Enfim: chegámos devagarinho aos Lóios — diz-nos Norberto de Araújo. Este Largo, que não passa, afinal, de uma ‘rua larga", é hoje mais ordenado e desafogado do que o era em 1755. Nesta época já existia defronte do Convento um pequeno largo que datava de 1677, ano em que fora regulado pela Câmara a pedido dos frades. O famoso Convento de Santo Elói, com a sua Igreja, assentou aqui onde hoje se ergue o Quartel, de guarnições altas de ameias decorativas.
O Convento foi um dos de mais história nos fastos religiosos e realengos de Lisboa, foi fundado por D. Domingos Jardo, décimo Bispo de Lisboa, em 1286, converteu-se, mais tarde (1442), em Casa Secular dos Cónegos de S. João Evangelista, S. Clemente e Santo Elói, vindos de S. Salvador de Vilar de Frades, os famosos frades Lóios que deram, afinal, o nome ao sítio, com as suas capas de azul-arroxeado soltas ao vento das ruas de quinhentos, ou enfileirados nas procissões esplendorosas da Lisboa piedosa.
Panorâmica de Lisboa destacando-se a Basílica Patriarcal e o Convento de Santo Elói (ou dos Lóios) «ostentando duas torres que se viam de quási toda a cidade» [ant. 1755] Gravura, in Lisboa de Antigamente |
A igreja era riquíssima; ostentava duas torres que se viam de quási toda a cidade [vd. gravura]; o Terramoto deitou tudo abaixo, destroçou, incendiou, quási pulverizou. Tratou de reedificar-se a casa conventual, mas de tal modo lentamente que em 1834, quando foram extintas as Ordens, Santo Elói não estava concluído.Logo no ano seguinte instalou-se no edifício a 5ª Companhia de Infantaria da Guarda Municipal: onde havia celas passou a haver casernas, refeitório, e salas de oficiais, anexos foram instalados em divisões de acentuado traço de arquitectura conventual.As indispensáveis obras de adaptação do edifício a aquartelamento, e as ampliações e beneficiações levadas a efeito em cem anos — tiraram ao actual Quartel, também de uma 5ª Companhia, da Guarda Republicana, qualquer aspecto, interior ou exterior, que de longe ou de perto, recorde — Santo Elói.
Largo dos Lóios, visto do poente para nascente [1968] Convento de Santo Elói (ou dos Lóios); ao fundo, a Rua do Milagre de Santo António Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. II, pp. 64-65, 1938.
Foi nesse convento que a 13 de fevereiro de 1668 foi assinado o tratado de paz que pôs fim à guerra da Restauração e significou o reconhecimento definitivo por Espanha da independência de Portugal.
ReplyDeleteNo convento dos Lóios foi onde foram cristianizados os primeiros congoleses trazidos por Diogo Cão, em 1488. Foi o frade lóio Vicente dos Anjos quem foi encarregue de aprender a língua deles para os evangelizar, o que fez com sucesso. A ligação à evangelização do Congo por este convento persistiu por algumas décadas, depois, sendo ali que se formou o primeiro bispo do Congo, anos depois.
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