Sunday, 12 October 2025

Aqueduto das Águas Livres: a «incrível magestade os seus enfileirados trinta e cinco arcos»

A grandiosidade do Aqueduto das Águas Livres deslumbrou os viajantes que demandaram Lisboa. Mesmo os menos pródigos em encómios aos marcos monumentais da cidade reconheceram os seus atributos estéticos e funcionais: 
No vale de Alcântara, a curta distância de Lisboa, tive ocasião de ver o famoso aqueduto que ligava duas colinas [...] Era todo de mármore branco e não ficava a dever nada aos mais magnificentes aquedutos que nos deixaram os antigos, quer em utilidade e grandeza, quer em elegância. [Gorani, 1765, p. 100]

 

Aqueduto das Águas Livres |1946|
A extraordinária arcaria do vale de Alcântara, numa extensão de 941m, é composta por 35 arcos, incluindo, entre estes, o maior arco de pedra em vão do mundo, com 65,29 m de altura e 28,86 m de largura.
Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Não existe em Lisboa nenhum edifício que se imponha pela vastidão e majestade ou mesmo pelo seu conjunto [...] O único edifício público que merece ser visto está fora de Lisboa — é um soberbo aqueducto, destinado a abastecer de água esta cidade [...]: nele se conjugam a magnificência com a beleza, o ousio à solidez da construção. [Carrere, 1796, pp. 29-30]
É impossível comunicar aos outros o sentimento de admiração que se apossou de nós logo à primeira vista, porque a imaginação não pode elevar-se a uma concepção tão sublime como aquela que a realidade apresenta. [Ruders, 1798-1802, p. 48]

Aqueduto das Águas Livres |190-|
Quinta da Rabicha
Construído entre 1731-1748, contou desde o início com o apoio de. D. João V. Na direcção das suas obras trabalharam. o Coronel Engenheiro Manuel da Maia, Custódio Vieira e o romano António Canevari, arquitecto italiano, e João Frederico Ludovice.

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Aqueduto das Águas Livres |1900|
O Aqueduto das Águas Livres «n'uma  recta quebrada» foi «a grande obra de engenharia do reinado joanino» que partiu de uma iniciativa do procurador da cidade, Claudio Gorgel do Amaral, em 1728. Com um grande declive, a vista é particularmente dominada pela imponente conduta de água que, com trinta e cinco arcos, se estende sobre o vale fundo. Árvores altas e casas de quatro andares parecem ficar como a seus pés.
Cunha Moraes, in Lisboa de Antigamente

O Aqueduto das Águas Livres, no seu troço mais monumental, sobre o vale de Alcântara, é atravessado por várias estruturas viárias (ramais ferroviários de Alcântara e da ponte 25 de Abril, avenidas de Ceuta e Calouste Gulbenkian, Eixo Viário Norte/Sul, entre outras). O Monumento, propriamente dito, sobre a Ribeira de Alcântara, começado a construir-se em 1739, na extensão de 941 metros, e nele, a assinalar: 35 arcos, dos quais: 18, de volta inteira, do lado de Lisboa; 14 (os do centro) de perfil ogival, com robustos pegões, o maior dos quais «Arco Grande» — mede 65,29m de altura e 28,86m de boca (largura); e 3, de volta inteira.
Chamei de ominosa memoria ao arco grande; todos me entendem — diz Júlio de Castilho; foi o alto d'aquella ogiva, o theatro lugubre das façanhas de Diogo Alves, o assassino. O ecco d'essa aboboda, que repete varias vezes cada palavra , ainda se lembrará talvez dos ais angustiosos das victimas arrojadas lá de cima, e volteando no ar até se espalmarem no lagedo natural do chão. 
(Júlio de Castilho (1840-1919) . «Aqueducto das Aguas Livres, 26 de Outubro de 1901)

Aqueduto das Águas Livres, Arco Grande |c. 1912|
Calçada da Estação e linha férrea Lisboa-Sintra, inaugurada em 1887, chegou a Campolide em 1895.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Friday, 10 October 2025

