Sunday 13 October 2024

Avenida de Roma

Topónimo atribuído a 27 de Dezembro de 1930, presta homenagem à capital da Itália. A atribuição está inserida num contexto de Estado Novo, onde o nacionalismo era contrabalançado com uma ambicionada dimensão internacional.

Avenida de Roma (em construção) |c. 1954|
Cruzamento com a Avenida Frei Miguel Contreiras (dístico de 1955)
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente
 
O cosmopolitismo formal, a ideia do mundo dentro de Lisboa, mais do que a modernidade das ideias e valores subjacente também a uma abertura para a Europa, está no âmago desta atribuição e de outras que se seguiram, nomeadamente, em 1948, Avenida de Madrid, Paris, Londres, entre outras.

Avenida de Roma [195-]
Perspectiva tomada da Praça de Londres junto a Avenida João XXI.
Claudino Madeira, in Lisboa de Antigamente

Friday 11 October 2024

Miradouro de São Gens (ou da Senhora do Monte)

Deves ter notado que cada miradouro de Lisboa tem a sua perspectiva especial, o seu anfiteatro diferenciado ao sopé rumoroso e confuso. Este do Monte, com a Ermida ao lado — recorda Mestre Araújo — é dos mais deleitosos de Lisboa.
O Bairro do Monte, urbanizado, data de 1902, embora anteriormente existisse na sua Calçada, no seu alto de S. Gens, e num ou noutro arruamento impreciso.
A Ermida de Nossa Senhora do Monte na sua feição primitiva era das mais antigas de Lisboa, pois foi fundada no próprio ano da tomada de Lisboa (1147), consagrada a S. Gens, bispo que fora de Lisboa, e neste lugar martirizado, segundo tradições. A Ermida não assentava neste sítio ; ficava nas faldas do Monte, já chamado de S. Gens [...]
 (ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, p. 37, 1938)

Miradouro de São Gens (ou da Senhora do Monte) |c. 1910]
Largo do Monte com uma criança dormindo na sombra de umas de suas árvores seculares — Phytolacca dioica, vulgo Bela-sombra — vendo-se, ao fundo, a Capela de Nª Sª do Monte.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente 

Sunday 6 October 2024

Alto do Longo aos Moinhos de Vento

O Alto do Longo — diz Norberto de Araújo — devia ter sido, com seus chinfrins e seu arruído de almas doloridas, um brinco para cenários excêntricos, na época que precedeu a regularização do cômoro que veio a ser o da Patriarcal Queimada.
É o avô do sítio. Não faz parte integrante do Bairro Alto nem pretende entrar na história dos Moinhos de Vento. Mas é muito velho. Uma coisita para ali à espera de picareta. [...]. 
No tempo em que a Cotovia adejava o seu alado estribilho, e quando o Conde de Tarouca erguia o seu palácio, que nunca chegou a ser — o Alto do Longo pertencia, como súcia, à grei urbana do sítio.
Quem foi o «Longo» que deu razão ao dístico? Perde-se na bruma a explicação toponímica. Contentemo-nos em entrar por um lado e sair pelo outro, desde o alto da velha Rua Formosa [actual de O Seculo], onde uma empena desamparada dá fundo a um desolado marco fontenário , até ao escadório da Travessa do Conde de Soure.

Rua Dom Pedro V com a Rua de O Século Alto do Longo |1943|
O Alto do Longo é anterior ao ano do Terramoto. [Araújo: 1938]
Eduardo Portugal,, in Lisboa de Antigamente

Esta Rua de D. Pedro V — prossegue Araújo — , designação do ano de 1885, era, antes, «dos Moinhos de Vento», o que bem dá nota da sua feição campesina e da sua situação ventosa. Já existia o Bairro Alto de S. Roque, e ainda esta estrada, sem desenho que que não fosse o de pé posto, e que não fazia parte da herdade de Santa Catarina (origem do Bairro Alto) corria entre terras de semeadura. Os ingleses de Maria Tudor, auxiliares de D. António, Prior do Crato, quando cercaram Lisboa em 1589, tempo de Filipe II de Espanha, estiveram aqui acampados.==

Rua D. Pedro V |1908-02-08|
Esta Rua de D. Pedro V, designação do ano de 1885, era, antes, «dos Moinhos de Vento». [Araújo: 1938]
Legenda no abandalhado aml: «Funerais de Dom Carlos e de Dom Luís Filipe
Joshua Benoliel,, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, p. 205, 1943.
idem, Peregrinações em Lisboa, vol. V, pp. 64-68, 1939.

