Friday 10 March 2017

As Galerias Romanas da Rua da Prata

Em plena Baixa lisboeta há uma cidade invisível, quase secreta, mesmo por baixo dos nossos pés, que remonta à época romana e da qual pouca ou nenhuma noção temos. Esta Cidade dentro da cidade é um património arquitectónico que resistiu ao passar dos milénios, e por essa razão, é protegido.


Esta estrutura romana, descoberta no subsolo da Baixa de Lisboa, em 1771, na sequência do Terramoto de 1755 e posterior reconstrução da cidade, tem sido objecto, ao longo do tempo, de múltiplas interpretações quanto à sua função original. Actualmente, teses quase unânimes avançam a possibilidade destas galerias romanas terem sido um criptopórtico, solução arquitectónica que criava, em zona de declive e pouca estabilidade geológica, uma plataforma horizontal de suporte à construção de edifícios de grande dimensão, normalmente públicos, como é o caso do Fórum da cidade, que teria sido suportado por este criptopórtico.

Rua da Prata |c. 1910|
O quarteirão na Rua da Prata, entre as Ruas de S. Julião e da Conceição que fica acima das galerias romanas.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A descoberta de uma inscrição consecratória a Esculápio, Deus da Medicina, em nome de dois sacerdotes do culto imperial e no do Município de Olisipo, gravada numa das faces de um bloco paralelepipédico de calcário e datada do séc. I a.C., actualmente no Museu Nacional de Arqueologia, poderá ser uma confirmação do carácter público deste edifício. No início do séc. XX, estas galerias ficaram conhecidas como as Conservas de Água da Rua da Prata¿ por serem utilizadas pela população como cisterna.

Rua da Prata |1909|
Bomba a vapor dos Bombeiros Municipais esgotando a água das galerias romanas.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

As suas características construtivas, tipologia e materiais associados remetem-nos para uma construção datada entre o séc. I a.C. e o séc. I d.C., contemporânea de outros edifícios públicos da cidade romana de Olisipo. Abertas ao público com regularidade a partir da década de 80 do séc. XX, são visitáveis, hoje em dia, apenas uma vez por ano, devido à acumulação de água no interior das galerias. A bombagem dessa água com maior frequência, para além de constituir um processo moroso, poderia colocar em risco a conservação do edifício assente sobre esta estrutura romana, assim como a daqueles que lhes estão anexos. O acesso ao interior é feito através de um alçapão localizado na Rua da Conceição. Este monumento integra a classificação do Conjunto Baixa Pombalina (Imóvel de Interesse Público) e, mais recentemente, do Conjunto Lisboa Pombalina (Em Vias de Classificação para Monumento Nacional). [cm-lisboa.pt]

Rua da Prata |1909|
O fotógrafo Joshua Benoliel (autor das imagens acima) falando com o chefe dos bombeiros Carvalho, à volta das galerias romanas.
J. Canella, Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

4 comments:

  1. Obrigada pela excelente informação e imagens.
    Cumprimentos,
    Beatriz Soares

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  2. Adorei saber. Muito obrigado.

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  3. Muito obrigada por esta preciosidade!

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