Sunday, 6 July 2025

Campo dos Mártires da Pátria com a Calçada do Moinho de Vento

Isto foi o Campo de Sant'Ana.
Desde 12 de Novembro de 1880 11 de Julho de 1879, passou a chamar-se Campo dos Mártires da Pátria, designação que perdura no dístico municipal, mas que não entrou na auditiva popular. O Campo de Sant'Ana — ajardinado em feitio paisagista ao tipo ingénuo lisboeta, desde há uns quarenta anos — é uma alameda, e por vezes passeio de estudantes, que teria uma característica bizarra em Lisboa se a costumeira tradicionalista das capas e batinas não houvesse, quási, desaparecido.¹


Campo dos Mártires da Pátria |1940|
Jardim do Campo de Santana ou Braamcamp Freire; Monumento a Sousa Martins.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Embora fixada na memória da cidade em data que se desconhece. já em 1770 esta artéria aparece mencionada como «Moinho de Vento» na «Fregª de N. Snra. da Pena» e também é indicada como «em vez de 'Moinho de Vento' refere 'Calsada do Moinho de Vento'».

Campo dos Mártires da Pátria com a Calçada do Moinho de Vento|1907-07|
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

Porém, embora não se tratando de um dado validado, existirá um processo da Inquisição datado de 1594, no qual surge uma menção a um moinho de vento na encosta do Campo Santana. Segundo Pero Nunes Tinoco, arquitecto que levou a cabo as medições e o roteiro do projecto do Aqueduto das Águas Livres no século XVII, toda a gigantesca obra iria atravessar os terrenos lavradios até aos moinhos de vento.
A Calçada do Moinho de Vento está incluída num espaço considerado como imóvel de interesse público tal como consta no Decreto n.º 2/96 de 6 de Março de 1996, promulgado pelo Ministério da Cultura no Diário da República.²

Campo dos Mártires da Pátria com a Calçada do Moinho de Vento|1907-07|
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

N.B. O Campo de Santana passou a designar-se Campo dos Mártires da Pátria, pela deliberação camarária de 5 de junho e consequente Edital municipal de 11 de Julho de 1879, em memória dos 11 companheiros de Gomes Freire de Andrade suspeitos de conspiração contra o general Beresford, que neste local foram enforcados há 200 anos, no dia 18 de outubro de 1817. No decorrer do século XIX, a memória ainda viva destes acontecimentos também cognominava popularmente a artéria como Campo Mártires da Liberdade. [cm-lisboa.pt]
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Bibliografia
¹ 
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 35, 1938.
² 
jfsantoantonio.pt.

Friday, 4 July 2025

Largo de Jesus

Foi o Largo de Jesus destinado, por edital municipal de 4 de Dezembro de 1863, para praça de venda de leite. [Castilho: 1903]

Tomando no Poço Novo [actual Lg. Dr. António de Sousa de Macedo], à esq., a travessa do Convento de Jesus, entra-se no largo de Jesus, onde se eleva a igreja do mesmo nome. O convento das Terceiras de Jesus foi fund. no séc. XVI, ficando a igr. arruinada em 1755 e sendo reconstruída pouco depois, seguido o risco do arquitecto Joaquim de Oliveira. [Guia de Portugal: 1924]

Largo de Jesus |1924-10-29|
Antigo dos Cardais; Convento de Jesus actual Igreja Paroquial das Mercês
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): Legenda no arquivo: «A greve dos estudantes do liceu Passos Manuel»

Há três séculos e meio este sítio – Largo de Jesus – pouco mais era do que um deserto, com uma ou outra casa, e uma ermidinha destas muitas que se erguiam pelos subúrbios da Lisboa de D. Fernando, e que não se sabe quem as ergueu e como eram desenhadas — recorda Norberto de Araújo. [...]
No começo deste século, em terrenos que foram da antiga Cerca, elevou-se (1906), o magnífico Liceu de Passos Manuel, irmão dos de Camões e de Pedro Nunes, iniciativa de João Franco, e das mais estimáveis. [Araújo, V, 1938]

Sunday, 29 June 2025

Calçadinha da Figueira

Figueira (calçadinha da) segunda á esquerda na calçadinha de S. Miguel, indo do largo de S. Miguel e finda na rua d'Adiça [actual Rua Norberto de Araújo desde 1956], freguezia de S. Miguel 2 a 12 e 1 a 27. [Velloso: 1869]

Esta Calçadinha da Figueira, cheia de escadas — recorda Norberto de Araújo — , leva a um curto enquadramento, que não chega a Largo, e no qual começa a Rua, bairrista como poucas, do Castelo Picão. Ali tens à direita, n.º 19 da Calçada da Figueira ainda, uma Clérigos Pobres lápide, que diz «Clérigos Pobres»,
Este pormenor despercebido a tanta gente, leva-me a crer que a Casa dos Arcos houvesse sido uma estância dos Clérigos Pobres, talvez dos que tiveram hospício em S. Pedro de Alcântara. O quintal da Casa citada não fica a vinte passos do prèdiozito da lápide. Mais duas casitas típicas alfamenses à direita, e eis-nos em pleno Castelo Picão.

