Sunday, 27 November 2022

Palácios da Cruz de Santa Apolónia: Palácio Veloso-Rebelo e Palácio Mascarenhas

Pois estamos no alto da Calçada de Santa Apolónia; sai-nos, agora, à esquerda, a velha Rua da Cruz de Santa Apolónia, que leva à Rua do Mirante — diz Norberto de Araújo.
A Rua da Cruz de Santa Apolónia conheceu outras designações, como R. Nova Cruz (1741), R. da Cruz a Vale de Cavalinhos (1753), R. Direita da Cruz do Vale de Santo António (1762), R. de Vasco Lourenço (1768) e R. Direita da Cruz. 
No inicio desta velha artéria lisboeta, em posição sobranceira à orla ribeirinha do Tejo, encontramos, do lado nascente, o Palácio Veloso-Rebelo, depois Fábrica de Tabacos (actualmente ocupado pela G.N.R,) e, mais acima, a poente, implantado em zona de meia-encosta, em terraço — o Palácio Mascarenhas.

Cç.  de Santa Apolónia e R. da Cruz de Santa Apolónia (dir.) [post. 1902]
À dir., entre os n.ˢˢ 18 e 32, nota-se parcialmente o Palácio Veloso-Rebelo e, encimando a foto, vê o muro em semi-círculo do Palácio Mascarenhas.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Palácio mandado construir cerca de 1724 por Vasco Lourenço Veloso, administrador geral dos portos secos do reino e da Real Fábrica das Sedas. Com o seu falecimento, em 1770, os seus bens e o palácio passam para a posse de seu filho, Tomás Rebelo Veloso Palhares. Ostentando no pórtico as pedras de armas dos Veloso-Rebelo, o edifício serviu, na segunda metade do séc. XIX (c. 1830), de sede à Fábrica de Tabacos ''A Lisbonense'', propriedade de João Paulo Cordeiro. Em 1891, com a fundação da Companhia dos Tabacos de Portugal, as instalações da fábrica antiga sofreram uma remodelação e ampliação.

 Palácio Veloso-Rebelo [c. 1940]
Rua da Cruz de Santa Apolónia, 
18-32 
Portal em cantaria sobrepujado por janela de sacada e superiormente rematada por frontão curvo interrompido por pedra de armas dos Rebelos Velosos.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Palácio do séc. XVI com o topo nascente em pavilhão dentro do pátio, mandado construir por Manuel Quaresma Barreto, Vedor da Fazenda do rei D. Sebastião, passando a mesma, a quando do seu falecimento, para a posse da sua segunda filha D. Bárbara, casada com D. Rodrigo Lobo, 5º barão de Alvito; nos séculos. XVII e XVIII a casa de Santa Apolónia encontra-se quase sempre arrendada, uma vez que não é mais do que uma residência secundária para os barões de Alvito, normalmente residentes no seu palácio no Largo do Conde-Barão, igualmente proveniente da herança dos Quaresma; em 1875, o 4º marquês de Alvito vende o palácio  ao lavrador do Ribatejo, José Palha Blanco. Em 1918 foi adquirido por D. Maria José Sobreira Zuzarte de Mascarenhas, tendo permanecido na família largos anos. Por aqui passou, durante cerca de vinte e cinco anos, no primeiro quartel do séc. XX, o Instituto de Higiene do Professor Dr. Ricardo Jorge e, depois, pelo Observatório Europeu de Drogas e Toxicodependências. É ocupado presentemente pela AML (Área Metropolitana de Lisboa).

Rua da Cruz de Santa Apolónia [1926]
Palácio Veloso-Rebelo na esquina com Calçada dos Barbadinhos. Ao fundo, nos n.ˢˢ 23 e 25, observa-se parte do Palácio Mascarenhas.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. A Calçada de Santa Apolónia, que hoje vemos a ligar a Rua de Santa Apolónia à Rua da Bica do Sapato, deriva o seu topónimo do Convento de Santa Apolónia naquela zona erguido na segunda metade do séc. XVII, embora este hagiotopónimo fosse ali já habitual graças à Ermida de Santa Apolónia que existiu pelo menos desde 1552.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XV, p. 21, 1939.
monumentos.pt.

Friday, 25 November 2022

Palacete Vale Flor

O Prémio Valmor de 1928 coube ao Palacete Vale Flor na Calçada de Santo Amaro, 83-85, projectado pelo arqº Pardal Monteiro sendo a Sociedade Agrícola Vale Flor sua proprietária. Era uma habitação isolada, de estrutura ainda bastante clássica. O júri recomendou a moradia com jardim como um “modelo de um género de construções que muito conviria desenvolver nas encostas de Lisboa, para interromper com manchas de verdura a monotonia do casario banal e para multiplicar os terraços de onde se possam desfrutar os incomparáveis panoramas da cidade”. Foi demolido em 1953.