Ruas Saraiva de Carvalho e Domingos Sequeira

Passada a confluência das ruas de Ferreira Borges è Domingos Sequeira, a Rua Saraiva de Carvalho aproxima-se do seu lanço mais antigo, onde ainda aparecem uma ou outra casa de modesta construção de há cento e tal anos, pátio tipo setecentista desfigurado, no n.º 212 [ao fundo], e umas notas dispersas de poesia urbana antiga. Não oferece, porém, qualquer espécie de interesse em monumental ou em pitoresco. [ARAUJO, Norberto de Araújo, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 62, 1939]

Ruas Saraiva de Carvalho e Domingos Sequeira |1961|
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

N.B. No último quartel do século XIX, as Ruas de Santa Isabel e de S. Miguel da Boa Morte passaram a constituir um arruamento único com a denominação de Rua Saraiva de Carvalho, através da publicação do Edital de Municipal de 16/11/1885, em homenagem ao jurisconsulto Saraiva de Carvalho.

Sunday, 5 October 2025

Alfândega de Lisboa, fachada sul

Este edifício, pouco atraente na sua simplicidade, merece, contudo, a nossa atenção e um ou dois reparos de ordem histórica. Por um lado, trata-se do antigo celeiro onde se armazenava o trigo (e por isso veio a dar o nome à rua que o ladeia); por outro lado, um olhar cuidadoso à fachada sul faz-nos reparar em elementos relacionados com o facto de se encontrar mesmo à beira do rio, com cais próprio e acesso directo. Como outros edifícios de Lisboa, contava com um espaço aberto no interior o que lhe dá uma estrutura arquitectónica sui generis.
(ADRAGÃO, José Victor & PINTO, Natália & RASQUILHO, Rui, Lisboa, 1985)

Alfândega de Lisboa, fachada sul |195-|
Av. Infante D. Henrique, 36
Salvador de Almeida Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Fachada Sul do antigo e imponente edifício público pombalino da Alfândega de Lisboa. Situado na margem do Tejo foi construído entre 1765-68 para Celeiro Público. Possuía à época um cais privado, já desaparecido.

Vista aérea de Alfama |1953-02|
Em baixo observa-se o edifício da Alfândega de Lisboa na Av. Infante D. Henrique.
Manoel P. Carneiro, in Lisboa de Antigamente

Friday, 3 October 2025

Rua Marquês de Sá da Bandeira

As chamadas Avenidas Novas são delimitadas pela Avenida Duque de Ávila, a sul, pela Rua do Arco do Cego, a oriente, pela linha férrea de cintura, a norte, e pela Rua Marquês Sá da Bandeira, a poente (..). Enfiemos agora por esta Travessa do Marquês de Sá da Bandeira, antiga e simpática estrada que levava da Rua das Cangalhas, ao Campo Pequeno.==
[ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 63, 1939)

Antiga Estr. que principia na Barreira do Rego e termina no Largo do Rego a S. Sebastião da Pedreira. Por deliberação da C.M.L. de Belém em 20/10/1881, a Rua Marquês de Sá da Bandeira passou a terminar no Campo Pequeno. Por deliberação da CML de 24/11/1888, edital de 01/12/1888, foi integrada na Rua Marquês de Sá da Bandeira a via pública que fica no seu prolongamento denominada Estr. do Rego. [cm-lisboa]

Rua Marquês de Sá da Bandeira | 1964|
Militar e Politico 1795-1876
Muro de cantaria do ntigo Parque «de José Maria Eugénio [de Almeida]» — tradição oral mais pró­xima — ou Santa Gertrudes e actual Jardim da Fundação Calouste Gulbenkian.
Artur Goulart, in Lisboa de Antigamente

N.B. Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, 1.º Barão, 1.º Visconde e 1.º Marquês de Sá da Bandeira, (1795-1876). Foi fidalgo da Casa Real, Par do Reino, Ministro de Estado, Marechal de campo, Director da Escola do Exército, entre outros cargos e actividades.
Destacou-se pela sua bravura no campo de batalha, primeiro durante as Invasões Napoleónicas e mais tarde durante as Guerras Liberais, onde tomou o partido dos liberais contra os miguelistas.

