O Palácio dos Marqueses de Tancos — ou simplesmente Palácio Tancos — , com ampla fachada sobre a calçada daquela denominação, é uma construção seiscentista, melhorada, ampliada e transformada no século XVIII. O seu núcleo primitivo remonta ao século XVI, pois já em 1589 o Conde da Castanheira, D. António de Ataíde, que foi conselheiro e embaixador de D. João III, aqui possuía umas casas nobres, certamente modestas em relação ao que veio a ser o palácio no decorrer dos séculos seguintes.
No
começo do século XVII já residia aquele 1.º Conde de Atalaia nas casas
nobres que dos Castanheiras haviam sido, e é de crer que fosse este
fidalgo, possuidor de inúmeros bens, o primeiro edificador do palácio em
que transformou completamente a casa quinhentista dos Ataídes. O 6.º
Conde, D. João Manuel de Noronha, em 1791 feito 1.º Marquês de Tancos,
foi, seguramente, quem ampliou e restaurou a sua casa nobre à Costa do
Castelo, considerada das melhores da côrte antes do Terramoto, que os
Atalaias habitavam normalmente, onde se celebraram grandes festas e recepções, e residiu o irmão do 1.º Marquês, o deão da Sé D. José
Manuel, mais tarde (1794) Cardeal Patriarca.
O
Terramoto pouco teria danificado o Palácio de Tancos, mas impôs,
certamente, obras de restauros; seu proprietário andava então pelo
Alentejo, onde era governador das armas da província, e sua família
assistiria em Lisboa, neste casarão palaciano de S. Cristóvão sob a
Costa do Castelo.
Até 1865, permanentemente, ou com ausências periódicas, os Tancos-Atalaias habitaram a sua casa, em cuja capela se celebraram durante dois séculos casamentos e baptizados de pessoas de família. Depois o hist6rico palácio entrou em inquilinato, parcial pelo menos, para no decénio seguinte vir às mãos do comerciante Manuel Alves Dinis, e parece que já então a casa oferecia certa decrepitude, ou pelo menos abandono.
O palácio sumiu-se então; interiormente sujeito a adaptações para inquilinato rendoso, divis6rias, acrescentando utilitários, foi graduadamente perdendo o carácter. No final do século XVII e até princípio do século XVIII, andou o palácio arrendado aos Condes de Vale de Reis (chegando a ser conhecido por esse título), mas este inquilinato fidalgo não prejudicava o palácio, e até talvez o tivesse beneficiado. A cr6nica do inquilinato deste palácio não apenas a dos baixos com oficinas e armazéns, é vasta, sobretudo a partir do final do século passado [XIX]. [...]
Palácio do Marquês de Tancos, fachada principal [1945] Calçada Marquês de Tancos; Igreja de S. Cristóvão. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Nos andares térreos do lado da Calçada instalaram-se várias oficinas, e muitas dependências com acesso pela Costa do Castelo, n.º 23, tem a sua sede a Associação de Beneficência de S. Cristóvão e S. Lourenço.
Este antigo palácio teve hist6ria social, fidalga, religiosa, e, decerto modo política; hoje [195o] é uma enorme massa urbana, alcantilada nas abas da Costa do Castelo sobre S. Crist6vão, que nada nos diz, sem auxilio das crónicas.
N.B. Não obstante o cerca de século e meio em que os espaços do
palácio foram sendo sucessivamente vendidos e transformados, o conjunto
apresenta ainda uma grande uniformidade urbanística e conserva grande
parte do recheio artístico original, em especial as salas decoradas com
azulejos panorâmicos das primeiras décadas do século XVIII, executados
por Raimundo do Couto.
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1950.
Boa Noite
ReplyDeleteGostaria de saber se a informação privilegiada (temas, fotos, textos!) que tem, são pessoais ou existe algum sítio onde me possa inscrever para o ter, tal como uma biblioteca, por exemplo.
Muito Obrigado
Cumprimentos
Ricardo Santos (ricardosantos1953@gmail.com)
As fotos são de vários acervos públicos - portugueses e outros - e estão disponíveis na net. Parte dos textos são os descritos na bibliografia das respectivas publicações.
ReplyDeletePode dar-me algum link ou exemplos, principalmente, se for da "minha" Lisboa e em virtude ir costumar fotografar edifícios e monumentos da cidade.
DeleteMuito Obrigado
Cumprimentos
Ricardo Santos