Sunday, 15 June 2025

Santo Estêvão: da Calçadinha e das Escadinhas até ao Largo

Nas suas Peregrinações em Lisboa, Norberto de Araújo — a quem vamos sempre seguindo — depois de historiar modificações anteriores, diz: «Em 1833 Alfama formava um dos quatro distritos de Lisboa — veja-se a sua largueza por extensão convencional! — com 12 freguesias, afinal todas as paroquiais em redor do Bairro alfamista puro, incluindo o Castelo, mas ficando São João da Praça integrada no distrito do Rossio. Em 1852 ainda Alfama era um dos quatro distritos da cidade, já com São João da Praça em sua área natural, mas arrebanhando os Anjos e o Socorro! 
Em 1867 desapareceram todos os bairros de distinção nominal, e só então a palavra Alfama sucumbiu, oficialmente».

Tuas vielas velhinhas
Tuas ruas tão estreitinhas
São glórias, têm fado
Tu és a Lisboa antiga
Onde há sempre uma cantiga
P’ra recordar o passado

(do fado Alfama Velhinha de Armando Santos)

Estevão (calçadinha de Santo) segunda á esquerda na rua dos Remedios, indo do largo do chafariz de Dentro e finda na rua da Regueira, freguezia de Santo Estevão 2 a 28 e 1 a 35. [Velloso: 1869]

Santo Estêvão: Calçadinha e Escadinhas |c. 1945|
Perspectiva tirada da Rua da Regueira.
Fernando Martinez Pozal,  in Lisboa de Antigamente

Descendo as Escadinhas de Santo Estêvão — recorda o ilustre Norberto de Araújo — encontramos o balneário municipal [vd. 3ª imagem], construído em 1936, e logo pequeno Largo que cai sobre a Rua da Regueira, diante do Beco do Espírito Santo, ficando-nos à esquerda a Rua dos Remédios.

Calçadinha de Santo Estêvão com a Rua da Regueira |1950|
Beco do Espírito Santo
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

enquadramento é gracioso, seja qual for o conceito que nós possamos ter de beleza nestes quadrinhos bairristas, onde — e é o caso neste sítio — o pitoresco, o religioso, o fidalgo com o solar dos Azevedos Coutinhos. se dão mãos, para que Alfama se represente nos três Estados. 
(ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 90-92, 1939)

N.B. O topónimo Santo Estêvão, na freguesia de Santo Estevão, advém da igreja do mesmo orago.

Calçadinha de Santo Estêvão |c. 1945|
À esq.no nº 19, nota-se o antigo balneário municipal.
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Estevão (escadinhas de Santo) terceira á esquerda na rua dos Remedios indo de largo do chafariz de Dentro e findam na calçadinha de Santo Estevão, freguezia de Santo Estevão 2 a 18 e 1 a 23.
Estevão (largo de Santo) faz frente á egreja de Santo Estevão, e é aonde vão terminar as escadinhas de Santo Estevão, beco do Chanceller, ruas do Vigraio e Cruz do Mau, freguezia de Santo Estevão 1 a 16.
[Velloso: 1869]

Escadinhas e Largo de Santo Estêvão |1944|
Igreja de Santo Estêvão (traseiras) e Arco do Chanceler junto ao Palácio Azevedo Coutinho.
J. C. Alvarez, in Lisboa de Antigamente

Friday, 13 June 2025

Rua Saraiva de Carvalho

No último quartel do século XIX, as Ruas de Santa Isabel e de S. Miguel da Boa Morte, no bairro de  Campo de Ourique, passaram a constituir um arruamento único com a denominação de Rua Saraiva de Carvalho, através da publicação do Edital de Municipal de 16/11/1885, em homenagem ao jurisconsulto Saraiva de Carvalho.

Antiga de «Santa lzabel»
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

N.B. Augusto Saraiva de Carvalho (1839-1882). Advogado. Parlamentar. Reformista. Ramalho Ortigão chama-lhe pimpolho ilustre e rebento florescente da janeirinha. Em 1864 é um dos fundadores, no Pátio do Salema, do Clube dos Lunáticos com José Elias Garcia e Latino Coelho.

Ministro da justiça do governo de Ávila, desde 29 de Outubro de 1870 a 30 de Janeiro de 1871. Sai então do governo, juntamente com Alves Martins, quando os deputados reformistas liderados por Latino Coelho, lançam um ataque ao governo. Com efeito, Saraiva de Carvalho levou ao rei, sem passar por Ávila, a nomeação do bispo do Algarve, D. Inácio do Nascimento Morais Cardoso, considerado liberal, capelão de D. Pedro V, em vez da do arcebispo de Goa, D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, apoiado por Ávila, acusado de congreganismo romano e ultramontanismo.
Ministro das obras públicas, comércio e indústria do governo de Braamcamp (de 1 de Junho de 1879 a 25 de Março de 1881). [Maltez]

Antiga de «Santa lzabel»
Direcção Praça São João Bosco (Cemitério dos Prazeres).
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 8 June 2025

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila

O topónimo Av. Duque de Ávila foi atribuído pela CML por edital de 20 de Novembro de 1902 à nova via pública que ligava a velhinha Estr. do Arco Cego (troço da actual R. de Dona Filipa de Vilhena (1922) à Rua Marquês de Sá da Bandeira.  Actualmente liga esta artéria à Rua Alves Redol.

