Estamos diante de S. Cristóvão, no Largo pequeno que tem a Sul, defronte do templo as Escadinhas que levam à Rua da Madalena. Encosta-te à cortina: observa-me essas minúsculas casitas, do principio do século passado, acumuladas, em capricho de intersecção, graciosas na suas escadas exteriores, e melancólicas no seu ar de condenadas perante um urbanismo racional.
Não reparaste que apenas pelo enunciado — S. Cristóvão tem uma ressonância bairrista? Ora vejamos o templo, que do seu começo esteve isolado, e só mais tarde foi rodeado de casas e, por consequência, de betesgas, naquele amontoado indisciplinado que caracterizava os focos de população crescente nos séculos da primeira dinastia.
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Igreja de São Cristóvão, fachada principal [c. 1900] Largo de São Cristóvão Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente |
A igreja primitiva remonta talvez a finais do século XII, denominada
então Igreja de Santa Maria de Alcamim. Há notícia que durante o reinado
de D. Manuel I a igreja sofreu um incêndio que a deixou totalmente
destruída. Em 1610 é restaurada e em 1671-72 dá-se a conclusão das
obras. No século XVIII, resistiu globalmente ao Terramoto de 1755,
mantendo-se a fachada maneirista da igreja característica do século XVII.
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Igreja de São Cristóvão, fachada lateral [c. 1900] Calçada Marquês Tancos Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente |
O tecto da nave tem pintura ornamental exuberante, apresentando 15
quadrelas desenvolvendo-se em torno do painel central, composto por
figuração de anjos ao redor de uma custódia barroca. Possui 44 telas de
Bento Coelho da Silveira, de finais do século XVII. Sabe-se que «contam a
história de S. Cristóvão, falam de
S. Francisco, de Santo António, dos jesuítas S. Francisco Xavier e Santo
Inácio de Loyola, falam sobre o Céu», mas estão quase ilegíveis, aliás,
tudo está em risco devido à infiltração de água pelo telhado.
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Igreja de São Cristóvão, traseiras [c. 1900] Rua da Achada Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, p. 52, 1938.
cm-lisboa.pt.
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