Quem melhor do que o próprio Norberto de Araújo, para guiar os nossos passos pelo pitoresco de Alfama. Atentemos na descrição que faz desta Rua da Adiça que «vale um poema popular» e que hoje ostenta e imortaliza o seu nome.
Subamos a Adiça. Aí temos um dos mais contemplativos
recantos da Alfama. Nunca mais, até chegarmos ao fim da jornada,
deixaremos de ver roupas estendidas às janelas, num alarde de pobreza ou
de mediania resignada, conforme se trate de um beco ou de uma rua,
feita «avenida» de um sítio. Aqui o estendal conjuga-se no fundo velho,
ao alto, do casarão do Limoeiro; hás-de anotar apontamentos de aguarela
ou de água forte por toda esta Alfama, sem que eu vá precisando de te
tocar no braço. [...]
A artéria, larga no seu princípio, sobe em
ladeira, que a artéria, larga no seu princípio, sobe em ladeira, que
agora entra em curva: o rapazio enxameia como zângãos fugidos do
cortiço. Olha a alegria desses quintais velhos, floridos em muros a
cair! [...]
Esta Adiça vale um poema popular.
Rua da Adiça [1946] No cimo, à esquerda do prédio com o nº 68 [actual Calçada de São João da Praça], sobe a actual Rua Norberto de Araújo; à direita do mesmo, encontramos o Beco das Canas Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente |
Para alguns historiadores "adiça" significa "mina" que por ali
existiu aquando da tomada de Lisboa aos Mouros; outros referem que é
vocábulo árabe, "Addica", nome de certa espécie de "junco" comestível para
os cavalos e utilizável para a cordoaria.
O topónimo Rua da
Adiça foi recuperado pela Câmara Municipal de Lisboa através de Edital
datado de 22/06/1956. A Rua da Adiça passara a Calçada de S. João da
Praça, por deliberação e edital da C.M.L., respectivamente de 10 e
19/04/1893. Por Edital de 22/06/1956, a Calçada de São João da Praça
desde o seu início até aos n.ºs 51 e 68 (inclusive) voltou a
denominar-se Rua da Adiça, passando o restante troço até ao Largo das Portas do Sol, a denominar-se Rua Norberto de Araújo.
Rua da Adiça [1945] Ao cimo, a Calçada de São João da Praça Fernando Martinez Pozal, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, p. 50, 1939.
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