Na Rua Primeiro de Maio nos encontramos ainda, uns dez passos adiante do Convento das Flamengas. Exactamente neste prédio vulgar do fim do século passado [XIX] — recorda Norberto de Araújo — assentou o Palácio dos Marqueses de Abrantes (ao Calvário), no qual se integrava a Ermida ou Capela de S. Joaquim e Sant'Ana, fundada pela Marquesa de Fontes, D. Joana Lima de Lencastre, e da qual derivou o nome de S. Joaquim que esta artéria teve até pouco depois da proclamação da República. A desaparecida Ermida de S. Joaquim (que o Terramoto poupou, mas que a urbanização do sítio houve de sacrificar) serviu, depois do sismo de 1755 e até Junho do ano seguinte, de igreja patriarcal.
Ostentou boas pinturas sacras de Vieira Lusitano, cujo destino não sabemos qual tenha sido. Do lado sul, toda a área pertenceu, até aos meados do século passado, aos Condes da Ponte (Melo e Torres que entroncaram nos Saldanhas); este pedaço de Santo Amaro estaria compreendido nos bens do Morgadio Saldanha de que adiante te falarei.
Tudo desapareceu; dos Condes da Ponte resta hoje o nome na Travessa, contígua pelo poente, aos edifícios da Companhia dos Eléctricos, a qual absorveu, quando a Companhia Carris era ainda de viação animal, palácio, casas, pátio, terrenos do granjeio daquela ilustre família.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 42-43, 1939)
Rua Primeiro de Maio |1968| Onde se observa o edifício de três pisos, assentou o Palácio dos Marqueses de Abrantes; ao fundo nota-se o Convento das Flamengas. Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente |
Nota(s): Rocha Martins, levanta no seu livro Lisboa de Ontem e de Hoje uma tese que é também a de Luís de Oliveira Guimarães, em Lisboa e Eça de Queirós: a de que nas suas linhas gerais o Ramalhete tenha sido inspirado pelo palácio da família Sabugosa, na antiga Rua de São Joaquim, ao Calvário, perto de Santo Amaro, hoje Rua Primeiro de Maio.
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