Friday 4 October 2024

Ruas da Alfândega e dos Bacalhoeiros

As Rua Nova da Alfândega e a Rua da Ribeira Velha [actual Rua do Instituto Virgílio Machado] passaram a constituir um único arruamento, com a denominação de Rua da Alfândega, por edital do Governador Civil de Lisboa de 1 de Setembro de 1859, em razão do edifício da Alfândega que ocupa todo o lado sul desta Rua, uma construção pombalina posterior ao terramoto de 1755 que veio substituir a alfândega quinhentista que se situava aproximadamente onde hoje confluem as Ruas do Comércio e da Madalena.
De acordo com o olisipógrafo Pastor de Macedo, a partir de 1755 a parte oriental da rua era a Ribeira Velha que só em 1836 aparece como Rua da Ribeira Velha, enquanto a parte compreendida entre o Terreiro do Paço e a Rua dos Arameiros foi denominada como Rua Direita da Misericórdia (1766), Rua da Misericórdia de Baixo (1780), Rua dos Freires da parte de baixo (1787), Rua da Conceição dos Freires da parte do mar (1799) e Rua Nova da Alfândega (1806).

Rua da Alfândega |Início séc. XX|
À esquerda, a Rua dos Arameiros e à dir. o edifício da antiga Alfândega [hoje Min. Finanças].
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

De acordo com Gomes de Brito, pelo mesmo Edital do Governador Civil de 1 de Setembro de 1859, as Ruas dos Bacalhoeiros e dos Confeiteiros foram mandadas reunir em uma só, sob a designação de «Bacalhoeiros». A dos Confeiteiros, que anteriormente a 1755 se denominava «Rua de Cima da Misericórdia» principiava no Arco Escuro (Campo das Cebolas) e findava na rua da Madalena. [Brito: 1935]

Ruas da Alfândega e dos Bacalhoeiros (dir.) | c. 1900|
Ao centro vê-se o antigo Terreirinho das Farinhas composto por um renque de seis
pequenos núcleos de casas sito entre a Rua dos Arameiros e o Campo das Cebolas e demolido na
década de 1940.

Autor desconhecido, in Lisboa de Antigamente

Sunday 29 September 2024

Igreja de São Domingos

S. Domingos — Dilecto — é uma crónica viva de Lisboa, com as suas imediações da Praça da Figueira, com o seu trânsito obrigatório, pela Rua Barros Queiroz e Calçada do Garcia, formigueiros de gente, que desce dos Anjos, dos bairros novos, ou de Sant'Ana velha. [...]

Junto do templo dominicano, assentava, crê-se que já antes de se erguer o Convento, a pequenina ermida de N. Senhora da Purificação, da Escada, de grande nomeada na Lisboa velha; o seu lugar era onde está a Casa de Candeeiros, que foi de Tomé de Barros Queiroz, bom cidadão de Lisboa (...)»

Igreja de São Domingos [c. 1910]
Rua Barros Queirós; Largo de S. DomingosGinjinha do Rossio
A velha Igreja de São Domingos ficava junto à ermida de Nossa Senhora da Escada, também conhecida por Nossa Senhora da Corredoura, por ficar próximo do sítio deste nome, actualmente a Rua das Portas de Santo Antão, e cuja construção datava dos princípios da monarquia.
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Tendo sido lançada a primeira pedra no ano de 1241, e alvo de sucessivas e diferentes campanhas de obras que lhe foram alterando e adicionando a traça primitiva, data de 1748 a reforma efectuada na capela-mor pelo arqº Ludovice, acabando por ser a única zona do templo poupada ao terramoto de 1755. Seguidamente, a igreja foi reconstruída por Manuel Caetano de Sousa, que reaproveitou o portal e a sacada sobrejacente pertencentes à Capela-Real do Paço da Ribeira.
Em termos formais, esta Igreja conventual denuncia uma arquitectura barroca, de planta em cruz latina. Enquanto que exteriormente é caracterizada pelas suas linhas simples, o interior ainda revela alguma da sua notória riqueza ecléctica. Assim, serão dignos de realce, não apenas o aspecto grandioso de todo o espaço interior, como os próprios mármores e pinturas, infelizmente hoje desaparecidos.

