O Palácio Sabugosa [antes S. Lourenço] situa-se na Rua Primeiro de Maio (antiga Rua de S. Joaquim, ao Calvário), n.ºˢ 120-124. A sua aparência é vulgar, notando-se a fachada forrada de azulejos, do tipo do século XVII. Os S. Lourenços (César de Menezes, descendentes de Vasco Fernandes César) possuiram uma vasta área de chãos neste sítio terminal do Calvário; foi em ' terrenos seus que se rasgou a Rua Luiz de Camões, essa grande artéria do fim do século — avenida de Santo Amaro.
No interior do Palácio Sabugosa as reminiscências seiscentistas estão representadas por alguns panos de azulejo, em regra deslocados do sítio primitivo, por alguns tectos de masseira no andar superior, e por outros pequenos pormenores, que os restauros quase encobriram.
O Palácio Sabugosa ou dos Césares, em Santo Amaro [vale recordar que Eça leu parte de Os Maias ao Conde de Sabugosa, precisamente neste palácio — protótipo do Ramalhete], remonta ao século XVI, no seu núcleo primitivo. Foi fundado por Luís César, segundo deste nome e apelido, que, como seus avós, foi do Conselho de El-Rei, Guarda-mór das Naus da Índia, Provedor dos Armazéns nos Reinos e Senhorios de Portugal, Alcaide-mór de Alenquer. Foi o primeiro administrador do Morgado dos Césares, instituído na primeira metade do século XVI, por seu pai Vasco Fernandes César.Luís César de Menezes, cativo da batalha de Alcácer-Quibir, foi um dos oitenta fidalgos resgatados na carta régia de 10 de Outubro de 1678. Nos anos de 1583 e 1584, Luís César adquiriu várias propriedades, de algumas das quais já era senhor directo. Mas na escritura celebrada pelo tabelião de Lisboa, João Rodrigues Jacome, em 5 de Outubro de 1588 diz-se «Luís César comprou huma casa junto das suas de sua vivenda de S. Amaro» que confrontava pelo Sul com caminho de Lisboa para Belém. No quadrante de um relógio de sol existente nos jardins do palácio lê-se a data de 1605. O palácio ou vivenda de campo — qualificação que mais lhe quadraria — era, porém, quer no semblante, quer no interior e disposição, diferente do que veio a ser no século XVIII depois de obras de ampliação e beneficiação levadas a efeito em 1728 por Vasco Fernandes César de Menezes, quinto neto do fundador do palácio, em meados do século XVI [...].
Eis por que a vasta propriedade que se estendia à ilharga da quinta dos Césares até ao Alto de S. Amaro, e que havia sido adquirida em 1580, se chamou «Casal do Conde de S. Lourenço» em homenagem à aliança dos Césares com os Condes de S. Lourenço, família muito antiga que precedia de Pedro Pires, rico homem do século Xll, onde entroncaram os Sabugosas.
E de crer que a «Quinta Cesária» — assim foi chamada — fosse anterior à construção da primitiva casa de campo, ou palácio, pois os Césares eram possuidores de largos tratos de terrenos rústicos; quanto à casa seiscentista era um pouco mais recuada, em relação ao alinhamento que o 1º Conde de Sabugosa lhe deu, e servida por um largo portão que não é, evidentemente, o que hoje se abre na fachada principal. [...]
A «Quinta Cesária», que se dilatava para Poente até quase à Ermida de Santo Amaro, e, para Norte, até à zona onde veio a ser construído em 1904 o Palacete Valflor, foi em grande parte retalhada e alienada, para urbanismo local, pelo 3.º Marquês de Sabugosa, alguns anos antes da sua morte (1897); a Rua Luís de Camões foi, no final do século passado [XIX], aberta em terrenos da quinta.
O filho do 3.º Marquês, António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses, 9.º Conde de Sabugosa e 11.º Conde de S. Lourenço — o escritor e académico ilustre, mordomo-mór da Casa Real — promoveu depois de 1898 grandes obras de restauro e transformação no palácio de seus maiores, podendo dizer-se que a actual casa de Santo Amaro, à parte o semblante exterior, é outra em relação ao que teria tido mesmo no século XVIII. Foi o Conde de Sabugosa, ele próprio, o orientador artístico dos restauros e transformações, nas quais avultou a construção da biblioteca-livraria, ocupando o espaço de um antigo pátio, contíguo ao jardim: nas decorações trabalharam um artista Anunciação (que não Tomás da Anunciação) e Leandro Braga, mestre entalhador.
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As salas do Palácio Sabugosa — classificado como MIP-Monumento de Interesse Público — estão adornadas com inúmeros quadros, especialmente retratos, de pessoas das famílias Sabugosa, S. Lourenço e Murça, de entre os quais merecem citação os do l.º Conde de Sabugosa e da Condessa D. Juliana de Lencastre, além de vários quadros de Josefa de Óbidos e um de Pellegrini.
A Sala de Jantar, pequena e original, construída pelo 1.º Conde de Sabugosa (1728), ao tipo da do Palácio do Ramalhão, em Sintra, e nela: a cúpula circular, com duas frestas de aresta, iluminantes; a pintura gflral da sala, envolvendo parede e cúpula, a óleo sobre estuque, representando a fáuna e a flora do Brasil, num tom quente e verde escuro; os armários setecentistas, cavados nas paredes, com delicadas armações envidraçadas; um fogão vulgar num dos topos.
Palácio Sabugosa [post. 1933] Rua Primeiro de Maio, 120-124 A interessante Sala de Jantar, no tipo da do Palácio do Ramelhão em Sintra. Estúdio Mário Novais, in F.C.G. |
A Sala de Biblioteca, ou Livraria, construída no final do século passado [XIX] no local onde existiu um pátio interior, e nela: a galeria superior, com balaustrada de gradil dourado, que acompanha também a escada; o tecto de madeira com clarabóia, a decoração de silhares de azulejos setecentistas, que pertenceram aos jardins; as portas de rede das estantes curiosas, no estilo D.João V. António Maria César e Meneses (1851-1923) — 9.º Conde de Sabugosa e 11.º Conde de S. Lourenço — terá aqui encontrado o folheto inédito do Auto da Festa de Gil Vicente, cujo fac-simile fez publicar em 1906.
O Escritório, realização do último Conde de Sabugosa, com tecto de madeira em caixotõcs geométricos, tipo holandês; armações e portas em talha, de Leandro Braga, uma chaminé de talha e fundo de azulejos de setecentos advindos do Palácio Murça, da Travessa André Valente; chão de parquet.
Palácio Sabugosa [post. 1933] Rua Primeiro de Maio, 120-124 No Escritório destaca-se uma chaminé de talha e fundo de azulejos de setecentos advindos do Palácio Murça Estúdio Mário Novais, in F.C.G. |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, p. 43, 1939.
id., Inventário de Lisboa, 1950.
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ReplyDeleteLindo, estou procurando um morador de Lisboa Murilo moreno Gonçalves. Mais não acho nada dele. Ele era professor
ReplyDeleteMuito belo alguém que já faleceu foi jardineiro da condessa nos anos 40 + - eu amo saber o desconhecido para mim ... muito obrigada .
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