Monday, 25 December 2017

O Natal dos Sonhos Impossíveis

Pese embora o facto de a imagens que ora publicamos ter mais de um século, continua, infelizmente, demasiado actual, pois ainda existem muitas crianças por este país fora — demasiadas, diria — que continuam a não ter direito a um Natal digno desse nome, muito menos a brinquedos. Estas condições de vida deveriam preocupar e envergonhar a todos e, por maioria de razão, os nossos lídimos representantes com assento na Casa da Democracia. Mas qual Democracia? Que Democracia é esta em que uns lutam pela mera sobrevivência, enquanto outros há que vivem como nababos. Pela calada do Natal, os deputados eleitos pelo povo, reúnem-se em conluio, como vulgares criminosos,  e legislam em benefício próprio, isentando os seus partidos — todos, da esquerda a direita! — do pagamento de  milhões em impostos. 
Como alguém disse em tempos  (e não, não foi o Eça)  «políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo mesmo motivo». Quem o disse estava coberto de  razão, pois estes políticos, os nossos, vão ter um Natal à grande.
Feliz Natal a todos os nossos leitores.

                                                      [...]
À hora do meio dia,
Por uma rua se via,
Caminhando,
Ao bom sol (tão bom calor!)
Uma pobre mãe, levando
Pela mão
O filho que, pelo amor,
Levava em seu coração.

Sempre o menino parava,
Se avistava
Algum alegre brinquedo,
Coisa que ali não faltava:
Ficava-se mudo e quêdo
Com longos olhos olhando,
Cobiçando...

— Compre-me um brinquedo, mãe!

Algures numa rua de Lisboa [Dez. de 1912]
 O Natal dos Sonhos Impossíveis.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

— «Ó' meu Deus! hoje tambem, 
E sempre! Que scisma a tua! 
Se nunca passas na rua 
Que não queiras 
Comprar as lojas inteiras! 
É vergonha. . . E então, agora 
Que teu Pae, lá na officina, 
Sem descançar uma hora, 
Se rala, mata e amofina 
Para nos dar de comer. . . 
Faça favor de dizer: 
Acha bonito gastar 
Em coisas para brincar 
O dinheiro que o Pae tem 
De ganhar com seu suor?!» —

Scisma o pequeno. Porém, 
Com certa malicia á flor 
Da sua vozinha: 

                              — «Mãe! 
Mas tudo se arranja bem . . . 
 Amanha é dia santo, 
Fecha a fabrica: 
Por tanto, O Pae não trabalha: E então 
Não é vergonha comprar!» — 

— «Amanhã, meu filho, estão 
Todas as lojas fechadas!» —
Torna de novo a calar: 
Quantas tristezas caladas 
Fallavam no seu olhar! 

De repente, 
Como quem mais não consente 
Soffrer em silencio um mal, 
Castigo que não mer'ceu: 

— «Parece, Mãe, que afinal,
Se o Menino-Deus nasceu,
Não nasceu p'ra toda a gente.

Logo a mãe, tomando-o ao collo,
Beijando-o na bocca, diz:

— «Para todos, filho, sim!
 Pois se por ti me consolo
De tanta dor; se feliz
E alegre tu me fizeste:
Meu Amor! bem vês assim
Que, — quando tu me nasceste, .
Nasceu Jesus para mim. . .»
(António Corrêa d’Oliveira, Parábolas, 1905)

 

Algures numa rua de Lisboa (Café Suisso?) [Dez. de 1912]
 O Natal dos Sonhos Impossíveis. 
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

8 comments:

  1. Quando os partidos se transformam no primeiro problema da democracia, algo vai muito mal.

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  2. Alguém falou em democracia? Ciganagem do pior...

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  3. Vou transformar a minha empresa unipessoal em Partido Politico. Aliás, cada um de nós formaria um partido e deixávamos de pagar impostos.

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  4. São estes os "pulhícos" que temos e que vão desgraçando este pobre país. Lindíssimo poema.

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  5. Excelente post. A partir de agora reclamo o direito a constituir-me como partido político.

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  6. Para este reles políticos foi um ano "saboroso", como referiu o porco preto

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  7. É um fartar vilanagem.

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