Era notável a sua riqueza em alfaias preciosas, havendo uma imagem de prata maciça, que saía em procissão num andor do mesmo metal, alumiada por lâmpadas também de prata. As pinturas dos altares, os paramentos, os tesouros, tudo desapareceu durante o terramoto de 1755, salvando-se unicamente a sacristia e a capela-mor, mandada fazer por D. João V e riscada pelo arquitecto João Frederico Ludovice, em 1748 - homem que projectou o colossal Convento de Mafra. A capela-mor, toda de mármore negro, e em cujas colunas se vêem, junto à base, medalhões delicadamente cinzelados, que também avultam sobre os nichos laterais.
 
Igreja de São Domingos |Inicio séc. XX|
Perspectiva longitudinal do interior da Igreja
A Capela-mor, edificada em 1748 por Ludovice e acabada por João António de Pádua é rematada
por um arco de volta perfeita que marca a outra extremidade da abóbada de berço e possui quatro
grandes colunas sem capitel que delimitam o receptáculo do Sacrário com porta de bronze. O conjunto
é rematado por formação escultórica ladeando o registo central, duas mísulas com as estátuas de
S. Domingos e S. Francisco. Nas paredes laterais, janelas ao nível do grupo escultórico superior.
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Em 13 de Agosto de 1959, um violento incêndio destruiu por completo a decoração interior da igreja, onde constavam altares em talha dourada, imagens valiosas e pinturas de Pedro Alexandrino de Carvalho. A igreja recebeu obras e reabriu ao público em 1994, sem esconder as marcas do incêndio, como as colunas rachadas. Ainda que destruída, é uma igreja que sobressai pela policromia dos seus mármores. 
Actualmente é a igreja paroquial da freguesia de Santa Justa e Santa Rufina, em plena Baixa Pombalina e foi classificada como Monumento Nacional. Expõe metade do lenço usado por Lúcia no dia 13 de Outubro de 1917 (a outra metade encontra-se no Santuário de Nossa Senhora de Fátima, em Fátima) e ainda o terço usado por Jacinta Marto no mesmo dia.

Igreja de São Domingos, abside e torre sineira |c. 1950|
Rua Dom Duarte cruzamento com a Rua da Palma  e Rua Barros Queirós
Numa passagem para a sacristia, com entrada pela Rua da Palma, encontram-se os túmulos do grande pregador dominicano Fr. Luís de Granada (m. 1588) e do reformador da ordem Fr. João de Vasconcelos (m. 1652). Esta igreja tem ainda uma cripta abobadada e dotada de lambris de azulejos, onde está o túmulo de D. João de Castro, capelão de D. João. 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa», vol. XII, p. 80, 1939.
CARRIÇO, Hugo Miguel, Informação sobre igrejas de Lisboa, 2017.

Friday 27 September 2024

Rua Violante do Céu

Por Edital de 19 de Julho de 1948 foi inscrito o nome de Violante do Céu na Rua nº 10 do Sítio de Alvalade, a que mais tarde, por parecer da Comissão Municipal de Toponímia de 15/05/1970, se juntou a legenda «Poetisa / 1601–1683». 

Rua Violante do Céu |1961|
Poetisa 1601-1683
Antiga Rua nº 10 do Sítio de Alvalade.
Cena de rua com venda ambulante; fotografia tirada da Escola Eugénio dos Santos no cruzamento com a Av. de Roma.
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

Soror Violante do Céu foi freira dominicana que na vida secular se chamava Violante Montesino. Professou no convento de Nossa Senhora do Rosário da Ordem de S. Domingos em 1630. Conhecida nos meios culturais da sua época como Décima Musa e Fénix dos Engenhos Lusitanos, cultivou a vertente conceptista do Barroco, que assentava, essencialmente na construção mental e na elegância da subtileza, exibindo um estilo muito mais intelectualizado do que o admitiria o preconceito sentimentalista feminino. Profundamente entrosada no espírito da Fénix Renascida, exibe nas suas composições uma dietética idealista que procura concretizar o impossível, transformar a morte na vida, a tristeza na alegria.
Destacam-se na sua obra «La Transformación por Diós» (1619), «Rimas» (1646) e «Parnaso Lusitano de Divinos e Humanos Versos» (1733). [infopedia]

