Sunday, 28 September 2025

Rua dos Condes

O topónimo "Rua dos Condes" radica nos diversos palácios de vários condes existentes naquela zona:
«Começará o Destricto desta Paroquia no Palacio do Excellentissimo Conde de Povolide; [...] e voltando sobre o lado esquerdo, entrará na Rua dos Condes de Povolide, onde principiou; pertencendo-lhe todas as mais Ruas, Travessas, e Becos comprehendidos neste destricto. [Collecção da legislação Portugueza: 1835]

O local, ainda no século XVI, era fora de portas e, a Rua dos Condes, mais não era que uma viela, prolongamento da actual Calçada da Glória. A norte, no quarteirão que parte do actual Largo da Anunciada, edificou-se o palácio dos Condes da Ericeira, cujos jardins e hortas se estendiam até à Rua dos Condes; a sul, existiu o antigo solar dos Condes de Castelo Melhor; e, ao fundo, na Rua das Portas de Santo Antão, a casa dos Condes Povolide, o que justifica plenamente, o nome da rua.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 23-24)

Rua dos Condes |1929-07-30|
Cinemas Olympia (esq.) e Odeon (dir.); ao fundo nota-se o Palácio Foz e a Pç. dos Restauradores. 
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O primeiro espaço a que se poderá designar como efetivo teatro, foi o Teatro da Rua dos Condes, construído em 1738. O novo recinto de espectáculos ficava situado, no século XVIII, nos limites da cidade, em terrenos pertencentes ao palácio da Anunciada, dos condes da Ericeira (daí derivando o nome «Condes›», no espaço onde anteriormente existira um picadeiro. Foi o primeiro, naquela localização, de uma longa série de edifícios dedicados a funções teatrais, que mantiveram sempre o nome embora fossem evoluções ou mesmo edifícios diferentes: o segundo Teatro da Rua dos Condes (1888), o Cinema Condes (1915) e o novo Cinema Condes (1952).
Em boa parte do século XVIII e até à abertura do Teatro de S. Carlos (em 1793), o Condes foi o mais importante espaço de ópera italiana em Lisboa, passando depois a Teatro Nacional de declamação até à inauguração do Teatro Nacional de D. Maria II (em 1846). Terminou a sua existência em 1882, depois de nas suas décadas finais ter sido utilizado como teatro popular. 
 (CARNEIRO, Luís Soares, Theatre Spaces for Music in 18th-Century Europe, pt. I, 2020)

Rua dos Condes |1949|
primitivo Cinema Condes (1915); Avenida da Liberdade; Ateneu Comercial de Lisboa.
O prédio na esquina oposta ao cinema data de 1912 pelo risco do arq. Francisco Vilaça e substitui este outro.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente


Friday, 26 September 2025

Lojas de Antanho — alfaiatarias das Ruas de São Nicolau, dos Sapateiros e dos Correeiros

Foi a Travessa de São Nicolau, atribuída pelo decreto pombalino de 5 de Novembro de 1760 que fixou denominações às ruas da Baixa lisboeta. A denominação deriva da proximidade à antiga igreja de S. Nicolau que foi reedificada pela primeira vez em 1280 e após o Terramoto, quase foi construída toda de novo, com obras que decorreram de 1780 a 1850.

Ruas de São Nicolau e dos Sapateiros |c. 1910|
Alfaiataria Royal House: "Alfaiataria Especial de Fatos para Homem Suprema Elegância"
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente

Para a Rua dos Sapateiros define o diploma o seguinte: «Nesta Rua he a que medeia entre a Rua Augusta, e a Rua Aurea. Em hum lado della se devem arruar os sapateiros, porque só costumaõ arrar-se os que servem a Plebe; e o outro lado se deixar livre para os Misteres do Povo assima referidos».

Ruas de São Nicolau e dos Correeiros |c. 1910|
Alfaiataria Ingleza
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL
 

Rua dos Correeiros (vulgo Travessa da Palha), que foi destinada aos ofícios de Seleiros — recorda-nos Norberto de Araújo nas Peregrinações — ainda hoje [em 1939] subsistentes —, e que se chamou também da Correaria Nova, e Nova dos Correeiros, deve a designação oral, sobrevivente, à vizinhança com o Largo e Praça da Palha.

