeio, veio a constituir-se num novo importante espaço de
convívio público.
Avenida da Liberdade [1898] Comemoração do IV Centenário da descoberta do caminho marítimo para a Índia. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
JANEIRO, Maria João , Lisboa: histórias e memórias, 2006.
Illustração Portugueza de 18 de Novembro de 1912.
Illustração Portugueza de 18 de Novembro de 1912.
Adoro ler este blog Parabéns
ReplyDeleteGrato pelo apreço.
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