"A praia de Pedrouços, como todas as da grande Bahia do Tejo, é lisa, plana, de areia fina. O mar é tranquillo, sereno como um lago, o melhor dos banhos, na maré enchente, para as creanças fraquinhas, para as mulheres débeis, fatigadas. (...) As praias do Tejo, de Pedrouços a Cascaes, são como as dos golphos da Itália (...), as mais propicias á constituição dos valetudinários e dos anemicos."
É no período de 1852-1885, que a sociedade alfacinha consagra de bom-tom os longos passeios à beira-mar, nomeadamente entre a burguesia ascendente já convertida ao Romantismo. E eis que surgem as primeiras praias alfacinhas, todas em Belém: O Bom Sucesso, a praia da Torre e a praia da aldeia de Pedrouços.
Praia de Pedrouços [1920] A sociedade alfacinha consagra de bom-tom os longos passeios à beira-mar. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
As crónicas da época falam de ilustres banhistas: Almeida Garrett que não dispensava a praia de Pedrouços — chegou a alugar a Casa do Arco da Torre no Verão de 1852 — , a Marquesa de Rio Maior que a ela faz referência nas suas memórias. Segundo Ramalho Ortigão, Pedrouços tinha então um bom hotel, «o Hotel Club, fresco, aceado, dirigido por uma senhora franceza e apresentando a boa apparencia interior, modesta e confortável da pension burgeoíse.»
Praia pequena, aburguesada, não tinha areia para tanta gente, nem «aposentos» para os mais exigentes. Diz Ramalho que «todos vivem em contacto intimo uns com os outros, mesmo ficando cada um em casa. Pela manhã, a gente abre a janella do seu quarto, deita a cabeça de fora e pôde fazer a barba no espelho do seu visinho do prédio fronteiro».
É pena que, de tantas senhoras que se banham em Pedrouços, no Dafundo, em Paço d'Arcos, em toda a orla do Tejo, tão
poucas nadem» — acrescenta Ramalho em forma de lamento — sugerindo que «n'estas aguas serenas seria da maior vantagem para as mulheres a natação. Este nobre exercício, executado de bruços,
obriga a uma forte contracção os músculos do dorso e do pescoço,
gymnastica extremamente benéfica para as pessoas que se fatigam
com o menor exercício, e ás quaes a natação desenvolve muito a
força da columna vertebral.
Seria um óptimo serviço á therapeutica o estabelecimento n'esta
praia de uma escola de natação para as senhoras.
Praia de Pedrouços [1921] (...) Meninas de bibes brancos, escrupulosamente nitidos, trazem os seus barcos. C. Garcês, in Lisboa de Antigamente |
Escreve o autor de As Praias de Portugal que «Nas praias da Allemanha é raríssima a mulher que não sabe
nadar. Outra diflerença: as portuguezas vão para a agua com demasiado fato; as allemãs chegam a ir vestidas unicamente com o
seu bracelete. Para que esta innocente liberdade paradisíaca, para
que esta simples toilette pre-historica se torne possível, ha na Allemanha algumas praias privativas das senhoras, onde o ingresso é
prohibido aos homens por meio de um dístico collocado a distancia
n'um poste de madeira. Áo que transgride a disposição do letreiro,
appiica-se uma multa de cerca de duas libras..... Meu Deus! é enorme.
Aconselho a escola de natação, mas não aconselho na toilette senão
modificações parciaes, porque, a nudez por um lado, as duas libras por outro, em Allemanha é a lei para todos, em Portugal
seria para cada um a ruína: tantas vezes a multa seria paga! ¹
Praia de Pedrouços [c. 1910] Alberto Malva, edições, postal, in Lisboa de Antigamente |
¹ ORTIGÃO, Ramalho, As praias de Portugal: guia do banhista e do viajante, pp. 41-43, 1876.
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