Calçadinha da Figueira |1945|
O nome remete para a existência de figueira(s) no local.
Fernando Martinez Pozal,  in Lisboa de Antigamente

A Calçadinha da Figueira, identificada como Calçada da Figueira, consta do levantamento dos arruamentos da cidade datado de 1858, conduzido por Filipe Folque.

Calçadinha da Figueira |c. 1960|
Perspectiva tirada da Rua Norberto de Araújo.
Artur Pastor, in Lisboa de Antigamente

Friday, 27 June 2025

Palácio de São Bento: Estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães

Inaugurada em 1876 no então designado Largo das Cortes — até à construção da escadaria monumental na década de 1930 — esteve posteriormente implantada no Vestíbulo do Palácio de São Bento, tendo sido reinaugurada, em 15 de Outubro de 1984, no jardim da Praça de São Bento. A estátua de corpo inteiro e cadeira fundidas em bronze e modeladas, em 1870, por Vítor Bastos, assentam sobre uma base de pedra.
  
Estátua de José Estêvão Coelho de Magalhães |Início séc. XX|
Palácio de São Bento, antigo Largo das Cortes
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

N.B. José Estêvão Coelho de Magalhães (1809-1862), destacou-se pela sua contínua luta a favor da liberdade, denominador comum que moveu tanto a sua carreira como a sua vida. Foi soldado, jornalista, professor da Escola Politécnica, advogado, político, parlamentar e grande orador, tendo ficado célebres os seus empolgantes discursos parlamentares, em particular as suas discussões com Almeida Garrett. Em sua homenagem, a Câmara Municipal de Lisboa consagrou-lhe uma rua com o nome de José Estêvão, pelo qual ele era mais conhecido.

Palácio de São Bento, galilé escadaria monumental |1938-11-08|
Rua de S. Bento
A fachada principal, remodelada durante a primeira metade do século XX, projecto do arqº Ventura Terra.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 22 June 2025

Rua da Escola Politécnica que foi «da Cotovia»

O olisipógrafo Norberto Araújo caracteriza da seguinte forma esta antiga artéria no velhinho sítio da Cotovia:
Esta artéria, rasgada como larga serventia entre as quintas do Noviciado da Companhia de Jesus e a de D. Rodrigo, fazia a ligação do sítio da Cotovia com o de Campolide, que começava — já o disse — onde veio a ser o Rato. 

Rua da Escola Politécnica |1908|
À dir. abre-se o Beco do Colégio dos Nobres.
Legenda no arquivo: «Prédios engalanados por ocasião da visita do rei D. Manuel à Escola Politécnica|»
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Antes do Terramoto a rua tinha duas designações para cada um dos seus troços: Rua Direita da Fábrica das Sedas até ao Palácio dos Soares (depois Imprensa Nacional), daí para diante até à actual Praça do Rio de Janeiro era Rua do Colégio dos Nobres, designação que sucedeu à de Rua Direita da Cotovia. Em Setembro de 1859 passou toda a artéria a ser Rua da Escola Politécnica.==
(ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 19, 1939)

Panorâmica de Lisboa |190-|
Observa-se (parcialmente) o Largo do Rato junto ao Chafariz do Rato, o Palácio dos Duques de Palmela e a Rua da Escola Politécnica.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Friday, 20 June 2025

Rua de Dom Vasco

Este topónimo já aparece — como "Calçada" — nalgumas cartas topográficas, em 1892, e em antigos escritos a propósito do combate aos incêndios citadinos, em que os sinos das igrejas indicavam, pelo número de badaladas, a freguesia do incêndio, e que aqui transcrevemos: «No ano de 1862, davam-se 33 badaladas na igreja da Boa Hora, em Ajuda, com o posto da guarda na Calçada de Dom Vasco».
(CRUZ (Francisco Inácio dos Santos).— memoria sobre os differentes meios de atalhar os incêndios..., 1850)

A carreira nº 18 — Praça do Comércio-Ajuda — foi inaugurada em 1927.
Perspectiva tomada da Tv. da Boa Hora à Ajuda.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B.  Dom Vasco Manuel de Figueiredo Cabral da Câmara) (1766-1830). Em 1805 recebeu o título de conde de Belmonte. Foi porteiro-mor da Casa Real, Fidalgo da Casa Real, morgado de Ota, de Belmonte e de Santo André, pertenceu ao conselho de D. João VI, foi gentil-homem da sua câmara, presidente da Junta da Administração do Tabaco e deputado da Junta dos Três Estados do Reino.

