Deixemos à direita a Rua do Século, antiga e ressonante Rua Formosa — diz Norberto de Araújo — à qual voltaremos no cabo deste capitulo de jornada, e paremos um minuto só na esquina da Travessa de André Valente
Foi este André Valente, que o dístico em azulejo policromo da travessa, no vértice do seu cotovelo, dá como jurisconsulto do século XVI, um doutor em leis formado em Coimbra, vereador da Cámara de Lisboa, e Desembargador da Casa da Suplicaçâo, e, além do mais, muito rico, que viveu na metade de quinhentos e deixou o mundo por volta de 1627.
Este grande prédio, que em 1936 recebeu bemfeitorias interiores e exteriores, foi seu palácio e dêle deriva o nome da Travessa. [...]
No recanto que faz a travessa [ao fundo na 1.ª foto] , há um pátio alindado à maneira joanina, com um prédio da mesma reconstrução, e que é desde 1923 propriedade do Dr. José da Arruela (marido da Sr* D. Ana Arnoso), por compra aos Condes da Figueira, o que nos leva a crer que nem toda a Casa deste sítio de D. Maria José de Melo se desmembrou da Casa Figueira. (Ainda hoje lhe chamam o «Pátio Figueira»).
Travessa de André Valente [c. 1940] Perspectiva tomada da Rua de O Século Casa onde morreu o poeta Bocage e, ao fundo, o «Pátio Figueira» Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Repara nesta portazinha [canto inferior direito], ainda de feitio primitivo sob a traça do século passado, do prédio n.° 25: foi nele que morreu o poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage, em 1805, facto que a lápide sobre a verga da porta comemora.
Quantas vezes a figura esguia e volteira de Manuel Maria por aqui teria passado? E quantas agruras, nos últimos anos da sua vida, ali consumiu o poeta, pobre, desiludido, estafado de amores, sem paz, naquele primeiro andar onde agora espreita o vulto de uma «vizinha»l
Pois morreu aqui; foi sepultado num cemitério pequenino, cujo sítio havemos de ver na «Peregrinação seguinte, ali na esquina da Rua dos Caetanos e Travessa das Mercês.
Travessa de André Valente, 25 [1905] Descerramento da lápide comemorativa (à esq.) do falecimento do poeta Bocage Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. V, pp. 29-31, 1938.
Preciosas fotos e informações!
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