Sunday, 21 September 2025

Largo Silva e Albuquerque que foi Rua dos Canos

Não tem o bairro da Mouraria — de tão ressonante nome — o fundo sólido lisboeta do de Alfama. Não é, porém, menos característico, embora o seu pitoresco se concentre apenas em três ou quatro artérias buliçosas. Começou a povoar-se logo depois da tomada de Lisboa em 1147, quando D. Afonso Henriques para aqui atirou os mouros «forros», que ocuparam as encostas das Olarias e dos Lagares, as abas do Castelo, pelo lado N., descendo até ao vale, que é a Praça do Martim Moniz de hoje.
 
Ora, aproximando-nos do cabo da jornada, entremos no Largo Silva e Albuquerque [hoje Praça do Martim Moniz] Ponde avulta a face poente do casarão Alegrete — condenado à demolição, e muito bem. Ali, na parte que abre para a Rua da Palma — recorda o ilustre Norberto de Araújo — existiu até há dois anos [c. 1936] uma estreita serventia rasgada pela demolição já iniciada neste sítio, em obediência ao plano urbanista municipal.

Largo Silva e Albuquerque que foi Rua dos Canos |c. 1900|
Aguadeiro junto ao Palácio do Marquês de Alegrete.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O sítio é feio, desagradável, sem pitoresco, ainda que com signıficação bairrista, nos seus cafés de tipo antigo, botequins e tavernas de peixe frito, durante o século passado de fama equívoca.
O dístico foi substituído, em 1885, por este actual de Silva e Albuquerque, em memória de José Maria da Silva e Albuquerque, operário muito culto, um apóstolo da instrução primária gratuita, falecido em 1879.

 

Largo Silva e Albuquerque que foi Rua dos Canos |1938-10-12|
Palácio do Marquês de Alegrete, portal sul-poente.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

O Palácio dos Marqueses de Alegrete foi construído pelos condes de Vilar-Maior, no século XVII, sobre um lanço da muralha (da cerca de D. Fernando) e sobre a porta da Mouraria. Depois, elevado o conde de Vilar-Maior ao título de Marquez de Alegrete, se ficou chamando á porta da Mouraria — Arco do Marquez de Alegrete, nome que ainda conserva, e dando-se também o de «Rua do Arco do Marquez de Alegrete, à que d'esta porta vae ao Largo do Poço do Borratem».
(in Portugal antigo e moderno, 1873)

Largo Silva e Albuquerque com a Rua da Palma em fundo |1946|
Palácio do Marquês de Alegrete (demolições)
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol XV, pp. 221, 1936.
ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. III, pp. 78-79, 1938.

Friday, 19 September 2025

Avenida da Liberdade: posto avisador de incêndios

A acção do B.S.B. dependia em grande parte da actuação rápida no inicio dos fogos; para isso mantinha, em 1940, um serviço de comunicações próprio, constituído por 153 avisadores de incêndio na via pública, e 200 telefones em edifícios do Estado e do Município (139), casas de espectáculos (44) armazéns è estabelecimentos (17). [RML: 1940]

Avenida da Liberdade: posto avisador de incêndios |1927-11-13|
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 14 September 2025

Calçada e Ascensor do Lavra

O segundo ascensor montado no nosso país é o da Calçada do Lavra, em Lisboa. Fez-se nele a primeira experiência no dia 7 de Abril de 1884 — experiência que mereceu do jornal o Economista a descrição que se segue (manteve-se a grafia da época):

Esta noite, pelas 7 e meia horas, realisou-se a primeira experiencia das ascenções pela calçada do Lavra. Com a chegada dos srs. Antonio dos Santos Beirão e Antonio Ignacio da Fonseca, directores, Raul Mesnier, engenheiro, e varios convidados entre damas e cavalheiros que logo entraram na carruagem que estacionava no fundo da calçada do Lavra; Illuminou-se logo a rampa em toda a sua extensão, por meio de archotes, e as carruagens ascendente e descendente, partiram ao som das palmas e dos hourrahs, de centenas de curiosos que estacionavam no largo da Annunciada.
A subida effectuou-se não só sem o menor incidente, mas até com um belo resultado, realmente inesperado pelo proprio engenheiro, como este mesmo nos disse depois. Com effeito, nem o material fixo, como rails, roldanaş, etc., nem o circulante, estão sufficientemente poidos para que os attrictos estejam reduzidos ao minimum.
O que é realmente phantastico é o cruzamento das duas carruagens caminhando na rampa, em sentido opposto, com rapidez verdadeiramente vertiginosa. É claro que este cruzamento se faz sempre sem o menor perigo para os passageiros, por quanto as vidraças são todas gradeadas de largas redes de arame que não permittem que, por descuido alguem se lembre de deitar a cabeça ou um braço por ellas; e portanto apezar da pequena distancia em que se cruzam as carruagens, não ha o menor receio de desgraça pessoal.
Fizeram-se quatro ascensões todas com o melhor resultado, e as carruagens chegavam sempre ao fundo da rampa saudadas por bravos enthusiasticos da multidão agglomerada no largo.
Estas ascenções fizeram-se todas com grande regularidade, havendo apenas a notar a grande demora que ha entre a chegada e a partida. É tal demora proveniente, como hontem dissemos, da insufficiencia da canalisação da agua que não permitte que o deposito que existe em cada uma das carruagens e que leva 3:500 litros, se encha com a rapidez desejada.