A «Patisserie Versailles» ocupou a loja do edifício projectado em 1919 pelo arqº Manuel Norte Júnior que se destaca pela sua verticalidade. Com planta rectangular, rés-do- chão e 5 pisos e com telhado a 2 águas. Teve como construtor José Tomaz de Sousa.
Em 1922 Norte Jr. projectara o luxuoso salão de chá em estilo Luís XIV, chamado «Versailles» (e dito «pâtisserie»), que drenava todo o bom tom da Avenida da República e seus limites mais que a «Paulistana», aberta abaixo, em 30, com serviço de bar americano mais à moda, oferecido aos clientes em balcão de bancos altos. [França: 1992]

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila |post. 1961|
Gaveto com a Av. Duque de Ávila: nota-se o Colégio Académico, e o edifício projectado pelo arq.º Álvaro Machado, em 1904 onde está instalada a Patisserie Versailles
Gonçalves, F., in Lisboa de Antigamente

Fundada em 1922 por Salvador Antunes, um português com formação em pastelaria francesa e apaixonado pela Art Nouveau, a Patisserie Versailles, tem o nome do famoso palácio francês e o seu interior parece mesmo uma sala saída deste. [Santana: 1975]

Avenida da República com a Av. Duque de Ávila |1959|
Obras de mudança de carris. 
Benoliel, Judah, in Lisboa de Antigamente

Friday, 6 June 2025

Rio Tejo e Torre de Belém

Vapor «Mirandelle» da empresa H. Hersent, responsável pelas obras de construção do porto de Lisboa. Por esta altura, os navios de passageiros não acostavam aos cais e fundeavam ao largo onde desembarcavam e embarcavam os seus passageiros, empregando-se no transporte destes, embarcações fluviais como a que se vê na foto.
Por Carta de Lei de 16 de Julho de 1885 foi o Governo autorizado a adjudicar a construção das obras do porto de Lisboa, o projecto a executar era da autoria dos engenheiros portugueses João Matos e Adolfo Loureiro, tendo o rei D. Luís inaugurado, em 31 de Outubro de 1887, o início das primeiras obras entre a Torre de Belém e Santa Apolónia. Até 1907 a exploração do porto esteve confiada ao empreiteiro das obras H. Hersent.

Rio Tejo e Torre de Belém |1905|
Vapor «Mirandelle» da empresa H. Hersent.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 1 June 2025

Rua da Boavista

A origem do nome do sítio é projecção toponímica do Alto da Boa Vista, ou seja, ou Alto do Belver ou Belveder actual Alto de Santa Catarina. Não quero deixar de observar-te — recorda o ilustre Norberto de Araújo — que as edificações desta artéria da Boa Vista, do lado Sul, não levam cem anos (c. 1840). O edifício da Companhia do Gás sucedeu ao antigo Quartel da Brigada Real de Marinha. Foi aqui a primeira Fábrica do Gás, cujo privilégio concedido a Claudio Adriano da Costa e ao francês José Detry, datava de 3 de Maio de 1846

Rua da Boavista |ant. 1914|
O edifício do lado esq., até à esquina com o Boqueirão dos Ferreiros pertencia à «Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz»; em ampliando a foto observam-se, ao fundo, os sete arcos do do prédio nº 67 erguido pelo industrial Ferreira Pinto em meados do séc. XIX para «palacete de família, e constitui ainda a única nota decorativa urbana da Rua da Boa Vista.» [Araújo, 1939]
Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL

De facto, foi junto ao rio, meio de transporte privilegiado, que a «Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz» instalou, em 1846, a sua primeira fábrica de Gás; e, dois anos depois, em 1848, já Lisboa inaugurava a iluminação a gás, com 28 candeeiros, nas ruas da Baixa (Rua dos Capelistas, Rua do Ouro e Rua da Prata), no Chiado, na Rua do Alecrim, no Cais do Sodré, em S. Paulo e na Boavista.

Rua da Boavista |1940|
Companhias Reunidas de Gás e Electricidade: fachadas Norte e OesteBoqueirão dos Ferreiros.
Kurl Pinto, in Lisboa de Antigamente

Em 1914 deu-se na fábrica a formidável explosão que originou dezanove mortes, e o fabrico do gás passou então, inteiramente, para o Bom Sucesso — vizinhança da Torre de Belém — , onde ase manteve até 1949.

