Dávamos alguma coisa para saber — questiona-se Norberto Araújo — quem foi ao certo a senhora Rosa das Partilhas. E que partilhas foram aquelas. Só nos chegou que encheu o bairro de demandas bulhentas, e que esta rua, na qual certamente a senhora Rosa morou e morreu de velha, nunca deixou de ser Rua da Rosa, «da Rosa das Partilhas» no final de quinhentos. É a mais comprida artéria do Bairro Alto, única que o corta de ponta a ponta.Seria a «rua dereyta» — se fosse torta e possuísse o pitoresco estendal da sua irmã paralela, a da Atalaia. (...)
Esquina da Rua da Rosa (das Partilhas) com o Cunhal das Bolas [c. 1960] Cunhal revestido de meias esferas em relevo Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente |
O padrão desta rua, tão lisboeta, assenta no [palácio] Cunhal das Bolas, essa curiosidade bairrista, sem a expressão e o pitoresco arquitectónico da Casa dos Bicos, mas falador à sua maneira. Ele nos diz que o edifício antes de ser Hospital de S. Luís, pertencera aos «Meios do Cunhal das Bolas», e fora erguido por um judeu, tão rico que «no cunhai pretendera figurar pomos de ouro». Um judeu a copiar as ostentações do filho de Afonso de Albuquerque! Histórias, como muitas desta Lisboa por aí fora, onde a cada canto se aninha uma fábula ou se albergou uma tradição.
Esquina da Rua da Rosa (das Partilhas) com o Cunhal das Bolas [1923] Cunhal revestido de meias esferas em relevo. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Legendas de Lisboa, pp. 138-139
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