Calçada e Ascensor do Lavra |1943-09-03|
Obras de renovação dos elevadores do Lavra.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Grandes louvores cabem por esta occasião á gerencia da companhia das aguas que, animada da melhor vontade, não só reduzida 30 réis por metro cubico a agua destinada ao serviço da empreza, (o que afinal de contas é ainda caro) mas prometteu mudar a canalisação com a maior rapidez, devendo esta noite mesmo, começar essa obra.
Ouvimos varias pessoas manifestarem alguns receios de andar no ascensor, attendendo á possibilidade de qualquer incidente, da ruptura do calabre, por exemplo. Não deve, porém, haver o menor receio, porque esse caso está previsto. O gancho de ferro que entra na calha e prende o calabre [cabo] está ligado por uma forte molla a uma grande alavanca, na extremidade da qual existe um contra-peso de 80 kilogrammas.
Se por qualquer eventualidade se quebrasse o calabre, soltava se a molla, cahia o contra-peso, e o freio automatico, constituido por fortissimas braçadeiras de aço, apertava o eixo das rodas que parariam instantaneamente. Para evitar o glissement, existe sob as rodas que são denteadas uma cremalheira que acompanha os carris e que impossibilita o menor movimento logo que o freio automatico aperte o eixo.
Por esta singela descripção pódem os nossos leitores imaginar quão bem disposto se acha todo o machinismo para evitar os menores incidentes, e que os ascensores teem entre nós um largo futuro pela grande facilidade que ha de, por meio d'elles e por modico preço, vencer o accidentado terreno da nossa capital. [Leal: 1882]

Calçada e Ascensor do Lavra |c. 1940|
Largo da Anunciada com a Rua das Portas de Santo Antão; Palacete Alfredo de Andrade
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Friday, 12 September 2025

Rua Tomás Ribeiro esquina com a Rua Filipe Folque

Tomemos pela Rua Tomaz Ribeiro (antiga do Sacramento), e que, como a das Picôas, foi anterior à urbanização do fim do século. Ainda, à esquerda, se lhe notam nalgumas pitorescas casas reminiscências do tempo velho.» [Araújo: XIV, 1939]

Por edital da C.M.L. de 1907, a antiga Rua do Sacramento, que era a continuação da Estr. da Cruz do Tabuado, indo da Rua Gomes Freire, que começava na esquina da Largo do Chafariz de Andaluz e findava no Largo de São Sebastião da Pedreira, passou a denominar-se Rua Tomás Ribeiro.
Filipe de Sousa Folque (1800-1874) foi um aristocrata, político, militar e matemático português. Topónimo atribuído em 1902.

Rua Tomás Ribeiro esquina com a Rua Filipe Folque |1961|
Na direcção de S. Sebastião da Pedreira
Augusto de Jesus 
Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 7 September 2025

Edifício da Ford Lusitana

A sede da “Ford Lusitana, SARL”, fundada em 11 de Janeiro de 1932, situava-se na Rua Castilho em Lisboa, e foi projectada pelo arquitecto Porfírio Pardal Monteiro em 1930. Foi demolido em 1974.

O edifício-sede da Ford Lusitana, situava-se no gaveto da Rua Castilho com a Rua Marquês de Subserra, no quarteirão seguinte aquele onde mais tarde o autor viria a projectar o Hotel Ritz.
Para além de escritórios, oficinas e venda de peças o edifício que se destinava a «expor e vender Automóveis, camiões e tractores, também exibia e vendia aviões».
O edifício adopta uma arquitectura de grande horizontalidade ao longo das duas ruas, sendo essa característica acentuada no 1º andar coberto por um terraço.

