Sunday 3 November 2019

Igreja de São Luiz, dos Franceses

Neste pedacinho [da Rua das Portas de Santo Antão] até à Anunciada do Convento das dominicanas, erigido sobre a casa dos agostinhos de Santo Antão de 1400 — e eis a razão do nome da rua — chegaram a contar-se sete palácios, desde o dos Condes de Almada, a par de S. Domingos, até ao dos Condes da Ericeira, passando pelo primeiro dos Castelo Melhor, pelo dos Pais do Amaral Barberini, pelos do Conde de Povolide e dos Morgados de Oliveira. Igrejas, só uma, a de S. Luiz, dos franceses, que recua a 1552, e ali está ela ainda, com as suas flores de lis e as armas dos Bourbons sobre o pórtico.


Eis-nos defronte da pequena Igreja de S. Luiz, dos franceses — diz Norberto de Araújo — , erecta extramuros, e que teve contíguo um Hospital, de certo modo no século passado [XIX] substituído pelo «Asyle de Saint-Louis» — Hospital de S. Luiz — na Rua Luz Soriano.

Rua das Portas de Santo Antão |1909|
Igreja de São Luiz, dos Franceses; Palácio Alverca (Casa do Alentejo)
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

É simples a fachada, na qual apenas o pórtico, com as armas dos Bourbons e o escudo da flor de lis, tem algum interesse arquitectónico.
Na sobreporta ali vês a legenda latina, que afirma, na tradução, que «a S. Luiz foi dedicado este templo pelos franceses habitantes nesta real cidade, no ano do Senhor de 1552. Conclui-se e acrescentou-se em 1622».
Parece, porém, que a inscrição não é de todo exacta ou suficientemente explicita. Eu julgo — talvez — mais acertada a versão de que a Confraria é que foi criada em 1552, instalada na Ermida de N. Senhora da Oliveira a S. Julião, onde estaria ainda em 1558, começando em 1563 a construir-se o templo neste lugar, concluído em 1572, na sua primeira fase. A reconstrução ampliada é que será de 1622.
Depois do Terramoto voltou esta Igreja a receber benefícios (1766), aliás repetidos sumariamente no século passado.

Igreja de São Luís dos Franceses |c. 1914|
Perspectiva tomada da Travessa  de Santo Antão
Beco de São Luís da Pena, 34-34A; Rua das Portas de Santo Antão
Por cima da inscrição da fachada atrás transcrita vêem-se as armas dos Bourbons;
o escudo da flor de liz, tendo por suporte dois anjos. O escudo é circundado por
dois colares dax ordens francesas, sendo o inferior o da ordem do Espírito Santo.
[Castilho: 1935]
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente

Interiormente a Igreja de S. Luiz, muito ao tipo francês, pouco oferece de notável; não posso dela dar uma resumida descrição que seja — como o tenho feito de uma centena de igrejas e ermidas de Lisboa — porque, nos meus passos de ensaio, não me foi consentido tomar notas e colher informações directas, o que registo sem acrimónia embora com estranheza.
Posso dizer que o altar-mór e as capelas colaterais no corpo da igreja foram construídos em Genebra, por um artista italiano; são em mármore de Carrara [Pasquale Bocciardo (1705-1791)].
E pois que interessa à iconografia de Lisboa anotemos êste grande quadro, à esquerda da parede no corpo da Igreja. É uma «Vista de Lisboa», da primeira metade de seiscentos, muito deteriorada.
O terreno da cortina defronte de S. Luiz, sobre a Rua, pertence à Igreja; os seus três estabelecimentos são deste século.

Igreja de São Luís dos Franceses |c. 1914|
Perspectiva tomada da Rua do Jardim do Regedor
Beco de São Luís da Pena, 34-34A; Rua das Portas de Santo Antão
Tinha esta igreja uma cruz no adro; em Junho de 1887 oficiou a Câmara Municipal ao capelão
para ser removida a dita cruz. [Castilho: 1935]
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente
 
N.B. No século XIX o imóvel passa para a posse do Estado Francês e em 1882 é instalado o órgão realizado em Paris por Aristide Cavaillé-Coll. No andar superior, em três salas, funcionava o hospital de São Luís, da Confraria do Bem-aventurado São Luís, que socorria todos os franceses pobres e necessitados de auxílio médico.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, p. 207.
ibid, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 102-103, 1939.
SANTANA, Francisco e SUCENA, Eduardo. Dicionário da História de Lisboa, pp. 808-810, 1994.

1 comment:

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