Rua Marquês Sá da Bandeira |c. 1940|
Chafariz, hoje demolido, localizado no actual Largo Azeredo Perdigão; ao fundo vê-se
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 28 September 2025

Rua dos Condes

O topónimo "Rua dos Condes" radica nos diversos palácios de vários condes existentes naquela zona:
«Começará o Destricto desta Paroquia no Palacio do Excellentissimo Conde de Povolide; [...] e voltando sobre o lado esquerdo, entrará na Rua dos Condes de Povolide, onde principiou; pertencendo-lhe todas as mais Ruas, Travessas, e Becos comprehendidos neste destricto. [Collecção da legislação Portugueza: 1835]

O local, ainda no século XVI, era fora de portas e, a Rua dos Condes, mais não era que uma viela, prolongamento da actual Calçada da Glória. A norte, no quarteirão que parte do actual Largo da Anunciada, edificou-se o palácio dos Condes da Ericeira, cujos jardins e hortas se estendiam até à Rua dos Condes; a sul, existiu o antigo solar dos Condes de Castelo Melhor; e, ao fundo, na Rua das Portas de Santo Antão, a casa dos Condes Povolide, o que justifica plenamente, o nome da rua.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 23-24)

Rua dos Condes |1929-07-30|
Cinemas Olympia (esq.) e Odeon (dir.); ao fundo nota-se o Palácio Foz e a Pç. dos Restauradores. 
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O primeiro espaço a que se poderá designar como efetivo teatro, foi o Teatro da Rua dos Condes, construído em 1738. O novo recinto de espectáculos ficava situado, no século XVIII, nos limites da cidade, em terrenos pertencentes ao palácio da Anunciada, dos condes da Ericeira (daí derivando o nome «Condes›», no espaço onde anteriormente existira um picadeiro. Foi o primeiro, naquela localização, de uma longa série de edifícios dedicados a funções teatrais, que mantiveram sempre o nome embora fossem evoluções ou mesmo edifícios diferentes: o segundo Teatro da Rua dos Condes (1888), o Cinema Condes (1915) e o novo Cinema Condes (1952).
Em boa parte do século XVIII e até à abertura do Teatro de S. Carlos (em 1793), o Condes foi o mais importante espaço de ópera italiana em Lisboa, passando depois a Teatro Nacional de declamação até à inauguração do Teatro Nacional de D. Maria II (em 1846). Terminou a sua existência em 1882, depois de nas suas décadas finais ter sido utilizado como teatro popular. 
 (CARNEIRO, Luís Soares, Theatre Spaces for Music in 18th-Century Europe, pt. I, 2020)

Rua dos Condes |1949|
O primitivo Cinema Condes (1915); Avenida da Liberdade; Ateneu Comercial de Lisboa.
O prédio na esquina oposta ao cinema data de 1912 pelo risco do arq. Francisco Vilaça e substitui este outro.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Friday, 26 September 2025

Lojas de Antanho — alfaiatarias das Ruas de São Nicolau, dos Sapateiros e dos Correeiros

Foi a Travessa de São Nicolau, atribuída pelo decreto pombalino de 5 de Novembro de 1760 que fixou denominações às ruas da Baixa lisboeta. A denominação deriva da proximidade à antiga igreja de S. Nicolau que foi reedificada pela primeira vez em 1280 e após o Terramoto, quase foi construída toda de novo, com obras que decorreram de 1780 a 1850.