Rua da Boavista |1914|
Topónimo anterior ao terramoto de 1755, como vem mencionado nas Memórias Paroquiais.
Incêndio no edifício da Companhia de Gás.
Anselmo Franco, in Lisboa de Antigamente

Friday, 30 May 2025

Um «americano» no Terreiro de Trigo

São, efectivamente, posteriores ao triunfo do liberalismo em Portugal, os primeiros transportes colectivos urbanos que cruzaram as ruas de Lisboa. Data de 1803 o aparecimento do omnibus, puxado a muares, para a exploração dos quais se constituiu uma Empresa de Transportes com sede na Praça do Pelourinho. No entanto, incómodos, caros e raros, o povo miúdo pouco beneficiou com eles. Verdadeiramente populares e servindo já vastas zonas da cidade foram os seus sucessores, os carros americanos, inaugurados em Lisboa em 1874.

Um «americano» no Terreiro de Trigo |séc. XIX|
Antigo Campo da Lã. O topónimo advém da presença no local do edifício do Celeiro Público ou Terreiro do Trigo depois Mercado de Produtos Agrícolas e mais tarde (1937) Alfandega de Lisboa que vê ao fundo.
Imagem tomada do Palacete do Chafariz d'El-Rey, ou Palacete das Ratas.
Fotografia anónima, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 25 May 2025

Lisboa vista de Almada

Grande panorama! — disse o Conselheiro com ênfase. — E encetou logo o elogio da cidade. Era uma das mais belas da Europa, decerto, e como entrada, só Constantinopla! Os estrangeiros invejavam-na imenso. Fora outrora um grande empório, e era uma pena que a canalização fosse tão má, e a edilidade tão negligente!
— Isto devia estar na mão dos ingleses, minha rica senhora! —exclamou. Mas arrependeu-se logo daquela frase impatriótica. Jurou que era uma maneira de dizer. Queria a independência do seu país; morreria por ela, se fosse necessário; nem ingleses nem castelhanos!... Só nós, minha senhora! — E acrescentou com uma voz respeitosa: — E Deus!

Lisboa vista de Almada |c. 1870|
Margem S. do Tejo.
Laurent, J. (1816-1886, in Lisboa de Antigamente
Lisboa vista de Almada |c. 1900|
Margem S. do Tejo.
Charles Trampus, in Lisboa de Antigamente

— Que bonito está o rio! — disse Luísa.
Acácio afirmou-se, e murmurou em tom cavo:
O Tejo! ==
(QUEIROZ, Eça de, O Primo Basílio, 1878)

Lisboa vista de Almada, margem S. do Tejo  |1750|
Orig. copperplate engraving. Engraved by J. G. Ringle after F. B. Werner's drawing. Published by M. Engelbrecht in Augsburg, ca. 1750. With ornamental title cartouche, another cartouche with a ship and explanatory notes under the picture.

Thursday, 22 May 2025

Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade

O Parque — no seu início e no primitivo sonho paisagista, assim podemos dizer — data da penúltima década do século passado (1885), e seu primeiro nome, caído em esquecimento, foi o de Parque da Liberdade.

Era então tudo isto por aqui terreno de mau cultivo, ou nenhum, terras que ocupavam a poente za zona de Vale Pereiro — recorda Mestre Araújo, a quem vamos sempre seguindo — , quási todas pertencentes no século XVIII aos padres da Congregação do Oratório (de S. Felipe Nery), e a ocidente e a norte restos de quintas das Lages, de Galvão Castelo Branco, dos Pachecos Malheiros, e do Poceiro. Estes tratos de terrenos há muito que se haviam desmembrado das designações e possuidores setecentistas; a mais importante zona, vastíssima, era a do Casal do Monte Almeida, de Carlos Maria Eugénio de Almeida, com o qual a Câmara manteve demoradas demandas, que duraram de 1894 a 1930.
 
Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade |c. 1900|
Rio Tejo
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Municipalizados, em parte, os terrenos destinados ao Parque, começou a Câmara (1888) a pensar a sério no ajardinamento e aformoseamento paisagista do seu Parque, abrindo um concurso internacional entre arquitectos especializados, cujos três prémios foram ganhos por franceses; o projecto classificado em primeiro lugar (Henry Lusseau) não pôde ter execução, como não a pode ter o projecto Forestier, de 1926, nem sabemos se o terá o de Luiz Cristino da Silva, de 1932, que inclui uma entrada monumental.

O Parque — denominado de Eduardo VII depois da visita que este Rei de Inglaterra fez a Lisboa em 1903 — logo que foi proclamada a República mereceu às vereações cuidados especiais, em bons propósitos que a carência de um plano definido, ou a falta de verbas, nunca deixaram coroar de êxito.

Panorâmica tirada do Parque sobre a Avenida da Liberdade |c. 1954|
Castelo de S. Jorge; Monumento ao Marquês de Pombal (1934); Rio Tejo
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

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