Parte do antigo mosteiro arruinado ameaçava desabar: havia anos que tinham resolvido reedificá-lo. Era um corredor comprido e estreito que nos tempos primitivos deveria ter servido de passeio reservado aos frades. A Casa Pia, que ocupa , como já disse, o antigo claustro, destinava as novas construções para aumento do seu pessoal (...)
A direcção dos trabalhos foi conferida a um pintor cenógrafo do Teatro de S. Carlos, o sr. Cinati, sem dúvida homem de talento, mas que, inexperiente no género de trabalhos que era chamado a superintender; traçou um plano fantástico e deficiente e imaginou levantar na base desse organismo decrépito uma enorme torre quadrada, pesada, maciça, ornamentada de decorações incorrectas e absolutamente deslocada [vd. 2ª foto] e alheia às prescrições.
No dia 18 de Dezembro [de 1878], às 9 horas da manhã, desabou tudo com estampido idêntico ao do trovão subterrâneo, soterrando e matando nos escombros do desmoronamento nove ou dez operários. Se o sinistro tivesse ocorrido durante o grande desenvolvimento dos trabalhos, o número de vítimas ascenderia a cem ou cento e cinquenta. Acto contínuo propalou-se o boato de que ia proceder-se a um inquérito. A notícia fez sorrir maliciosamente os que sabiam avaliá-la e conheciam a índole do país. Se algum crédulo teve a ingenuidade de acreditar que desse inquérito resultaria a punição dos culpados, ou mesmo a simples demonstração pública da sua incompetência responderei certificando que não houve inquérito nem solução de espécie alguma.
Mosteiro dos Jerónimos, durante a construção do corpo central [1877] Praça do Império, antiga de Dom Vasco da Gama, antes Largo dos Jerónimos Fotógrafo não identificado |
N.B. Em 1882 propunha-se a construção de uma nova torre central de 60 metros de alto, projecto que não prosseguiu; em 1891-92 dirigia as obras de restauro o arquitecto Domingos Parente, depois Raimundo Valadas, e finalmente Rosendo Carvalheira. Foi este arquitecto que fez concluir um corpo central mais modesto, mas mesmo assim desproporcionado, o qual em 1940 foi reduzido de altura nos pináculos [vd. imagem abaixo] pela Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais (arquitecto Baltazar de Castro). [Araújo: 1944]
Mosteiro dos Jerónimos, vista de nascente para poente, da fachada sul [c. 1930] Praça do Império, antiga de Dom Vasco da Gama, antes Largo dos Jerónimos Destaque para o corpo central antes de reduzido de altura nos pináculos para as dimensões actuais. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
RATATZZI, Maria (1833 - 1902), Portugal de Relance, 1879.
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ReplyDeleteQuanto a responsabilidades, hoje seria igual. Merda de pais
ReplyDeleteQuem faz o país são os seus naturais. Se o país é uma «merda» a eles se deve.
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