Sunday 22 September 2024

Escadinhas na Rua do Sacramento, à Pampulha

O topónimo deriva do Convento do Sacramento, de religiosas dominicanas que foi fundado em 1612 pelos Condes de Vimioso. A sua igreja manteve o culto alguns anos depois de 1834 e nuns anexos da ala poente esteve instalada depois de 1911, a Academia de Ciências de Portugal. A partir de 1916, o edifício passou a depender do então Ministério da Guerra.

Rua do Sacramento a Alcântara: Escadinhas na Pampulha |1949|
Cruzamento com a Rua Tenente Valadim com a Calçada da Pampulha em fundo.
Fernando M. Pozal, in Lisboa de Antigamente

Em relação à etimologia da palavra «Pampulha», refere Gomes de Brito na sua Ruas de LisboaÉ este um dos dísticos da via pública lisbonense até agora, supõe-se, indecifrados, e já agora indecifráveis, provavelmente. De remota era é decerto, pois que por coevo da dominação filipina se pode afirmar.
Aliás, no que a esta denominação diz respeito. Norberto Araújo faz afirmação idêntica.  
(BRITO, Gomes de) Ruas de Lisboa. Notas para a história das vias públicas, 1935.)

Friday 20 September 2024

Cruzamento formado pelas Ruas Nova de São Mamede, Salitre, Barata Salgueiro e Rodrigo da Fonseca

No final do século XII, e sob a autoridade do Bispado de Lisboa, surgem na capital as dez primeiras freguesias (terreno delimitado, na cidade ou no campo, em que habitavam indivíduos que seguiam o mesmo culto, tendo como ponto principal o templo ou a igreja matriz). Em 1247, nasce São Mamede, famosa por albergar o Jardim Botânico de Lisboa e o Edifício da Imprensa Nacional. É a mais antiga das freguesias que hoje formam a de Santo António.

A Rua Nova de São Mamede é assim designada por se encontrar nas proximidades da Igreja Paroquial de São Mamede. Esta paróquia remonta ao século XIV (1312), Anteriormente designada Travessa de São Mamede, este arruamento foi renomeado  pelo Edital do Governo Civil de 5 de Abril de 1945, tendo o seu início no Largo de São Mamede e término na Rua do Salitre.

Salitre. O local em que se encontra foi mencionado pela primeira vez em 1665 nos Livros dos Óbitos da freguesia de São José: “Pátio do Salitre”, designação que se manteve até 1746. Este topónimo nasceu das nitreiras ou salitrais que os frades de São Bruno – conhecidos como Cartuxos ou Brunos – tinham nas suas hortas, nos terrenos que detinham nesta artéria, já que salitre é o nome vulgar do nitrato de potássio, um adubo. Este arruamento inicia-se na Avenida da Liberdade, terminando na Rua Rodrigo da Fonseca.

Cruzamento formado pelas Ruas Nova de São Mamede, Salitre, Barata Salgueiro e Rodrigo da Fonseca |c. 1940|
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

A Rua Barata Salgueiro homenageia o Dr. Adriano Antão Barata Salgueiro (1814-1895) que cedeu gratuitamente e a preços reduzidos terrenos para a o projecto de urbanização da Avenida da Liberdade. Denominação atribuída por Deliberação Camarária de 6 de Maio de 1882. Este arruamento tem início na Rua de Santa Marta e termina Rua Rodrigo da Fonseca.

A Rua Rodrigo da Fonseca — anteriormente designada Azinhaga do Vale do Pereiro — foi renomeada pela Deliberação Camarária de 28 de Fevereiro de 1884 e respectivo Edital do Governo Civil de 4 de Março do mesmo ano, iniciando-se na Rua do Salitre e terminando na Rua Marquês de Fronteira. 
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Bibliografia
jfsantoantonio.pt
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