Edifício da Ford Lusitana, filial da Ford Motor Company U.S.A. |1937|
Rua Castilho, 149 com a Rua Marquês de Subserra, 2
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

No gaveto, fazendo charneira entre os volumes ao longo das ruas surge um grande corpo cilíndrico de vidro, luminoso onde a marca se destaca dia e noite [vd. última imagem].Este volume redondo, para além de uma forte componente publicitária que, com êxito imprimiu ao edifício, marca a entrada principal para clientes no edifício. Na altura da sua construção o edifício tinha grande exposição, sendo visível desde a Praça Marquês de Pombal, dominando o lago então existente no atualmente denominado Parque Eduardo VII.

Edifício da Ford Lusitana |c. 1940|
O Parque Eduardo VII foi ajardinado em 1929; a esq., sobe a Rua Joaquim António de Aguiar.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente
Vista aérea sobre o Parque Eduardo VII |c. 1950|
Ao centro observa-se o edifício-sede da Ford Lusitana e, à esq. deste, os terrenos do futuro Hotel Ritz (1959). Atrás nota-se o Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho.
Mário de Oliveira, in Lisboa de Antigamente

Concebido para ter grande presença na noite de Lisboa, apresentava rasgados vãos ao nível do R/C onde os modelos da marca se podiam facilmente observar por quem passava nas zonas circundantes.
Neste projecto o arquitecto escolhe as peças e desenha mesmo algum mobiliário, o que permite a concepção da obra como um todo.
(PACHECO, Ana Assis - Ob. cit., 1998)

Edifício da Ford Lusitana |c. 1940|
Gaveto da Rua Castilho, 149 com a Rua Marquês de Subserra, 2
Fachada com corpo cilíndrico de vidro, luminoso onde a marca se destaca dia e noite-
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957) foi um dos mais importantes arquitectos da primeira metade do Século XX em Portugal e principal responsável pela viragem modernista da arquitectura portuguesa. O legado do arquitecto Porfírio Pardal Monteiro conta com obras como as Gares Marítimas de Alcântara (1943) e da Rocha do Conde de Óbidos (1948), a Igreja de Nossa Senhora de Fátima (Prémio Valmor 1938), o edifício do Diário de Notícias (anos 1930, premiado em 1940), entre muitas outras.

Friday, 5 September 2025

Cruzamento da Rua Áurea com a Rua da Santa Justa: a «calçadinha do tijolo»

A Senhora D. Alzira, uma querida e muito simpática idosa com os seus oitenta e oito anos, portuense de gema, criada no seio dos mais simples e desfavorecidos habitantes da Invicta, acompanhada pelo marido, o Senhor Alfredo, uns anos mais jovem, davam início a mais uma madrugada na venda de jornais, junto à montra da ourivesaria Torres [antiga Casa de chapéus e modas Jsyme Pinto, vd. 2ª imagem], no cruzamento da Rua de Santa Justa com a Rua Áurea, precisamente no local de acesso ao Elevador de Santa Justa.
(Alexandre Nunes, Antologia do presente, passado e futuro, 2015)

Cruzamento da Rua Áurea (vulgo do Ouro) com a Rua da Santa Justa |1922-08-18|
O Marco Postal que se observa na imagem — um dos primeiros a ser colocado
nas ruas da capital — é um modelo de 1895. 

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Este trecho entre as duas artérias era chamado, por volta de mil oitocentos e troca o passo, de «calçadinha do tijolo», devido ao pavimento ser de tijolo. No início da década de 1920, podia ver-se, a nordeste, a Tabacaria Mendes & Rodrigues (à esq. na 1º imagem e actualmente Perfumaria Vogue) e, a sudeste, a Relojoaria Batalha [v. aqui], que ainda actua no mesmo ramo, agora com o nome Relojoaria Suíça — qualquer delas já encerradas. [Dias: 1998]

Cruzamento da Rua Áurea (vulgo do Ouro) com a Rua da Santa Justa |1922-08-20|
Tijolo (calçadinha do) denominação dada pelo vulgo á parte que vae da antiga rua nova do Carmo até á rua Aurea, na então travessa de Santa Justa. [Velloso, 1869]
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

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