Palacete Vale Flor |c. 1952|
Prémio Valmor de 1928
Calçada de Santo Amaro, 83-85
Sequeira, Gustavo de Matos,  in Lisboa de Antigamente 

Sunday, 20 November 2022

Miradouro de Santa Luzia: panorâmica sobre o Tejo e Santo Estêvão

Mas retomemos a jornada, deixando ao alto, a dois passos, as Portas do Sol e as venerandas torres e muralha moura, sobre a qual assenta o miradouro de Santa Luzia. É esta uma das entradas «turísticas» da Alfama. Eis-nos, Dilecto, no Miradouro de Santa Luzia, ou Jardim de Júlio Castilho —  nota Norberto de Araújo.. Tira o teu chapéu, que eu trago já o meu na mão: estamos diante do busto do Mestre infatigável e iluminado da "Lisboa Antiga" e de ”A Ribeira de Lisboa", generoso precursor dos estudos olisiponenses.¹

Miradouro de Santa Luzia, panorâmica sobre o Tejo e Santo Estêvão [1929-73-03]
Construção do monumento a Júlio Castilho, inaugurado em 25 de Julho de 1929.
Fotógrafo: não identificado, in Lisboa de Antigamente 

Dificilmente um miradouro teria nome mais apropriado. A Santa protectora dos olhos dá aos olhos dos que a visitam um dos mais belos panoramas de Lisboa. Porque em Santa Luzia estamos perto de tudo, dos telhados, dos quintais. do rio, dos barcos. E estamos ao mesmo tempo diante da imensidão do mar da Palha, com Palmela, Arrábida e Sesimbra como pano de fundo.
Nos detalhados azulejos deste miradouro podemos também ver representações da Praça do Comércio antes do terramoto de 1755 e também do ataque cristão ao Castelo de S. Jorge. Também se destaca aqui o busto de Júlio de Castilho, em homenagem ao famoso olisipógrafo, iniciativa da vereação de Quirino da Fonseca, inaugurado em 1929.²

Miradouro de Santa Luzia, panorâmica sobre o Tejo e Santo Estêvão [1929-73-03]
Jardim e Monumento a Júlio Castilho, inaugurado em 25 de Julho de 1929.
Fotógrafo: não identificado, in Lisboa de Antigamente 

Bibliografia
¹ ARAUJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. II, p. 69, 1938.
² ADRAGÃO, José Victor; PINTO (Natália); RASQUILHO, Rui, Lisboa, 1985.

Friday, 18 November 2022

Rua Carlos Mardel

Arquitecto e engenheiro húngaro - Károly Martell, em 1695? e falecido em 1763, veio para Portugal em 1733. O primeiro trabalho a que se dedicou foi o Aqueduto das Águas Livres. Foi o responsável pelo projecto do reservatório das Amoreiras, conhecido por Casa das Águas, e pelo traçado do aqueduto desde o vale de Alcântara até à Mãe d'Água. 

Rua Carlos Mardel [c. 1940]
Cruzamento com a Rua Morais Soares; perspectiva tirada da Rua Francisco Sanches; esta foi uma das novas ruas (1929) da urbanização do Estado Novo na zona que vai do Mercado do Bairro dos Actores ao Areeiro
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente 

Foi um dos principais arquitectos da reconstrução capital após o terramoto de 1755. Teve também responsabilidade em outras obras, nomeadamente Chafariz da Esperança e da Rua Formosa, convento de S. Domingos, Colégio dos Nobres, palácio Pombal de Oeiras.

Rua Carlos Mardel [1960]
Esquina com a Alameda Dom Afonso Henriques. Dístico atribuído em 1929 ao antes «prolongamento da Rua Francisco Sanches»
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente 

Sunday, 13 November 2022

Rua de S. Bento, 22

Vamos entrar na Rua de S. Bento — diz Norberto de Araújo — , que bem corrida dá pelo menos dez tostões por dia. Isto dizia-se há cinquenta anos acerca dos mendigos de profissão; tão comprida é a rua que, com método e paciência, um «pobre», começando cedo, e recolhendo um óbolo de de cinco réis em cada uma das duzentas portas onde batesse, ganhava a sua jorna.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, p. 32, 1939)

Rua de S. Bento, 22 [1960]
Perto do Poço dos Negros
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no abandalhado amL.

