Pese embora o facto de a imagens que ora publicamos ter mais de um século, continua, infelizmente, demasiado actual, pois ainda existem muitas crianças por este país fora — demasiadas, diria — que continuam a não ter direito a um Natal digno desse nome, muito menos a brinquedos. Estas condições de vida deveriam preocupar e envergonhar a todos e, por maioria de razão, os nossos lídimos representantes com assento na Casa da Democracia. Mas qual Democracia? Que Democracia é esta em que uns lutam pela mera sobrevivência, enquanto outros há que vivem como nababos. Pela calada do Natal, os deputados eleitos pelo povo, reúnem-se em conluio, como vulgares criminosos, e legislam em benefício próprio, isentando os seus partidos — todos, da esquerda a direita! — do pagamento de milhões em impostos.
Como alguém disse em tempos (e não, não foi o Eça) «políticos e fraldas devem ser trocados de tempos em tempos, pelo mesmo motivo». Quem o disse estava coberto de razão, pois estes políticos, os nossos, vão ter um Natal à grande.
Feliz Natal a todos os nossos leitores.[...]
À hora do meio dia,
Por uma rua se via,
Caminhando,
Ao bom sol (tão bom calor!)
Uma pobre mãe, levando
Pela mão
O filho que, pelo amor,
Levava em seu coração.
Sempre o menino parava,
Se avistava
Algum alegre brinquedo,
Coisa que ali não faltava:
Ficava-se mudo e quêdo
Com longos olhos olhando,
Cobiçando...
— Compre-me um brinquedo, mãe!
Algures numa rua de Lisboa [Dez. de 1912] O Natal dos Sonhos Impossíveis. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
— «Ó' meu Deus! hoje tambem,
E sempre! Que scisma a tua!
Se nunca passas na rua
Que não queiras
Comprar as lojas inteiras!
É vergonha. . . E então, agora
Que teu Pae, lá na officina,
Sem descançar uma hora,
Se rala, mata e amofina
Para nos dar de comer. . .
Faça favor de dizer:
Acha bonito gastar
Em coisas para brincar
O dinheiro que o Pae tem
De ganhar com seu suor?!» —
Scisma o pequeno. Porém,
Com certa malicia á flor
Da sua vozinha:
— «Mãe!
Mas tudo se arranja bem . . .
Amanha é dia santo,
Fecha a fabrica:
Por tanto, O Pae não trabalha: E então
Não é vergonha comprar!» —
— «Amanhã, meu filho, estão
Todas as lojas fechadas!» —Torna de novo a calar:
Quantas tristezas caladas
Fallavam no seu olhar!
De repente,
Como quem mais não consente
Soffrer em silencio um mal,
Castigo que não mer'ceu:
— «Parece, Mãe, que afinal,
Se o Menino-Deus nasceu,
Não nasceu p'ra toda a gente.
Logo a mãe, tomando-o ao collo,
Beijando-o na bocca, diz:
— «Para todos, filho, sim!
Pois se por ti me consolo
De tanta dor; se feliz
E alegre tu me fizeste:
Meu Amor! bem vês assim
Que, — quando tu me nasceste, .
Nasceu Jesus para mim. . .»
(António Corrêa d’Oliveira, Parábolas, 1905)
Algures numa rua de Lisboa (Café Suisso?) [Dez. de 1912] O Natal dos Sonhos Impossíveis. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Quando os partidos se transformam no primeiro problema da democracia, algo vai muito mal.
ReplyDeleteAlguém falou em democracia? Ciganagem do pior...
ReplyDeleteAlcatrão e Penas.
ReplyDeleteVou transformar a minha empresa unipessoal em Partido Politico. Aliás, cada um de nós formaria um partido e deixávamos de pagar impostos.
ReplyDeleteSão estes os "pulhícos" que temos e que vão desgraçando este pobre país. Lindíssimo poema.
ReplyDeleteExcelente post. A partir de agora reclamo o direito a constituir-me como partido político.
ReplyDeletePara este reles políticos foi um ano "saboroso", como referiu o porco preto
ReplyDeleteÉ um fartar vilanagem.
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