Ruas de São Nicolau e dos Sapateiros |c. 1910|
Alfaiataria Royal House: "Alfaiataria Especial de Fatos para Homem Suprema Elegância"
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Para a Rua dos Sapateiros define o diploma o seguinte: «Nesta Rua he a que medeia entre a Rua Augusta, e a Rua Aurea. Em hum lado della se devem arruar os sapateiros, porque só costumaõ arrar-se os que servem a Plebe; e o outro lado se deixar livre para os Misteres do Povo assima referidos».

Ruas de São Nicolau e dos Correeiros |c. 1910|
Alfaiataria Ingleza
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL
 

Rua dos Correeiros (vulgo Travessa da Palha), que foi destinada aos ofícios de Seleiros — recorda-nos Norberto de Araújo nas Peregrinações — ainda hoje [em 1939] subsistentes —, e que se chamou também da Correaria Nova, e Nova dos Correeiros, deve a designação oral, sobrevivente, à vizinhança com o Largo e Praça da Palha.

Sunday, 21 September 2025

Largo Silva e Albuquerque que foi Rua dos Canos

Não tem o bairro da Mouraria — de tão ressonante nome — o fundo sólido lisboeta do de Alfama. Não é, porém, menos característico, embora o seu pitoresco se concentre apenas em três ou quatro artérias buliçosas. Começou a povoar-se logo depois da tomada de Lisboa em 1147, quando D. Afonso Henriques para aqui atirou os mouros «forros», que ocuparam as encostas das Olarias e dos Lagares, as abas do Castelo, pelo lado N., descendo até ao vale, que é a Praça do Martim Moniz de hoje.
 
Ora, aproximando-nos do cabo da jornada, entremos no Largo Silva e Albuquerque [hoje Praça do Martim Moniz] Ponde avulta a face poente do casarão Alegrete — condenado à demolição, e muito bem. Ali, na parte que abre para a Rua da Palma — recorda o ilustre Norberto de Araújo — existiu até há dois anos [c. 1936] uma estreita serventia rasgada pela demolição já iniciada neste sítio, em obediência ao plano urbanista municipal.

Largo Silva e Albuquerque que foi Rua dos Canos |c. 1900|
Aguadeiro junto ao Palácio do Marquês de Alegrete.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O sítio é feio, desagradável, sem pitoresco, ainda que com signıficação bairrista, nos seus cafés de tipo antigo, botequins e tavernas de peixe frito, durante o século passado de fama equívoca.
O dístico foi substituído, em 1885, por este actual de Silva e Albuquerque, em memória de José Maria da Silva e Albuquerque, operário muito culto, um apóstolo da instrução primária gratuita, falecido em 1879.

 

Largo Silva e Albuquerque que foi Rua dos Canos |1938-10-12|
Palácio do Marquês de Alegrete, portal sul-poente.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

O Palácio dos Marqueses de Alegrete foi construído pelos condes de Vilar-Maior, no século XVII, sobre um lanço da muralha (da cerca de D. Fernando) e sobre a porta da Mouraria. Depois, elevado o conde de Vilar-Maior ao título de Marquez de Alegrete, se ficou chamando á porta da Mouraria — Arco do Marquez de Alegrete, nome que ainda conserva, e dando-se também o de «Rua do Arco do Marquez de Alegrete, à que d'esta porta vae ao Largo do Poço do Borratem».
(in Portugal antigo e moderno, 1873)

Largo Silva e Albuquerque com a Rua da Palma em fundo |1946|
Palácio do Marquês de Alegrete (demolições)
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol XV, pp. 221, 1936.
ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. III, pp. 78-79, 1938.

Friday, 19 September 2025

Avenida da Liberdade: posto avisador de incêndios

A acção do B.S.B. dependia em grande parte da actuação rápida no inicio dos fogos; para isso mantinha, em 1940, um serviço de comunicações próprio, constituído por 153 avisadores de incêndio na via pública, e 200 telefones em edifícios do Estado e do Município (139), casas de espectáculos (44) armazéns è estabelecimentos (17). [RML: 1940]

Avenida da Liberdade: posto avisador de incêndios |1927-11-13|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

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