Saturday, 12 November 2022

Panorâmica da Praça do Comércio

De «espalmadeiro» — estaleiro no qual se querenavam naus nos séculos XIV e XV — a Terreiro do Paço da Ribeira d'el rei D. Manuel no séc. XVI, até Praça do Comércio, em homenagem aos comerciantes de Lisboa, pela mão de Pombal e Eugénio dos Santos no séc. XVIII, a parque de estacionamento em meados do séc. XX. 

Praça do Comércio, panorâmica do parque de estacionamento [ant. 1960]
Salvador Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Historial resumido da Praça do Cavalo Preto ou «Black Horse Square» como dizem os ingleses, talvez, a mais imponente praça pública da Europa [Araújo, XII, 1939].

Praça do Comércio, panorâmica do parque de estacionamento [ant. 1960]
Monumento a D. José I; Estação Fluvial do Sul e Sueste
Luís Filipe de Aboim, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 6 November 2022

Mercados do Bairro de Alvalade: Ruas Luís Augusto Palmeirim e José Duro

Mercados que funcionam ao ar livre, sendo o sombreamento conseguido à custa de chapéus-de-sol. As bancas são montadas e desmontadas todos os dias (daí advém a designação de mercado de levante).
Luís Augusto Xavier Palmeirim (1825-1893) que trabalhou no Ministério das Obras Públicas e a partir de 1878 foi director do Conservatório de Lisboa, pertenceu à nova geração romântica do «Trovador» como poeta ultra-romântico. As suas principais obras são «Poesias» (1851), «O Sapateiro de Escada» (1856), «Como se Sobe ao Poder» (1856), «A Domadora de Feras» (1857), «Portugal e os seus Detractores» (1877), «Poesia Popular nos Campos» (1878), «Galeria de Figuras Portuguesas» (1879), «Os Excêntricos do Meu Tempo» (1891).
 
Rua Luís Augusto Palmeirim [c. 1950]
Antiga Rua 12 do Sítio de Alvalade (até 1950)
Mercado de levante; ao fundo a Rua José Duro onde se situa o Mercado de Alvalade-Norte [vd. 2.ª imagem]
J. C. Alvarez, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): para não variar, o local da foto está, erradamente, identificado no arquivo como «Mercado de levante de Alvalade Sul, inaugurado no bairro de Alvalade, Rua Antero de Figueiredo)

Com a legenda «Poeta/1875-1899», esta artéria homenageia José António Duro (1875-1899) que publicou o folhetim de versos «Flores» (1896) e o volume de poemas «Fel» (1898), o qual vale como documento humano de um jovem minado desde a adolescência pela tuberculose que vitimou o autor ainda enquanto aluno da Escola Politécnica. 

Rua José Duro [c. 1950]
Antiga Rua 12 do Sítio de Alvalade (até 1950)
Ao fundo, à dir., nota-se o Mercado de Alvalade Norte
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

Saturday, 5 November 2022

Estr. de Chelas

À origem fabulosa de Chelas associaram o nome de Aquiles (Achiles), o herói grego, que por ali teria estado escondido, disfarçado de mulher, entre as vestais de um templo (depois convento de Chelas). Presume-se que esta lenda tivesse sido forjada a a partir do topónimo Achellis que é, de facto, mencionado na documentação mais antiga (sécs. XII e XIII).
Entretanto, não há certezas quanto ao verdadeiro significado da palavra Chelas. Alguns atribuem-lhe uma etimologia latina (planella chaela = pequena planície) a qual não se coaduna com a orografia do lugar.

Estr. de Chelas, S-N [c. 1910]
Viaduto Ferroviário de Chelas (junto à Calçada da Picheleira)
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Outros, dizem que tem a mesma origem que as palavras «shell» (ingl) e «schale» (al.), derivando de um radical comum com o significado de concha. Esta hipótese é mais sugestiva porque, na realidade, em todo o vale de Chelas e nas encostas (até ao Alto das Conchas!) se encontram numerosos concheiros fósseis que ficaram como vestígios de há muitos milhões de anos, quando por aí penetrava um golfo marinho."
(Pelas Freguesias de Lisboa, CML: Pelouro da Educação, 1993)

Estr. de Chelas, 113-127, S-N [c. 1966]
Viaduto Ferroviário de Chelas e Palácio do Lavrado, construído na segunda metade do século XVIII, característico dos palácios de veraneio, terá pertencido aos condes de Vimioso.
João Goulart, in Lisboa de Antigamente

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