Sunday, 15 June 2025

Santo Estêvão: da Calçadinha e das Escadinhas até ao Largo

Nas suas Peregrinações em Lisboa, Norberto de Araújo — a quem vamos sempre seguindo — depois de historiar modificações anteriores, diz: «Em 1833 Alfama formava um dos quatro distritos de Lisboa — veja-se a sua largueza por extensão convencional! — com 12 freguesias, afinal todas as paroquiais em redor do Bairro alfamista puro, incluindo o Castelo, mas ficando São João da Praça integrada no distrito do Rossio. Em 1852 ainda Alfama era um dos quatro distritos da cidade, já com São João da Praça em sua área natural, mas arrebanhando os Anjos e o Socorro! 
Em 1867 desapareceram todos os bairros de distinção nominal, e só então a palavra Alfama sucumbiu, oficialmente».

Tuas vielas velhinhas
Tuas ruas tão estreitinhas
São glórias, têm fado
Tu és a Lisboa antiga
Onde há sempre uma cantiga
P’ra recordar o passado

(do fado Alfama Velhinha de Armando Santos)

Estevão (calçadinha de Santo) segunda á esquerda na rua dos Remedios, indo do largo do chafariz de Dentro e finda na rua da Regueira, freguezia de Santo Estevão 2 a 28 e 1 a 35. [Velloso: 1869]

Santo Estêvão: Calçadinha e Escadinhas |c. 1945|
Perspectiva tirada da Rua da Regueira.
Fernando Martinez Pozal,  in Lisboa de Antigamente

Descendo as Escadinhas de Santo Estêvão — recorda o ilustre Norberto de Araújo — encontramos o balneário municipal [vd. 3ª imagem], construído em 1936, e logo pequeno Largo que cai sobre a Rua da Regueira, diante do Beco do Espírito Santo, ficando-nos à esquerda a Rua dos Remédios.

Calçadinha de Santo Estêvão com a Rua da Regueira |1950|
Beco do Espírito Santo
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

enquadramento é gracioso, seja qual for o conceito que nós possamos ter de beleza nestes quadrinhos bairristas, onde — e é o caso neste sítio — o pitoresco, o religioso, o fidalgo com o solar dos Azevedos Coutinhos. se dão mãos, para que Alfama se represente nos três Estados. 
(ARAÚJO, Norberto de Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 90-92, 1939)

N.B. O topónimo Santo Estêvão, na freguesia de Santo Estevão, advém da igreja do mesmo orago.

Calçadinha de Santo Estêvão |c. 1945|
À esq.no nº 19, nota-se o antigo balneário municipal.
Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente

Estevão (escadinhas de Santo) terceira á esquerda na rua dos Remedios indo de largo do chafariz de Dentro e findam na calçadinha de Santo Estevão, freguezia de Santo Estevão 2 a 18 e 1 a 23.
Estevão (largo de Santo) faz frente á egreja de Santo Estevão, e é aonde vão terminar as escadinhas de Santo Estevão, beco do Chanceller, ruas do Vigraio e Cruz do Mau, freguezia de Santo Estevão 1 a 16.
[Velloso: 1869]

Escadinhas e Largo de Santo Estêvão |1944|
Igreja de Santo Estêvão (traseiras) e Arco do Chanceler junto ao Palácio Azevedo Coutinho.
J. C. Alvarez, in Lisboa de Antigamente

Friday, 13 June 2025

Rua Saraiva de Carvalho

No último quartel do século XIX, as Ruas de Santa Isabel e de S. Miguel da Boa Morte, no bairro de  Campo de Ourique, passaram a constituir um arruamento único com a denominação de Rua Saraiva de Carvalho, através da publicação do Edital de Municipal de 16/11/1885, em homenagem ao jurisconsulto Saraiva de Carvalho.

Antiga de «Santa lzabel»
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

N.B. Augusto Saraiva de Carvalho (1839-1882). Advogado. Parlamentar. Reformista. Ramalho Ortigão chama-lhe pimpolho ilustre e rebento florescente da janeirinha. Em 1864 é um dos fundadores, no Pátio do Salema, do Clube dos Lunáticos com José Elias Garcia e Latino Coelho.

Ministro da justiça do governo de Ávila, desde 29 de Outubro de 1870 a 30 de Janeiro de 1871. Sai então do governo, juntamente com Alves Martins, quando os deputados reformistas liderados por Latino Coelho, lançam um ataque ao governo. Com efeito, Saraiva de Carvalho levou ao rei, sem passar por Ávila, a nomeação do bispo do Algarve, D. Inácio do Nascimento Morais Cardoso, considerado liberal, capelão de D. Pedro V, em vez da do arcebispo de Goa, D. João Crisóstomo de Amorim Pessoa, apoiado por Ávila, acusado de congreganismo romano e ultramontanismo.
Ministro das obras públicas, comércio e indústria do governo de Braamcamp (de 1 de Junho de 1879 a 25 de Março de 1881). [Maltez]

Antiga de «Santa lzabel»
Direcção Praça São João Bosco (Cemitério dos Prazeres).
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

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