Wednesday, 6 July 2016

Beco do Mexia(s)

Que lhe havemos de fazer, se toda a Alfama é assim. Se a deitassem abaixo, até as picaretas haviam de chorar.

Gonçalo Mexia, que pela sua muita sabedoria foi chamado o mestra Gonçalo. Em memoria d'este sabio se deu o seu nome a uma rua de Lisboa, que ainda se chama Béco do Mexia. 1
A propósito date «estreitíssimo e sombrio» beco — do Mexias ou do Mexiaescreve Gomes de Brito no seu livro Ruas de Lisboa:« Não duvido que assim esteja nos dísticos, mas devem emendar-se, tirando-se-lhe o S final; Mexia é apelido de família antiga e desta forma se encontra no Itinerário lisbonense, de 1818: é o primeiro à esquerda na rua de S. Miguel de Alfama, vindo do nascente e termina no chafariz de Dentro

Beco do Mexia(s) [1940]
Antigo Beco dos Aguadeiros. Perspectiva tirada do Largo do Chafariz de Dentro
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Sobre o acima mencionado Gonçalo Mexia
e que terá estado  na origem deste topónimo — refere o olisipógrafo Júlio de Castilho que foi  «Físico do séc. XVI», e «cirurgião-mor do reino em tempos de D. Manuel e D. João III. Viveu na rua de Lisboa abaixo do mosteiro do Carmo, e que dele se chamou Rua de Mestre Gonçalo. É a actual Calcada do Carmo.» 2
 
Beco do Mexia(s) [c. 1900]
Antigo Beco dos Aguadeiros. Perspectiva tirada do Largo do Chafariz de Dentro
José Artur Bárcia in Lisboa de Antigamente

Por seu lado, Norberto Araújo, que de igual modo o denomina de Beco do Mexia, caracteriza da seguinte forma esta serventia do Bairro de Alfama, o mais antigo e um dos mais típicos bairros da cidade de Lisboa: «Aí tens o enfiamento do estreitíssimo e sombrio Beco do Mexia; nele merece a pena reparares nessa Casa, n.° 2-2-A [à dir.], uma das que dão fundo ao velho Chafariz dos Cavalos [de Dentro], e que vale uma página de poema de humildade no seu ângulo, tão diferente de todos os outros (nenhuma casa de Alfama é igual a outra: parece um museu desordenado e caprichoso). 
Esta casa, também de ressalto, tem entrada por uma escadinha, n.° 21 do Beco, com sua cortina, um bom portal de pedra, um ar resignado no dia da amanhã.  
Que lhe havemos de fazer, se toda a Alfama é assim .Se a deitassem abaixo, até as picaretas haviam de chorar.» [3]
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[1 PINHO LEAL, Augusto Soares de Azevedo Barbosa de, Portugal antigo e moderno; diccionario ... de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande numero de aldeias, vol. II, p. 73, 1874.
2 CASTILHO, Júlio de, Lisboa Antiga, vol. IV, p. 247.
3 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol.X, 1939.

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